CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 9 A 15 DE MAIO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 6
CADEIRA DE BALANÇO
PPor Carlinhos Alves Corrêa r
Carlinhos é jornalista
e colunista social
MELHOR REMÉDIO
PPor José Augusto F t
ilho
José Augusto é diretor de
teatro e produtor de programas de
variedades
265
Agora o que que é esse????? De
que será???? Não era só “niverxario
de Cuiabá”???? Agora tem de Mato
Grosso também, 265 anos. E foi assim
que no dia 9 de maio de 1748 o rei
D. João V desmembrou o novo
território da Capitania de São Paulo e
assim surgiu esse grande estado. Tão
grande, mas tão grande que todo
mundo quer um pedaço pra si. Todo
mundo quer tirar alguma coisa daqui.
Aliás, como disse um amigo
historiador: “Mato Grosso está para o
Brasil assim como o Brasil já esteve
para Portugal”. Daqui se tira tudo e
manda pra fora, e lá se foi nosso ouro
pelas mãos dos bandeirantes, lá se
foram nossas florestas pelas mãos dos
colonizadores, e assim nossas riquezas
estão se esvaindo. Uma gente que
apareceu por aqui e que tá levando
tudo embora, daqui a pouco esquece
o siriri, esquece o cururu, esquece
Dominguinhas, o Flor Ribeirinha,
aumenta o funk, solta o pagode,
inaugura um novo CTG.
Tentativas pra dividir o estado não
faltam, a ferrovia chegou, vai passar
lá pelo nortão, e Cuiabá ficou a ver
navios, ou melhor, ficou sem ver
nada... De onde estiver, senador
Vuolo tá trissssteeeee disparate.
Querem desintegrar este estado,
querem apagar sua história e sua
cultura, apagar tudo e plantar soja em
cima, apagar tudo e plantar milho,
depois algodão, essa é a cultura que
interessa. Mas vai ter Copa do
Pantanal, vai ser a folia pantaneira do
futebol. Mas parece que essa festa é
pra poucos. Obras paradas,
atrasadas, mas tem muita gente
prosperando com essa Copa: compra
casa, compra apartamento, carro
novo, condomínio de luxo, viaja pro
exterior, manda filho pra Disney,
compra bolsa Louis Vuitton, foto na
coluna social e foda-se obra social,
foda-se mobilidade urbana. Saúde e
educação sempre foram fodidas aqui
mesmo, então foda-se de novo, foda-
se qualquer coisa que venha a
melhorar a vida dessa gente, eu hein,
quero saber de melhorar a minha
vida, mais pra mim, fodam-se vocês.
E é assim que se constrói um estado
próspero, só não sei pra quem.
Talvez sejam necessários mais 265
anos pra gente ver no que deu tudo
isso. O que resta é rezar pra Nossa
Senhora do Pantanal (se é que existe)
ter piedade da gente legítima deste
estado, que tenta fazer cultura,
melhorar a condição de vida do seu
irmão, pra ter mais saúde, mais
educação, mais dignidade. E Mato
Grosso olha mais um ano se passando
e vendo tudo igual, tudo igual não, tá
tudo bem diferente, agora não sobra
nada pra quem é daqui. Esquece o
quebra-torto, a Maria-izabel e o
pequi, pega sua cuia de chimarrão,
bota uma bombacha, planta uma soja
no seu quintal, arrasta um sotaque do
Sul e finge que você também não é
daqui, quem sabe assim sobra alguma
coisa “procê”. “Figa, vôte, cruz, te
esconjuro pau-rodado”.
