CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 23 A 29 DE MAIO DE 2013
SAÚDE
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MPE investiga sucateamento do Samu
Novas viaturas serão adquiridas com recursos federais e devem ser entregues em junho.
Por: Sandra Carvalho e Rita Anibal. Fotos: Pedro Alves e Diego Fredericci
HORA DA MORTE
Na edição 439, a
repórter Mayla Miranda
relatava a morte do
motociclista Maylson
Oliveira pela má
conservação da
ambulância do Serviço
de Atendimento Médico
de Urgência (Samu) e
outras mazelas de
descaso nesse
atendimento. Somando-
se às denúncias feitas
pelos próprios servidores
do Samu em carta
aberta ao governador
Silval e Conselho
Estadual de Saúde além
de todas as ocorrências
relativas ao atendimento
emergencial, o Ministério
Público Estadual (MPE),
através do promotor de
justiça Alexandre
Guedes, instaurou
inquérito para apurar
mais de 30
irregularidades, inclusive
a morte do motociclista.
O promotor se
pronunciou quanto ao
sucateamento do Samu
dizendo que “ a falta de
gestão do Governo do
Estado é tamanha que
sempre há viaturas
encostadas, falta equipe
de trabalho, não tem
equipamentos para
socorrer as vítimas, como
um desfibrilador, por
exemplo”. Guedes
também denuncia que “o
Samu, em todas as
cidades brasileiras é
Prioridades obscuras
A falta de veículos
para o atendimento a
pacientes pelo Samu não é
o único problema do
estado no setor. Cidades
como Canarana, Água
Boa, Querência e Gaúcha
do Norte não possuem
nenhum veículo do IML
(Instituto Médico Legal),
para a realização de
transporte de corpos.
Ainda em Água Boa, a
falta de estrutura é tão
grave que não há Corpo
de Bombeiros, as duas
únicas ambulâncias da
cidade continuam
transitando com doações
de peças e pneus por
fazendeiros, e as poucas
viaturas em trânsito estão
totalmente sucateadas.
Segundo o prefeito do
município, Mauro Rosa
(PPS), a situação da
cidade é bastante
deficitária, principalmente
em relação a atendimento
na saúde. “O problema
da falta do rabecão é
grave, mas aqui nós
precisamos primeiro de
ambulância – a única
viatura disponibilizada
para o Hospital Regional
está quebrada. O governo
tem que levar em conta
que nós estamos a 750 km
da capital e que, no
interior, as condições são
bem piores. Apesar de
inúmeras solicitações,
ainda não tivemos
respostas”, relata o
prefeito.
Enquanto a Prefeitura
continua sem estrutura para
transportar os corpos das
vítimas de mortes violentas,
a funerária local faz todo o
trabalho de transporte,
correndo o risco de não
receber pelos serviços.
De acordo com a
proprietária da funerária,
Lourdes Marasca
Berwanger, ainda existem
dificuldades como as
grandes distâncias que se
tem de percorrer na busca
dos corpos (já que na
região toda não há o
serviço público), receber
ameaças de outras
funerárias não legalizadas,
e o fato de que muitos dos
serviços não são pagos.
“Eu já perdi a conta
de quantas vezes fiquei
sem receber aqui. Por mais
que tentemos ajudar as
famílias, parcelando ou
até mesmo fazendo valores
abaixo da tabela, muitos
deles não têm a menor
condição de arcar com os
custos. Aí nós, empresários,
além de pagar os nossos
impostos em dia, temos
que fazer o papel do
Poder Público. Isto é
realmente uma vergonha”,
desabafou a comerciante.
controlado pelo poder
municipal; só aqui em
Mato Grosso é o Estado
que tem essa função”.
Além da falta de
manutenção nos veículos,
os servidores
denunciaram que os
medicamentos são maus
condicionados ou até
mesmo inexistentes, os
equipamentos utilizados
pelas equipes de socorro
não são reparados o que
pode significar riscos à
saúde de quem os
manuseia. Falta de
higiene e segurança no
trabalho também são
itens que compõem a
denúncia dos servidores.
O descaso é
tamanho que foi preciso
uma pessoa morrer
enquanto aguardava, no
asfalto, a substituição de
uma viatura do Serviço
de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu) que teve
o motor fundido durante
a ação de resgate para o
Governo de Mato Grosso
substituir a frota, já com
prazo de validade
vencido. O motociclista
Mailson Oliveira Alves,
21 anos, perdeu a vida
no início de maio, e o
assunto, que atestou o
sucateamento da saúde
no estado, teve grande
repercussão. Quinze dias
depois o governador
anuncia a renovação da
frota do Samu com
recursos federais.
A precariedade da
frota de atendimento de
urgência não é um fato
novo. Porém, somente
nos primeiros dois anos
de mandato do
governador Silval
Barbosa (PMDB), foram
licitados R$300 milhões
de diárias de aluguéis de
automóveis, conforme
revelou reportagem do
Ci r cu i t o Ma t o Gros so
na edição 437. Os
mesmos R$300 milhões
investidos em diárias de
carros oficiais dariam
para adquirir mais de
2.800 ambulâncias
completas para o
atendimento do Samu.
Com a gestão
exposta, Silval Barbosa
(PMDB) comemora a
informação de que
Ministério da Saúde está
liberando oito novas
ambulâncias para o
Samu de Mato Grosso e
a possibilidade de liberar
mais uma para completar
a renovação de 100% da
frota que atende à
Região Metropolitana.
A intenção do
governo, conforme nota
oficial, é implantar o
serviço Samu-192 em
todos os municípios de
Mato Grosso, mas isto
demanda entendimento
com o governo federal, já
que o Samu é um serviço
compartilhado no
financiamento entre
governo federal, estados
e municípios.”A Secretaria
de Saúde do Estado já
tem o projeto finalizado,
e neste entendimento
estamos buscando o
reforço da Rede de
Urgência do Estado”,
explicou o governador.
Foi preciso um motociclista morrer sem socorro para o governo anunciar a troca da frota
O promotor Alexandre Guedes
é um crítico da gestão da Saúde
Viaturas do Samu ficam mais tempo na oficina que atendendo a população
Família chora a morte de jovem que ficara aguardando resgate
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