EDIÇÃO IMPRESSA - 474 - page 6

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 6 A 12 DE FEVEREIRODE 2014
POLÊMICA
P
G
6
GÁS NATURAL
Termelétrica é onerosa e inviável
Custos de operação e oferta por outros meios põem em dúvida a necessidade de uma usina produtora de energia a gás
Diego Frederici
Com um dos maiores
potenciais energéticos do
país, Mato Grosso
destaca-se na produção
de energia por meio de
hidrelétricas. Mas nem
sempre foi assim. Na
década de 1990, havia
falta do recurso, que
precisou ser
complementado por meio
da Pantanal Energia,
empresa responsável pela
construção e operação da
termelétrica Mario Covas,
Mato Grosso tem só cinco
postos que oferecem GNV
A implantação do gás
natural veicular (GNV)
como combustível remete
ao início dos anos 1980
no Brasil. O
aperfeiçoamento da
tecnologia e a maior
percepção de que o gás
apresenta um bom custo-
benefício, além de agredir
menos o meio ambiente,
foram conquistas obtidas
pelo setor. As vantagens
em relação aos
combustíveis mais
comuns, entretanto,
parecem não sensibilizar
o poder público e
empresas, tendo em vista
que Mato Grosso tem
apenas cinco postos que
oferecem o produto.
Nelson Soares
Júnior, diretor-executivo
do Sindicato do Comércio
Varejista de Derivados do
Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis do
Estado de Mato Grosso
(Sindipetróleo-MT),
lamenta a descontinuidade
no abastecimento do bem
em Cuiabá. Ele afirma
que o gás natural veicular
é a melhor opção de
combustível em relação à
gasolina e ao etanol, não
apenas no tocante ao
meio ambiente, que sofre
menos com o GNV, como
também no bolso dos
consumidores, mas
lamenta a falta de
estrutura para os
consumidores.
Além de possuir uma
bacia hidrográfica com
potencial de produção
elétrica, Mato Grosso
também pode esconder
uma riqueza já bastante
conhecida na costa do
litoral brasileiro: o
petróleo e o gás natural.
De acordo com o
engenheiro da GNC Brasil
– empresa responsável
por realizar a distribuição
do combustível importado
da Bolívia pela MT Gás,
do Governo do Estado –
Francisco Jammal de
Almeida, a possibilidade
da existência de fontes de
petróleo e gás em solo
mato-grossense ainda está
no campo das
especulações. Contudo, o
especialista do mercado
de gás natural é otimista.
“Temos indícios de
petróleo e gás em Mato
Grosso. São necessários
mais estudos, porém,
devido à proximidade com
a Bolívia e a Amazônia,
acho improvável que elas
não existam. Ela foi
oferecida recentemente
num leilão da Petrobras
inclusive”, diz ele.
O engenheiro se
refere à Bacia do Parecis,
uma das maiores bacias
intracratônicas brasileiras,
situada entre Mato Grosso
e Rondônia, abrangendo
uma área de mais de
500.000 km
2
. Ela foi
oferecida na 12ª Rodada
Estado pode ter jazida de
petróleo e gás natural
de Licitações de Blocos
de Petróleo e Gás Natural,
realizada entre os dias 28
e 29 de novembro de
2013, na cidade do Rio de
Janeiro.
A Agência Nacional
do Petróleo (ANP) afirma
que a necessidade de um
estudo para aferir o
potencial de produção da
bacia pode ter
desestimulado o interesse
de investidores, que não
se interessaram neste
momento pelo negócio.
Entre as
possibilidades de negócios
no Estado, Jammal
destaca que as recentes
descobertas do pré-sal e
de reservas na Patagônia,
Argentina, podem fazer
com Mato Grosso ocupe
a privilegiada condição de
mais importante cliente da
Bolívia. Hoje, os dois
países estão entre os
principais compradores da
commoditie boliviana. Ele
fala também dos usos do
gás, que vão muito além
da produção de energia.
“O gás natural, além
da obtenção de energia
elétrica, pode virar
gasolina, metanol, ser
utilizado na fabricação de
adubos e muitas outras
aplicações”.
Questionado sobre a
queda do consumo de gás
natural no Estado – que
chegou a consumir 1
milhão de metros cúbicos
por mês e que hoje está
em volta de 300 mil – o
engenheiro afirma que
decisões políticas
acabaram prejudicando o
negócio: “Nunca houve
falha técnica. O gás
deixou de ser distribuído
por uma decisão política”.
