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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 22 A 28 DE AGOSTO DE 2013
POLÊMICA
P
G
4
OBESIDADE INFANTIL
Pais sem tempo, crianças mais gordas
Com cada vez menos tempo de acompanhar o desenvolvimento dos filhos, pais acabam deixando de lado os bons hábitos alimentares.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
MT é o pior Estado do
País em amamentação
Muito embora tenham sido observados no
Brasil avanços na prática da amamentação nos
últimos anos, sua manutenção exclusiva ainda está
longe do esperado. Mato Grosso ainda lidera os
estados com o pior índice de amamentação. Para
se ter uma ideia, em 1999, em Cuiabá, apenas
17,7% dos bebês com até 4 meses de idade
recebiam aleitamento exclusivo, a menor taxa
comparando-se as capitais e o Distrito Federal.
Diante dessa situação, algumas ações foram
desenvolvidas para reverter o quadro. Apesar dos
esforços, a capital do Estado subiu apenas três
posições no ranking de aleitamento materno.
O grande impacto no problema da obesidade
infantil é que o aleitamento materno é a principal
ferramenta na prevenção da doença. A inserção
antecipada de outros alimentos ou mesmo líquidos
na dieta da criança, em conjunto com a retirada da
amamentação, forma o cenário negativo.
“As mães aqui no Estado acabam pensando
que por conta do calor devem dar água ou chás
para as crianças. Até os seis meses a amamentação
exclusiva é extremamente necessária e depois disso
até no mínimo dois anos”, afirma o pediatra José
Rubens.
Já no caso de a criança estar com sobrepeso,
a primeira atitude é rever os hábitos alimentares e
incentivar a prática de exercícios. Para a
nutricionista Gabrieli Comachio, a cobrança
excessiva da criança para a perda de peso pose
resultar em mais problemas.
“Fazer dietas restritivas em criança não é
recomendado e pode criar traumas que ela vai
levar para a vida toda em relação a comida e
peso corporal. A família tem que ajudar. Muitas
vezes a criança é obesa porque não tem limites na
criação, a família é obesa ou trabalha muito e
tenta suprir a falta de presença física com comida”,
explica a nutricionista.
Escolas dão o bom exemplo
Após a identificação
de várias crianças acima
do peso, a diretora Inês
Ehrenbrienk, da Escola
Municipal Professora
Joana Dark da Silva,
retomou os trabalhos da
horta na instituição. “A
horta acabou ficando
parada por um período
por falta de verba, mas
neste ano nós
conseguimos retomar os
trabalhos”, explica.
A instituição, que
contempla 407 alunos de
4 a 8 anos, vem tendo
grandes avanços com o
trabalho multidisciplinar
realizado junto ao projeto.
Após a participação
efetiva das crianças na
rotina da horta, a
mudança de hábitos
alimentares foi
extremamente importante.
“Aqui nós ensinamos
as crianças a comer de
maneira saudável. Há
algum tempo nós pedimos
para os pais não
mandarem mais o lanche
das crianças para elas
aprenderem de fato a
importância da boa
alimentação. E os
resultados já estão
aparecendo”, enfatiza.
O espaço, que antes
do projeto representava
um problema para a
instituição, já que era um
terreno baldio, cheio de
insetos peçonhentos, hoje
é motivo de orgulho e
muita educação.
Para a professora Ana
Cristina Souza, que
acompanha a rotina das
crianças junto à horta
todos os dias, a mudança
de hábitos alimentares e o
interesse dos alunos no
desenvolvimento das
plantas são extremamente
surpreendentes e
gratificantes.
“As crianças ficaram
tão interessadas e
aprenderam tanto sobre a
horta que já ensinam os
pais como fazer em casa
para cultivar as hortaliças.
Nós utilizamos toda a
horta para a educação
dos alunos e isto permeia
todas as matérias, como
em Ciências quanto aos
animais da terra,
Matemática no tempo de
crescimento da planta, e
diversas outras”, lembra a
professora. A animação
com o projeto por parte
das crianças é tão grande
que elas cobram
diariamente a visita ao
espaço. “Os alunos
gostam muito de participar
da horta, eles vibram
quando a gente vem para
este espaço. Após o
trabalho na horta, eles
passaram a comer mais
verduras. Esta experiência
é maravilhosa”, sintetiza.
A estudante Jeniffer
Simões de Almeida, 7 anos,
conta que antes não comia
nada de verdura, mas
depois que passou a
participar da horta na
escola, tudo mudou. “Eu
gostava mais de “skini”,
mas é legal cuidar das
plantinhas e agora aprendi
a comer de tudo também”,
conta.