BECO DO CANDIEIRO
O que hoje tem o nome de Beco do
Candieiro foi a porta de entrada na época da
povoação Cuiabá. O nome, que era luxo por
ser uma rua iluminada, hoje é um lixo no
centro urbano da Capital. Antigamente o beco
era para quem tinha dinheiro, era o corredor
do ouro, e hoje é o corredor de prostituição e
drogas, ambas correndo à solta. É um
verdadeiro confronto com os turistas que
visitam o Centro Histórico, sujo, sem
manutenção, segurança nenhuma, uma
Capital que vai sediar a Copa do Mundo em
2014. No Beco do Candieiro, várias famílias
ilustres não aguentaram o crescimento da
cidade. A maioria vendeu os seus imóveis e
hoje o lembrado beco que estabeleceu o
primeiro comércio cuiabano vive numa fase de
abandono por falta de políticas públicas.
RUA DE BAIXO
Rua que foi a passarela da minha
infância! Esta rua passou por várias trocas de
nome: Rua do Oratório, hoje é a Rua Sete de
Setembro. Está localizada no Centro Histórico
de Cuiabá, na frente da antiga Papelaria
Pepé, que era comandada por Naly. Ali é uma
verdadeira constelação de jovens drogados
fumando o cachimbo da paz. Dá uma tristeza,
medo de trafegar numa rua onde vivi a minha
infância sem segurança nenhuma e um estreito
beco ali existente, subindo para a Rua Ricardo
Franco, tombando como toda a rua para a
memória histórica da cidade, sem manutenção
pelas políticas públicas. Na Rua de Baixo
houve moradores ilustres como Dona Maria de
Arruda Muller, tabelião Dario Rocha, professor
Isaac Póvoas, Frederico Scarcelli, coronel
Antônio Antero Paes de Barros, Tereza Lobo,
desembargador Oscarino Ramos e tantos
outros. Hoje contamos nos dedos as famílias
que ali residem. Conheço apenas dois
moradores: Pedro Barros Brito e dona Ria
Bezerra, que resistiram ao progresso com o
coração e vivem num centro urbano cercado
de urubus.
CUIABÁ VERMELHA
A Luz do Divino Espírito Santo tocou nos
corações de seus devotos na Catedral de São
Bom Jesus. Aconteceu dia 6 o levantamento da
Bandeira do Senhor Divino. Os quatro
costados da cuiabania estão em festa. A
multidão de devotos acompanhou as
bandeiras e insígnias do Divino Espírito Santo,
recepcionados pelo prefeito de Cuiabá,
Mauro Mendes, e pela primeira-dama Virgínia
Mendes, oferecendo a todos os convivas farta
mesa com tradicional “chá com bolo”.
Inovando o protocolo que antes o primeiro dia
da “Bandeira do Divino” saía da antiga
Residência do Governador, de uns tempos
para cá é difícil vermos as aparições dos
mandatórios máximos do Estado e de
algumas autoridades num evento centenário
como este, em solo cuiabano. Boa iniciativa
do prefeito Mauro Mendes de respeitar a fé,
de colocar a tradição de um povo acima de
tudo, principalmente as administrações
públicas que precisam das bênçãos do Divino
Espírito Santo.
AGULHAS DE OURO
Falando de “agulhas de ouro”, já vêm
logo as mestras da alta-costura cuiabana:
Maria Vieira, Oscarlinda Ramos, Elza Dutra,
Zezita Réche, Mariinha e a saudosa Luci
Spinelli. A Capital sempre viveu o seu glamour
dos concursos de misses, posses, casamentos,
debutantes, enfim, eventos requintados que
aumentavam a procura das grandes
costureiras. Numa olhada para a clientela, já
vinha à imaginação a criação do modelito
que caía em cima, sem exagero do clássico,
fino, básico, esporte, a rigor, o que os gostos
exigiam, sem perder o senso do chique e do
elegante. Não importava a estatura do cliente,
o feitio agradava em cheio. Hoje, exageradas,
muitas dondocas abusam de decotes e
grandes bijuterias. Entram no embalo da
moda, mas beiram o ridículo. Jamais
chegarão aos pés de Carmem Miranda e de
Elis Regina, que tinham talento suficiente para
usar o que quisessem. E tinham todos os
holofotes voltados sobre si.