“Só temos cinco
postos que oferecem
GNV em Mato Grosso.
Por isso, o consumo em
relação à gasolina e ao
álcool é incipiente. Há
descontinuidade de
abastecimento na capital e
faltam empresas que
realizam a instalação da
matriz energética nos
veículos”, diz ele.
Os motoristas que
têm interesse em fazer
com que seus carros
também utilizem o gás
natural precisam seguir
certas normas de
segurança impostas pelo
Inmetro, como a
inspeção regular dos
cilindros que armazenam
o gás. Nesse sentido, o
diretor do Sindipetróleo
aponta uma situação
inusitada: por falta de
empresas especializadas
nesse tipo de serviço,
alguns condutores
precisam ir a outros
Estados apenas para ter
direito ao uso do
combustível.
“Até recentemente,
muitos consumidores
tinham de ir até Campo
Grande apenas para
realizar a inspeção
obrigatória dos cilindros,
como exige o Inmetro”.
Ele pontua também os
altos investimentos
necessários para construir
um posto de combustível
que ofereça o gás natural
veicular, em comparação
com a gasolina e o etanol.
“Num posto
convencional de gasolina
e etanol, há um
investimento em torno de
R$ 60 mil entre o tanque
e a bomba. No caso do
gás, os valores chegam
facilmente a R$ 500 mil”,
diz ele.
em Cuiabá. Entretanto,
para o doutor em
Planejamento Energético e
professor da Universidade
Federal de Mato Grosso
(UFMT) José Marta, esse
tipo de matriz não é mais
necessária nos dias de
hoje.
Segundo ele, a
Pantanal, que num
primeiro instante utilizou
o diesel para produzir
energia, já não é mais
uma opção viável. Marta
compara os custos de
operação do
empreendimento com a
usina hidrelétrica no rio
Manso, o principal
afluente do Cuiabá. O
professor pondera que,
embora o nível de
investimento para
implantação em ambas as
plantas serem similares, a
produção energética por
meio do gás é bem mais
onerosa em relação à
obtida pelas águas dos
rios.
“Hoje a termelétrica
não tem muito sentido,
diferentemente da década
de 1990, quando a
demanda por energia era
mais alta que a oferta.
Sua implantação atendeu
basicamente a
necessidade por esse
recurso e a política do
governo federal da época,
de privatizações”, diz ele.
A planta instalada na
capital tem capacidade
nominal de 480 MW, mais
do que o dobro da usina
de Manso, que pode gerar
até 212 MW. No entanto,
apenas nas horas de pico
a termelétrica costuma
ser acionada, de acordo
com o pesquisador da
UFMT. Todo o gás
natural consumido pela
indústria e pelos veículos
automotores do Estado
chega por meio de um
gasoduto de 648 km que
liga a Pantanal Energia,
proprietária do canal, em
Cuiabá, e a Bolívia, que
produz e vende o
combustível fóssil à
termelétrica e a outras
empresas, como a MT
Gás. A commoditie é uma
das principais moedas
políticas do país da
América do Sul, que tem
em seu território reservas
estimadas em mais de
11,2 trilhões de pés
cúbicos. A informação é
da estatal boliviana
Yacimientos Petrolíferos
Fiscales (YPFB).
O potencial de
produção da Pantanal
Energia corresponde a até
60% da demanda de Mato
Grosso, embora ele não
seja normalmente
utilizado. A hidrelétrica,
que é a principal matriz
do Brasil, supre até 80%
do consumo nacional. Em
épocas de poucas chuvas,
contudo, o Governo
Federal aciona outras
formas de obtenção de
energia, entre elas a de
termelétricas.
José Marta cita a
abundância da produção
energética por meio de
hidrelétricas como
principal argumento para
a inviabilidade do uso da
matriz a gás.
“Mato Grosso produz
hoje o dobro de energia
que consome.
Exportamos esse bem. A
obtenção por meio do gás
demanda altos recursos”,
afirma ele.
A Pantanal Energia começou sua construção em 1998 e em abril do ano seguinte iniciou sua operação comercial
José Marta, Doutor em Planejamento Energético e
professor da UFMT, afirma que custos de geração de
energia a gás são inviáveis
O diretor executivo do
Sindipetróleo MT, Nelson
Soares, lamenta a
instabilidade do
abastecimento
de gás no Estado
Francisco Jammal de Almeida, engenheiro da GNC Brasil,
exalta que o gás natural possui muitas outras utilizações
além da obtenção de energia elétrica
Fotos: Mary Juruna
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