CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 11 A 17 DE ABRIL DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 4
CELEBRANDOWSKY
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr.
João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João
Gordo, é um dos publicitários
mais premiados de Cuiabá
BEIJO GAY CAUSA AGRESSÃO
ABCDEF....GLS
Por Menotti Griggi
Menotti Griggi é
geminiano, produtor
cultural e militante incansável da
comunidade LGBTT
O que era para ser uma noite de
confraternização entre amigos e
frequentadores da boate 2ME, em
Camboriú (SC) se transformou em um
caso de polícia com repercussão
nacional. Na semana passada, André
Barbosa, 22 anos, postou uma foto de
como ficou após ser agredido por dois
seguranças a serviço da casa noturna que
pertence ao grupo Green Valley.
Segundo reportagem do jornalista
André Fischer, do site mixbrasil, a vítima
disse que a versão publicada em nota
oficial da casa não é verdadeira: “Eu
nunca tive problema em nenhuma casa
da cidade, sou uma pessoa totalmente
pacífica. Eu não ia arrumar confusão por
conta de uma comanda que deu R$35
reais, aliás, como eu era convidado de
um aniversariante, paguei meia-entrada,
que é de R$70. Eu sou baixinho, tenho
1,60m de altura, dos seguranças que me
agrediram, um tem 1,80m e o outro
1,90m; eu não teria coragem de arrumar
confusão com um segurança desse”,
contou.
“A agressão aconteceu porque eu
beijei outro homem na festa. Um
frequentador que viu nosso beijo chamou
a atenção de um segurança dizendo que
não gostou da cena e aí tudo aconteceu”,
explica o rapaz. “Quem me conhece sabe
que sou tranquilo, que não exponho
minha sexualidade em público e que
tampouco sou pervertido”.
Nesta semana, André vai
acompanhado do irmão advogado ao
Ministério Público para saber o que pode
ser feito no caso dele. Um dos sócios
entrou em contato com André. “Ele queria
marcar uma reunião comigo e com meus
pais, para conversar e oferecer ajuda
com medicamentos. Não fui até a
reunião, já que meu pai comprou todos
os medicamentos”, disse.
Ele afirma ter sido “humilhado” na
frente da boate e que foi “agredido como
um animal”. Sobre sua recuperação,
André disse: “Ainda não dá para saber
como vai ficar meu rosto, já que ele está
inchado e o nariz está quebrado”.
Num país onde vemos tanta
intolerância diariamente, não é
possível mais nos calarmos
diante de tanta ignorância e
violência.
Fico feliz em ver Daniela
Mercury gritar ao mundo seu
amor à sua companheira para
que muitos consigam
compreender as diversas formas
de amar, mas fico extremamente
triste ao ver casos como o de
Santa Catarina em que a
comunidade LGBT não pode
manifestar suas relações
homoafetivas porque “ofende”
quem está à sua volta.
Muda, Brasil!
REFLEXOES
Por Marco Ramos
Marco é numerólogo, advogado
e troca de nome de acordo com a
energia do momento
PRIMAVERA ROSA
Para homenagear as obras da
Copa, estou desejando meu feliz
aniversário a Cuiabá atrasado. Não
tão atrasadas quanto as obras, mas o
que vale aqui é a intenção. Aliás, em
Cuiabá todo mundo só tem intenção.
Intenção de cuidar. Intenção de cobrar.
Intenção de esperar a sua vez. Mas o
trem piorou. Talvez por ter repetidos
governadores e prefeitos que não são
daqui, por ter gente que não goste da
cuiabania ou não entenda o que é
nossa cultura, por gente que só pense
em lucro, profits, dindim. Aliás, aqui
em Cuiabá só se fala em grana.
Ninguém conversa sobre um livro,
aliás, muitos me perguntam: “O que é
um livro? Vende na City Lar?”.
Ninguém fala de música boa, ninguém
fala de arte. Se você não gosta de
sertanejo, bom sujeito não é. Nada de
Mariguella, Castro Alves, nada de Tom
Jobim.
– Tom Choppin tem sim. É lá perto
do antigo Ópera Light. E aí, bora,
fazer o que hoje? – fala Edno, amigo
de longa data.
– Vamos lá no Ducas, jogar uma
sinuca. Te dou duas bolas de frente –
desafio.
– Não tem mais sinuca lá, seu
doidão. Cara mais atrasado. O lance
é o que as mina piram. Tem um posto
de gasolina onde maior galera faz
disputa de quem toca funk mais alto –
fala arrumando seu moicano no
retrovisor.
