CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ,
26 DE JUNHO A 2 DE JULHO
DE 2014
POLÊMICA
P
G
7
LAR DAS CRIANÇAS
OAB exige explicações da Setas
Menores denunciaram maus-tratos dentro da instituição cuja missão é acolher vítimas de violência doméstica
Rafaela Souza
A Ordem dos
Advogados (OAB),
provocada pela
Associação das Famílias e
Vítimas de Violência
(AFVV), entrou com
pedido de esclarecimento
junto à Secretaria de
Cascudos fariam
parte da rotina
O reflexo de maus-
tratos, seja físico ou
psicológico, pode se fazer
presente durante toda a
vida adulta de uma
criança, que deixam de
acreditar na proteção dos
seus responsáveis.
Contudo, essa situação
pode ser agravar
principalmente quando o
mesmo acontece nas
instituições que deveriam
proteger esses menores.
Quanto isso, a psicóloga e
coordenadora do Grupo de
Pesquisa em Psicologia da
Infância (GPPIN), Daniela
Freire, explica que seria
como o mundo
confirmando as
inseguranças da criança.
Em entrevista especial
para o
Circuito Mato
Grosso
,
a pesquisadora
Daniela Freire ressalta a
importância do adulto
durante a formação da
criança até os sete anos de
idade, no qual o ideal é
convivência em ambiente
estável.
“Nesses primeiros
anos é fundamental a
criança conhecer o mundo
da melhor maneira
possível. Mas se ela passa
por algum tipo de
sofrimento físico ou
psicológico, no qual o
adulto distorce a realidade,
ela automaticamente
começa a desenvolver
diversos tipos de
inseguranças que irão
acompanhá-la na vida
adulta”, diz a psicóloga.
O refúgio, então, para
alguns menores que
Falta de proteção compromete futuro
O conselheiro
tutelar que falou ao
Circuito Mato Grosso
relatou que alguns
menores contam que
levam vários socos na
cabeça, os famosos
cascudos, e até
apanham de toalha
molhada dentro do
banheiro.
“Nos últimos
meses esses relatos
têm sido mais
constantes e acredito
que seja pela falta de
capacitação dos novos
monitores que não
sabem lidar com
esses menores que
chegam dentro do Lar
cheios de problemas
sociais e
psicológicos”, diz.
Já uma das
conselheiras afirma
que o principal
problema é que a
instituição está sendo
protegida, pois há
vários Boletins de
Ocorrência (B.O.)
registrados e mesmo
assim nada é feito
para investigar os
casos de maus-tratos.
chegam a passar por
agressões físicas e
psicológicas graves,
abandono, violência
sexual, entre outros, são
as casas-lares e que
muitas vezes acabam se
tornando lares mais do que
temporários das crianças
que não retornam para a
família de origem e nem
conseguem ser adotadas.
Quanto a isso, a
psicóloga Daniela Freire
explica que quando a
criança não recebe a
proteção que precisa do
lugar onde é direcionada
para isso, é como se toda
a visão de um mundo ruim
se confirmasse para ela.
“Conheço muitos
casos de crianças que
preferem ficar morando
no Lar ao invés de voltar
para casa, pois se sentem
mais seguras. Contudo, se
a instituição por acaso
deixa de cumprir seu
papel protetor, o menor
acaba perdendo a
confiança nas pessoas e
fortalece sua tese de que
o mundo é um lugar
ruim”, diz Freire.
Mas para a
pesquisadora, o maior
problema não envolve o
tratamento que o governo
oferece às crianças e sim
o suporte dado à família,
que muitas vezes acaba
ficando desassistida.
“Geralmente a criança
consegue um
encaminhamento, mas a
mãe nem sempre consegue
ajuda. Com isso, a família
continua desestruturada”.
Estado de Trabalho e
Assistência Social (Setas),
ao Lar da Criança e à juíza
titular da 1ª Vara
Especializada da Infância e
Juventude de Cuiabá,
Gleide Bispo, quanto às
denúncias de maus-tratos a
menores que se encontram
internados no Lar da
Criança. A instituição, que
é mantida pela Setas-MT, é
a principal referência de
Mato Grosso para o
acolhimento de crianças
vítimas de violência
doméstica e abandono.
De acordo com a
presidente da Comissão
dos Direitos da Seccional
da OAB-MT, Betsey
Miranda, houve o pedido
de esclarecimento para
esses responsáveis,
contudo as respostas
encaminhadas foram
vazias.
“As denúncias que
estão sendo apresentadas
são consideradas muito
graves e envolvem muitas
pessoas. Por isso fizemos
o pedido de esclarecimento
para os responsáveis, mas
infelizmente recebemos
uma resposta apenas com
cópias da legislação. E leis
nós já conhecemos, mas o
que queremos mesmo é
saber o que de fato
acontece no Lar e que
providências sejam
tomadas”, diz Miranda.
Para a representante
dos direitos humanos, a
intervenção da OAB está
sendo necessária para que
as crianças tenham um
representante para
defendê-las em relação à
violência denunciada no
local.
“Não culpo os
cuidadores que acabaram
de entrar na Instituição,
pois não tiveram
capacitação. Tudo o que
está acontecendo é
responsabilidade da falta de
gestão do governo e isso
deve ser apurado logo, pois
infelizmente não é a
primeira vez que acontece
esse tipo de denúncia
dentro do Lar”, diz.
Como mostrou o
Circuito Mato Grosso
em
sua edição 498, atualmente
o Lar da Criança está
abrigando 85 menores que
estão sob a tutela do
Estado, por estar sofrendo
algum tipo de violência nos
ambientes nos quais
viviam. Mas apesar de todo
trauma em casa, a situação
não muda muito quando
são levadas para o Lar,
pois, de acordo com
conselheiros tutelares, as
principais ações realizadas
nos últimos tempos
envolvem o recolhimento
de crianças que fugiram do
local alegando maus-tratos.
Temendo algum tipo
de perseguição, os
conselheiros preferiram
não se identificar, mas
relataram que as fugas são
semanais e geralmente
engendradas pelo mesmo
grupo. Quando encontram
as crianças, elas estão com
vários hematomas pelo
corpo.
“As fugas sempre
envolvem um grupo de três
a cinco crianças, e o que
mais espanta é que alguns
não têm nem cinco anos de
idade direito. Quando o
Conselho Tutelar as
encontra, geralmente estão
sem sapato, com unhas
grandes, com piolho e com
a pele encardida, mas não é
uma sujeira de criança que
ficou brincando, e sim de
criança abandonada. Além
disso, já encontrei menor
com a bochecha
machucada e lesões pelo
corpo”, diz um dos
conselheiros.
Menores que se encontram sob a guarda do Estado alegam que estão sendo agredidos no Lar da Criança
A advogada Betsey
Miranda, da Comissão de
Direitos Humanos da OAB,
quer esclarecimentos
Conselheiros tutelares têm recebido reclamações
dos internos com frequência
Vítimas de abandono e violência doméstica, crianças são aindamais
prejudicadas ao sofreremmaus-tratos emcasa de acolhimento
A psicóloga Daniela Freire alerta para as
consequências dos maus-tratos