CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 11 A 17 DE JULHO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 7
PARALELO 15
Por Bolívar Figueiredo
DAS ABELHAS AO “PAI DOS POBRES”, FREI OSVALDO
BolívarFigueiredoé jornalistae
artistaplásticoformadoemBrasília,militante
verde e fundador nacional do PV,
sagitariano, calango do cerrado e
assuntadordefatosevarredordepalavras.
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clóvis Mattos
BOCAGE
Ao varrer a história das
abelhas urbanas pacíficas e
nativas do Centro Histórico
da Chapada dos
Guimarães – que comprova
a vocação da região para
a apicultura, e a
consequente preservação
das plantas medicinais e
apis mellifera
–, chego a
mais um entroncamento
histórico chapadense, o
qual denomino o
patrimônio imaterial, tendo
como link as abelhas, que
se aproximaram com a
implantação dos engenhos
no século XVIII. E temos
agora a importância da
colonização alemã na
Chapada, pois a chegada
desta cultura influenciou
diretamente na educação,
saúde, agricultura e no desenvolvimento urbano. Entõ, o
primeiro núcleo de alemães surgiu na Chapada dos
Guimarães no pós-guerra, idos dos anos 40. Os
chucrutes
montaram o núcleo denominado Cajurú, ali
entre o Mirante e o Jamacá, envolvendo famílias dos
Lechener, Lenk, Frank, Gobbi e os Ralf. Todos envolvidos
com a cultura da terra e práticas novas na formação de
hortas e pomares e, claro, na valorização do mel nativo.
Outra fundamental e positiva influência alemã na
formação do perfil da Chapada foi a chegada dos
padres franciscanos, da província alemã de Santa Isabel
de Turigia. Chegaram em 1939, tendo como pároco
residente frei Pedro Holz. Com a criação da prelazia em
1940, foi nomeado administrador apostólico o frei
Wunibaldo, que foi consagrado bispo em 1941 e que
emprestou seu nome à praça central da Chapada.
Até meados da década de 60, ou seja, durante 20
anos os franciscanos contribuíram para o melhoramento
social da Chapada, e sendo o único grupo religioso a
atuar na região, os pioneiros da fé em prol dos humildes.
Um destes religiosos marcou profundamente a
história da Chapada: o frei Osvaldo Braun, que chegou
por aqui em 1942, acompanhado de freiras,
empenhadas em montar o curso primário e o frei
empenhado na assistência médica, com seu
conhecimento prático em farmacologia.
Atendendo numa salinha ao lado da Igreja Matriz, o
missionário carismático utilizava a homeopatia,
mesclando a tradição da flora medicinal alemã e a do
cerradão.
Seu improvisado ambulatório com farmácia, criado
em 1944, viria a se transformar no primeiro hospital da
cidade, o Santo Antônio, fundado em 1950. O frei
Osvaldo, denominado pelo povo “Pai dos Pobres”,
introduziu na cultura do cerrado o teatro de bonecos e
criou o Sindicato de Trabalhadores Rurais. Por 26 anos o
frei se dedicou às obras religiosas e de caridade. Em
1969, foi ordenado diácono, e seguiu sua obra até
1977. O frei veio a falecer na cidade de Furda,
Alemanha, em 8 de janeiro de 1978. Que Deus o tenha!
Entõ. Voltando ao tema abelhas, li recentemente,
num relatório da ONU sobre alimentação, que elas, por
intermédio da polinização, são responsáveis por um terço
de tudo que comemos. Este trabalho é estimado em 153
bilhões de euros, o que resulta em 9,5% da produção
mundial de comida. Porém, e sempre tem um porém,
milhares de colmeias pelo Brasil estão sumindo e sendo
dizimadas. O fenômeno é conhecido como distúrbio do
colapso das colônias, causado pelo uso abusivo do
pesticida da categoria neonicotinoides. O veneno,
utilizado largamente no país, afeta o sistema nervoso das
abelhas e as desorienta, levando-as a morrerem
perdidas de suas colmeias. Ei!, me ajuda aí, Ibama,
fiscalização nestes destruidores. Fui, Saravá, Amém
abelhas e frei Osvaldo.
Manuel Maria de
Barbosa Du
Bocage foi o mais
renomado poeta
português do século XVIII.
Adotou na Nova Arcádia
o pseudônimo de Elmano
Sadino (Elmano é o
anagrama de Manoel e
Sadino é uma alusão ao
rio Sado, que passa na
terra natal do poeta).
Levou uma vida
tumultuosa e intensa, na
qual se incluem decepções
amorosas, revolta contra
as instituições da sua
sociedade, prisões, vícios,
doença e um fim de vida
pobre.
Sua obra pode ser
dividida em poesia satírica, na qual mostrou seu lado
mais irreverente e provocador; poesia bucólica, ainda
bastante influenciada pelo Arcadismo, e poesia lírica pré-
romântica, na qual se concentra o melhor de sua
originalidade e engenho artístico.
“Marília, se em teus olhos atentara,
Do estelífero sólio reluzente,
Ao vil mundo outra vez o onipotente,
O fulminante Júpiter baixara
Se o deus que assanha as Fúrias, te avistara
As mãos de neve, o colo transparente,
Suspirando por ti, do caos ardente
Surgira à luz do dia e te roubara.
Se a ver-te de mais perto o Sol descera,
No aúreo carro veloz dando-te assento,
Até da esquiva Dafne se esquecera.
E se a força igualasse o pensamento
Ó alma da minh’alma eu te of’recera
Com ela a Terra, o Mar e o Firmamento.”
“Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrílego gigante.
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo.
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.”
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