Que sinuca de bico em que
vivemos aqui! A maioria do povo só se
liga em Michel Teló e na péssima
Cuiabá do presente. Estamos vivemos
uma inversão de valores. Esses dias,
Ivens estava me contando que sua
chácara é famosa porque ele é vizinho
de Fernando e Sorocaba. Se você
comentar com um cuiabano de 20
anos, filho de pessoas radicadas aqui,
o que é cavalhada, vai olhar no fundo
dos seus olhos e dizer que é uma
cidade no sul do Brasil. Claro que é
utopia, afinal essa geração não sabe
nem onde fica um cinema sem antes
procurar no Google. Mas quem viveu
aqui sabe que a cidade não é nem
“avos” do que era num passado nem
tão distante. Pior que vivemos
enraizados no passado. Um passado
que está sumindo na poeira, poeira do
agronegócio, poeira das obras que
não acabam nunca aqui em Cuiabá.
– João, você deve estar
procurando no lugar errado – comenta
Keiko, minha amiga e produtora. –
Existem muitas pessoas que gostam da
nossa cultura, que amam a nossa
cultura e querem, sim, fazer um futuro
melhor.
E não é que é verdade? Aqui em
Cuiabá tem gente que não gosta da
Joelma, acha sertanejo um saco, pensa
em arte como evolução e,
principalmente, como a nova revolução
industrial. Nem lembrava mais que
todo o orçamento da Cultura já está
comprometido com dívidas, pelas
péssimas gestões anteriores. Já
imagino o centro da cidade como o
bairro de Santa Teresa, no Rio, com
ateliês abertos, cultura pairando no ar.
Ver peças que não imitem o estilo do
Liu no Teatro da UFMT, ver um filme do
Bruno Bini e do Amaury Tangará no
Cine Teatro, ver o ônibus-teatro do
Tibanaré bombando nas ruas. Já
visualizo as fotos de Rai e do Banavita
em murais gigantes aéreos.
Noruega, Suécia,
Holanda, Dinamarca,
países de população
majoritariamente
protestante, são hoje os
países com maiores
IDHs do mundo, bem
como os maiores níveis
de escolaridade, mas,
mais ainda, os países
aonde os
homossexuais têm as
maiores garantias e
direitos e vivem de
maneira pacífica,
inseridos na sociedade,
podendo manifestar
publicamente suas
relações, sem qualquer
reação contrária da
sua população. Países
aonde a civilidade e o respeito ao outro é base sólida, aonde
os níveis de violência são baixíssimos, mesmo contra os
homossexuais. Todos esses países, como disse aqui, são de
origem protestante. Curioso é ver aqui no Brasil o segmento
protestante – se é que assim podemos chamá-los em respeito
aos verdadeiros protestantes – se comportar como
fundamentalista, a ala mais radical que tomou o poder e
manifesta sua “ideologia religiosa” com o simples intuito de
atingir poder. As próprias igrejas mais moderadas e que
realmente estão mais focadas em fazer o bem e não em
propagar o ódio e incitar a violência como estes aí têm feito
estão preocupadas e se manifestaram contra. A preocupação
da maior parte da sociedade, que não concorda com este tipo
de liderança, é saber aonde isto vai parar. O que vemos,
acompanhando páginas de redes de relacionamentos sociais
que seguem estes pseudo-religiosos, é a manifestação das
mais diversas formas de violência verbal pelos seus seguidores,
o que poderá se transformar em violência física em breve,
lamentavelmente. Já temos cerca de um homossexual sendo
morto a cada 24 horas no país, isto pelos dados oficiais, fora
os que as famílias não deixam declarar mas têm características
de crimes homofóbicos. Hoje no Brasil se assumir gay, ou
seguidor de religiões pagãs, ou africanas, qualquer uma que
seja diferente do que eles pregam, é rechaçado como se fosse
a pior coisa da face da Terra, correndo o risco de ser
agredido. Brasil, antes um país de sincretismo religioso, aonde
todo mundo fazia sua promessa para um santo e também sua
oferenda para um orixá, está se tornando uma nação de
intolerância religiosa da pior forma possível, totalmente
polarizada. Quem ganha? Ninguém, todos perdem, pois a
violência que pode surgir daí é da pior espécie e pode se
propagar por gerações e gerações. Por outro lado, o
Movimento Gay encontra-se num momento sério em que a
conscientização deste grupo é necessária, bem como a sua
participação efetiva pela luta de seus direitos na sociedade,
afinal são cerca de 10% da população, cerca de 20 milhões
de pessoas, e cada uma dessas tem um pai, uma mãe, um
amigo etc. que a apoia e pode fazer esta frente crescer
substancialmente. Depois de anos de Paradas Gays voltadas
ao “carnaval” e oba-oba, agora é momento de o movimento
realmente agir de maneira séria e responsável para não só
garantir direitos que os igualem a cidadãos comuns, mas
também evitar que haja retrocesso. Está nas mãos dos
organizadores desses eventos abandonar o tom carnavalesco!
Este movimento não só tem lutado pelos direitos dos
homossexuais, mas também por tudo que fere a liberdade, a
democracia, o Estado laico, que garante a liberdade religiosa
de todos, os direitos das mulheres, e agora também o racismo,
pois nem mesmo os negros têm feito isso, mantêm-se calados
diante de tamanha violência por conta das declarações
daquele que se diz “pastor”, Marco Feliciano!
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