EDIÇÃO IMPRESSA - 453 - page 4

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 15 A 21 DE AGOSTO DE 2013
POLÊMICA
P
G
4
Mais da metade trabalha na capital
MÉDICOS
Médicos reclamam de falta de estrutura no interior e prefeitos alegam que ficam reféns dos profissionais.
Por: Diego Frederici. Fotos: Pedro Alves
Um recente estudo
promovido pelo Conselho
Regional de Medicina do
Estado de São Paulo
(Cremesp) e o Conselho
Federal de Medicina (CFM)
apontou que Mato Grosso
tem 3.919 médicos em
atividade. Desse total, 51%
estão concentrados em
Cuiabá, ou seja, mais da
metade dos profissionais
disponíveis atende só 18% da
população do Estado, com
reflexos negativos no interior.
O quadro também se repete
em outros estados brasileiros,
o que levou o Governo
Federal a lançar o programa
Mais Médicos a fim de atrair
profissionais para o interior
ou mesmo permitir a entrada
de médicos estrangeiros no
país para atender a
demanda. A intenção da
presidente Dilma Rousseff (PT)
divide opiniões.
Para o coordenador
do curso de medicina da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT),
Hélio Borba Moratelli,
deve haver uma
negociação entre os
interessados envolvidos em
aperfeiçoar o programa
Mais Médicos, que
pretende trazer médicos do
exterior para suprir as
deficiências em relação ao
número de especialistas ou
CRMcobra estrutura do Estado para garantir médicos
A endocrinologista
Dalva Alves das Neves,
presidente do Conselho
Regional de Medicina de
Mato Grosso (CRM-MT),
afirmou que salários não
são o único atrativo para
o médico. Para ela,
quando não há
condições favoráveis de
trabalho – como recursos
técnicos– eles acabam
preferindo a segurança
de cidades grandes e
clínicas particulares.
“Alguns locais, como
cidades do interior, não
têm médicos, pois se eles
não têm ferramentas
para exercer seu
trabalho não podem
colocar a vida dos
pacientes em risco.
Várzea Grande no ano
passado passou por
vários problemas devido
à paralisação dos
médicos por falta de
salários. É preciso fazer
um planejamento a
Municípios ficam reféns dos profissionais
Castanheira, a 781 km
de da Capital, no Noroeste
do Estado, faz “das tripas
coração” para pagar seus
médicos, de acordo com a
prefeita Mabel de Fátima
Milanesi. Ela relata que
precisa relevar “muitas
coisas” para manter um
médico na cidade, tendo em
vista que isso onera muito
uma cidade pequena, e que
fica refém desses
profissionais, afirmando que
ter um clínico na cidade é
luxo.
“O salário bruto de um
médico aqui em Castanheira
é de R$ 30 mil. Com os
descontos, fica em torno de
R$ 22 mil. Mesmo assim,
temos que relevar muitas
coisas para mantê-los, como
o fato de saírem da cidade
no horário do almoço,
mesmo estando de plantão.
Médicos de Mato Grosso
por especialidade:
Acupuntura ................................................ 56
Alergia e Imunologia ................................. 10
Anestesiologia ......................................... 196
Angiologia .................................................. 5
Cancerologia ............................................ 34
Cardiologia ............................................ 128
Cirurgia Cardiovascular ............................ 15
Cirurgia de Mão ......................................... 3
Cirurgia de Cabeça e Pescoço ................... 9
Cirurgia do Aparelho Digestivo ................. 19
Cirurgia Geral ......................................... 320
Cirurgia Pediátrica .................................... 15
Cirurgia Plástica ........................................ 42
Cirurgia Torácica ........................................ 5
Cirurgia Vascular ...................................... 36
Cirurgia Médica ...................................... 200
Coloproctologia ....................................... 11
Dermatologia ............................................ 65
Endocrinologia e Metabologia ................. 26
Endoscopia ............................................... 21
Gastroenterologia ..................................... 29
Genética Médica ........................................ 1
Geriatria ................................................... 15
Ginecologia e Obstetrícia ....................... 334
Hematologia e Hemoterapia .................... 14
Homeopatia .............................................. 22
Infectologia ............................................... 22
Mastologia ................................................ 14
Medicina de Família e Comunidade ......... 33
Medicina do Trabalho ............................ 190
Medicina de Tráfego ................................ 83
Medicina Esportiva ...................................... 3
Medicina Física e Reabilitação .................... 3
Medicina Intensiva .................................... 40
Medicina Legal e Perícia Médica .............. 81
Medicina Nuclear ...................................... 10
Medicina Preventiva e Social ....................... 5
Nefrologia ................................................ 21
Neurocirurgia ............................................ 33
Neurologia ................................................ 31
Nutrologia ................................................. 13
Oftalmologia .......................................... 123
Ortopedia e Traumatologia .................... 156
Otorrinolaringologia ................................. 52
Patologia .................................................. 26
Patologia Clínica/Medicina Laboratorial .... 7
Pediatria ................................................. 314
Pneumologia ............................................. 19
Psiquiatria ................................................. 42
Radiologia e Diagnóstico por Imagem ... 114
Radioterapia ............................................... 7
Reumatologia ............................................ 15
Urologia ................................................... 52
curto, médio e longo
prazo”, diz ela.