Ter os filhos
gordinhos por décadas
foi o grande objetivo
dos pais, já que todos
pensavam que a criança
rechonchuda era mais
saudável. De certa
forma, havia lógica
nesse conceito. Numa
época em que se lutava
contra a desnutrição e
não existiam antibióticos,
crianças mais nutridas
resistiam mais bem aos
processos infecciosos na
infância.
Hoje, a obesidade
infantil transformou-se
num problema sério de
saúde, numa epidemia
que se alastra e já
atinge parte expressiva
da população nessa
faixa de idade. As
causas são muitas, mas
pesam os hábitos
alimentares baseados no
fastfood
, salgadinhos e
guloseimas e as horas
passadas em frente da
televisão ou jogando
videogame. Outro fator
determinante para o
desenvolvimento da
patologia é a falta de
acompanhamento
familiar na rotina da
criança.
As mães voltam a
trabalhar cada vez mais
cedo, tirando o
aleitamento materno
precocemente, e a
inserção da mamadeira
faz com que a criança se
alimente mais do que o
necessário. Além do que
os leites industrializados
apresentam um teor
calórico muito superior
ao do materno.
Para o pediatra e
ex-presidente da
Sociedade Mato-
grossense de Pediatria
(Somape), José Rubens
do Amaral, a
‘terceirização’ dos
hábitos familiares está
diretamente ligada ao
problema da obesidade
infantil.
“A pior coisa que
pode acontecer a uma
criança é ficar sem o
leite materno. Além das
inúmeras doenças que
são prevenidas pela
amamentação, a criança
passa a comer mais, já
que as mamadeiras
trazem uma facilidade
na sucção. A TV também
estimula a alimentação
destas crianças que
estão engordando
descontroladamente. É
preciso ficar atento
porque a obesidade
infantil vai cobrar um
preço muito alto na vida
adulta”, alerta o médico.
A entrada cada vez
mais precoce das
crianças nas escolas, no
hotelzinho ou creche
também contribui para o
agravamento do
problema. “Muitas vezes
esses estabelecimentos
não estão preparados
para fornecer uma
alimentação adequada.
Outro problema é que a
comida feita para um
grande número de
pessoas às vezes não
atende às necessidades
individuais da criança”,
pondera.
Além da estética
comprometida, o que
interfere diretamente na
autoestima dessas
personalidades em
formação, as patologias
relacionadas à saúde
também são de extrema
gravidade. Junto com o
excesso de peso, as
crianças obesas
apresentam alterações
nos níveis de colesterol,
pré-diabetes, pressão
alta e outras
complicações que
aumentam o risco de
problemas
cardiovasculares.
“O cenário é ainda
mais preocupante.
Segundo pesquisas, até
2050 irá aumentar em
100% o número de casos
de pessoas mortas por
infarto e acidente
vascular cerebral ainda
em idade produtiva. E a
obesidade infantil está
ligada diretamente a
estes problemas”, alerta
José Rubens.
O problema tem se
agravado de tal forma
que alguns países já
adotam medidas
drásticas para combater
a obesidade. Na
Colômbia, em Cuba e
nos Estados Unidos já
estão disponibilizando
uma cesta básica
saudável em postos de
saúde para combater a
obesidade.
Para a obtenção de
um diagnósticode
obesidade infantil, os
médicos fazem cálculos
do Índice de Massa
Corpórea (IMC)
dividindo o peso pela
altura ao quadrado, e
completam os cálculos
utilizando gráficos de
curvas corporais por
Fa l t a de amamen t ação e e s t ímu l o s p r o v ocado s
pe l a t e l e v i s ão co l abo r am pa r a obe s i dade
i n f an t i l , a l e r t a Dr. J o s é Ruben s Za i t une
E s t imu l ado s pe l o t r aba l ho na ho r t a da e s co l a s a s
c r i an ç a s t r o c am o s l an c h e s i ndu s t r i a l i z ado s po r
um bom p r a t o s audá v e l
idade. Resultado acima
de 85% caracteriza
sobrepeso; acima de
95%, obesidade. Abaixo
de 85% indica que a
criança não tem
sobrepeso.
Essa curva não é
igual à dos adultos
porque as crianças
crescem e os números
variam conforme a
idade.
A i n t r odução da s c r i an ça s no cu l t i vo da ho r t a v a i a l ém da con s c i en t i z ação da
a l imen t a ç ão s audá v e l au x i l i ando d i r e t amen t e na v i da e s co l a r
A ne c e s s i dade de
aç ú ca r ou de
d i v e r s i dad e d e
a l imen t o v em do s pa i s ,
a c r i an ç a a i nda não
c onhe c e e s t e s s abo r e s ,
a l e r t a a nu t r i c i on i s t a
Gab r i e l i Coma c h i o
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