CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 9 A 15 DE MAIO DE 2013
POLÍTICA
P
G
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LOCAÇÃO MILIONÁRIAS
As licitações milionárias para locação de veículos estão longe de solucionar a falta de viaturas oficiais.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Nem ambulâncias nem rabecões...
“Meu filho morreu por
omissão do Estado”. Estas
foram as poucas palavras
que Milena Oliveira Alves
conseguiu proferir durante
o velório do seu filho, o
motociclista Mailson
Oliveira Alves, de 21 anos,
vítima de acidente esta
semana na Avenida Dr.
Meireles, bairro Tijucal, em
Cuiabá. O jovem, que foi
atingido por um caminhão
de porte pequeno,
agonizou na pista por mais
de duas horas até a
chegada de socorro. No
momento do resgate, o
motor da ambulância do
Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu)
fundiu e o veículo não
conseguiu sair do local do
acidente.
Uma segunda
ambulância foi chamada,
mas demorou cerca de 40
minutos para realizar o
atendimento. Mailson
faleceu poucos minutos
após dar entrada no
Pronto-Socorro da Capital.
Este drama vivido pela
vítima e seus familiares
Como o governo
ainda não tem um
controle específico de
localização destes
veículos contratados, não
é possível afirmar em
quais secretarias estariam
lotados. Sabe-se apenas
que a pasta que mais
loca veículos é a
Secretaria de Estado de
Segurança Pública
(Sesp). No entanto, é no
mesmo setor que
aparecem graves
denúncias de falta de
condições de trabalho.
Algumas delegacias têm
Manutenção é feita por meio de doações
apenas uma viatura e
outras, nenhuma. Faltam
veículos de resgate para
salvar vidas e rabecões
para buscar corpos,
quando já não há mais
nada a fazer.
Cidades como
Canarana, Água Boa,
Querência e Gaúcha do
Norte não possuem
nenhum veículo do
Instituto Médico Legal
(IML), por exemplo, para
a realização de
transporte de corpos.
Ainda em Água Boa, a
falta de estrutura é tão
grave que não há Corpo
de Bombeiros, as duas
únicas ambulâncias da
cidade continuam
transitando com doações
de peças e pneus por
fazendeiros, e as poucas
viaturas em trânsito estão
totalmente sucateadas.
Segundo o prefeito do
município, Mauro Rosa
(PPS), a situação é muito
preocupante.
“O problema da
falta do ‘rabecão’ é
grave, mas aqui nós
precisamos primeiro de
ambulância – a única
viatura disponibilizada
para o Hospital Regional
está quebrada. O
governo tem que levar
em conta que nós
estamos a 750 km da
Capital e que, no
interior, as condições são
bem piores. Apesar de
inúmeras solicitações,
ainda não tivemos
respostas”, relata o
prefeito. Enquanto a
Prefeitura continua sem
estrutura para transportar
os corpos das vítimas de
mortes violentas, a
funerária local faz todo o
trabalho de transporte,
correndo o risco de não
receber pelos serviços.
De acordo com a
proprietária da funerária,
Lourdes Marasca
Berwanger, ainda existem
dificuldades como as
grandes distâncias que se
deve percorrer na busca
destes corpos (já que na
região toda não há o
serviço público), receber
ameaças de outras
funerárias não
legalizadas, e o fato de
que muitos dos serviços
não são pagos.
“Eu já perdi a conta
de quantas vezes fiquei
sem receber aqui. Por
mais que tentemos ajudar
as famílias, parcelando
ou até mesmo fazendo
valores abaixo da
tabela, muitos deles não
têm a menor condição de
arcar com os custos. Aí
nós, empresários, além
de pagar os nossos
impostos em dia, temos
que fazer o papel do
Poder Público. Isto é
realmente uma
vergonha”, desabafou a
comerciante.
devido às condições
extremamente precárias das
viaturas do Samu se
contrapõe à locação
milionária de veículos feita
pelo Governo do Estado.
Em dois anos da atual
gestão foram licitados
R$300 milhões em diárias
de automóveis. Nos órgãos
públicos, no entanto, faltam
veículos oficiais inclusive
para os serviços, do básico
ao essencial.
De acordo com
Rosimeire Nery, sogra da
vítima que acompanhou
todo o sofrimento do
genro, as condições do
veículo eram visivelmente
precárias. “Os médicos não
sabiam se atendiam o
Mailson ou se tentavam
consertar a ambulância. Era
um horror de se ver, os
paramédicos suando,
desesperados. Imagina nós
da família, lá, olhando
tudo aquilo. É muita falta
de respeito com a
população”, declara
indignada, dizendo ainda
que por total descaso e
irresponsabilidade do
Poder Público mais uma
família de bem e
trabalhadora é destruída.
Segundo informações
de um servidor que não
quis se identificar por medo
de represálias, do total de
sete ambulâncias da frota
do Samu cinco estão sem
condições de realizar
atendimento. Esses mesmos
veículos são responsáveis
por atender Cuiabá, Várzea
Grande, Poconé, Chapada
dos Guimarães e
adjacências.
Já os veículos locados
pelo Governo do Estado
apara atender a Secretaria
de Saúde, estariam sendo
recolhidos pela empresa
Quality por falta de
pagamento. Ainda segundo
a denúncia feita ao
Circuito Mato Grosso
,
mesmo sem o repasse para
a locadora a SES teria
destinado R$2 milhões para
a pintura da grade da
frente da sede do órgão.
O OUTRO LADO
Francisco Faiad,
secretário de Estado de
Administração (SAD),
garante que locação de
veículos é um sistema viável
por proporcionar facilidade
de gerenciamento da frota
e também por reduzir custos
e agilizar a manutenção –
de responsabilidade da
locadora.
Ele alega, por outro
lado, que o valor licitado
nem sempre reflete o valor
‘consumido’ em diárias e
que geralmente fica bem
abaixo da tomada de
preços.
Com a f r o t a ba i x a e s em manu t enção , a s ambu l ânc i a s
do Samu não aguen t am a demanda e queb r am
“ Tr a t ado como um cão” , d i z Ro s ime i r e Ne r y, s og r a de j ov em mo r t o
depo i s de e spe r a r po r ma i s de 2 ho r as po r a t end imen t o
No i n t e r i o r, f a l t am v e í cu l o s do IML pa r a
bu s ca r co r pos e s e r v i ço é f e i t o po r f une r á r i a s
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