Sobre o programa
Mais Médicos, que tem a
proposta de trazer
profissionais do exterior
para atuar no interior do
Brasil, a presidente do
CRM faz duras críticas,
apontando problemas
na gestão da saúde.
Dalva afirma que o
órgão não é contra a
vinda deles, desde que
realizem o Revalida –
exame nacional para
revalidação de diplomas
médicos expedidos por
instituições de ensino
superior estrangeiras.
“O CRM não é
contra a vinda de
médicos, mas não
podemos rasgar as leis.
É preciso que eles
realizem o Revalida. Se
o médico vier e tiver
capacidade para fazer
seu trabalho, será muito
bem-vindo. O problema
é que eles estão
enviando médicos e não
infraestrutura, e só isso
não vai resolver”,
sintetiza a representante
do órgão.
Ficamos reféns desses
profissionais. Com pouco
mais de 8.200 habitantes,
fazemos das tripas coração
para manter esse serviço”,
argumenta ela.
Castanheira não é um
caso isolado. Novo Santo
Antônio e Vila Rica, distantes
1.150 e 1.250 km de
Cuiabá respectivamente,
também oferecem salários
nessa faixa. Nem todas,
porém, têm a mesma sorte:
Vila Rica, que faz divisa com
o Pará, no extremo nordeste
de Mato Grosso, passou
2012 inteiro sem médicos,
mesmo com uma população
de 21.302 habitantes,
segundo dados do IBGE.
O estudo do Cremesp
e do CFM detalha os
especialistas e generalistas
(clínico geral) que o Estado
tem (ver tabela). As
especialidades com mais
pessoas atuando são de
ginecologia e obstetrícia
(334), clínico geral (320) e
pediatria (314). Cirurgia
torácica conta com cinco
profissionais e medicina
genética só com um.
Mabel rechaça o
discurso de que cidade do
interior não honra com
seus compromissos
afirmando que os salários
dos médicos da cidade
estão em dia.
“Aqui pagamos
direitinho. Existem
profissionais aqui com mais
de seis anos de atuação em
Castanheira”, pontua.
generalistas disponíveis na
saúde pública brasileira.
Hélio afirma que a
vinda dos médicos não é
problema, e sim a forma
como o governo quer trazê-
los, sem a necessidade de
realizar o exame obrigatório
aos profissionais que se
graduaram em instituições de
ensino do exterior. Mas
defendeu uma posição
moderada, dizendo que o
problema não demanda
“fazer greve” ou “rebeldia
contra”, e criticou a atuação
do Conselho Regional de
Medicina do Estado.
“Sobre o ‘Mais
Médicos’, não somos
favoráveis como está sendo
feita sua implantação.
Defendemos que eles façam
o exame do Revalida. Mas,
na minha opinião, temos que
agir como adultos e
conversarmos. O CRM não
está tendo a posição correta
nesse sentido, de um órgão
controlador e fiscalizador,
pois ele não pode incitar
greves, isso é papel do
sindicato. Está agindo de
maneira errada”, opina ele.
O acadêmico diz que
esse tipo de abordagem já
deu resultados, citando o fato
de o governo ter recuado na
proposta de querer aumentar
o tempo do curso de
medicina, nas instituições de
ensino superior, analisando
que esse tipo de demanda
cabe às escolas discutirem.
Para ele, o caminho para
resolver o impasse deve ser o
da diplomacia, para tentar
convencer os gestores
públicos a mudar suas
políticas.
“Parte dessa discussão
já resultou no recuo do
governo em querer aumentar
o tempo de duração do
curso de medicina. Esse tipo
de decisão cabe às
universidades, pois se a
ciência se aperfeiçoou e
ficou mais complexa, temos
também meios práticos para
se obter conhecimento, como
a internet.
Essa discussão deve ser
diplomática. Precisamos
convencer os gestores
públicos”, relata ele.
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Dalva Alves, presidente do CRM-MT, diz que muitos
hospitais não oferecem condições de trabalho
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