CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 18 A 24 DE ABRIL DE 2013
POLÍTICA
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G
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CALOTE
Sem receber, prefeitos do Médio-Norte fazem protesto fechando portas de hospitais por um dia.
Por: Sandra Carvalho e Rita Aníbal. Fotos: Diego Frederici e reprodução
Hospitais ameaçam fechar as portas
O Governo do
Estado ainda não
cumpriu a promessa de
repassar R$72 milhões
dos quase R$150
milhões que deve aos
municípios mato-
grossenses para
investimento na rede de
atenção básica à saúde
e aos Consórcios de
Saúde para
financiamento da
assistência hospitalar.
Apenas uma parte do
dinheiro chegou às
prefeituras, enquanto os
consórcios não
receberam nada. Por
conta da situação
extrema da falta de
recursos,
administradores de
alguns hospitais do
interior já falam na
possibilidade de fechar
as portas.
Em Diamantino
(188 km ao norte de
Paciente faz “via sacra” e acaba no PS de Cuiabá
Caos no interior
também reflete em VG
Valmir Rodrigues
Pereira, 36 anos, pedreiro,
morador em Nova
Marilândia (251 km da
capital) estava em frente
ao Pronto-Socorro
Municipal de Cuiabá
esperando o micro-ônibus
para levá-lo de volta à
sua cidade. Ele contou que
está doente há mais de
oito meses e que só agora
conseguiu marcar uma
cirurgia na coluna para o
dia 8 de maio. Valmir está
há mais de dois meses
sem trabalhar, tem uma
filha de 8 meses e sua
esposa está gestante do
segundo filho. Tem vivido
de doações de amigos e
parentes.
O pedreiro relatou ao
Circuito Mato Grosso
que em sua cidade quase
não tem médicos e eles
sempre encaminham os
pacientes para Tangará
da Serra (240 km de
Cuiabá), Diamantino (210
km da capital) e Cuiabá.
Na sua primeira consulta,
o médico pediu
encaminhamento para
Tangará da Serra, onde
foi atendido quatro vezes e
conseguiu fazer os exames.
O transporte foi feito com
o veículo da saúde de
Nova Marilândia, mas
precisou comprar todos os
remédios do próprio bolso
por falta no posto da
cidade.
“Quando eu sarar,
acho que terei mais
problemas ainda porque
estou devendo pra muita
gente”, confidenciou
Valmir. A outra
preocupação é com a
esposa que deverá fazer o
parto em Barra do Bugres
(160 km de Cuiabá), pois
o “Hospital dos Padres
(Hospital São João Batista)
de Diamantino está sendo
desativado por falta de
recursos. O pessoal está
todo sem receber o
salário”, diz desolado.
E completou: “Na
minha região a saúde tá
muito ruim. Além do
Hospital dos Padres, em
Diamantino, que está
quase fechando, o
Hospital de Arenápolis
(255 km de Cuiabá) nem
convênio tem mais!”,
desabafou. “Pra vocês
verem como que estão as
coisas: até nós que não
temos estudo, já sabemos
que o governo não está
mandando dinheiro pras
prefeituras. A saúde no
Mato Grosso já não presta
e agora o Silval não
paga... é pra matar os
pobres mesmo!”, concluiu
Valmir.
Dona Maria Teresa
Jacó é uma aposentada,
mas ainda precisa
trabalhar como
empregada doméstica
para ajudar nas despesas
de casa. Seu marido
Francisco é jardineiro e
sofreu um Acidente
Vascular Cerebral (AVC) e
precisou parar de
trabalhar.
A reportagem
encontrou a aposentada
no seu retorno ao Pronto-
Socorro de Várzea Grande
(região metropolitana)
depois de sofrer uma
cirurgia no tornozelo por
causa de uma queda na
casa onde trabalhava em
São José do Rio Claro
(320 km de Cuiabá), há
mais de dois meses. Ela
nos relata que em sua
cidade “não tem serviço
de ortopedia e faltam
médicos de várias
especialidades, o Hospital
Municipal está carente de
profissionais: só estão
fazendo o atendimento
básico”. Diz que precisou
comprar os remédios pela
falta na Farmácia Popular
de sua cidade.
“Só consegui vir para
Várzea Grande operar
porque minha patroa
conseguiu o transporte pra
mim. Eu fiquei na fila para
operar da catarata
durante cinco anos. Aí,
por conta própria, vim o
ano passado para Cuiabá
e consegui operar pelo
SUS, antes que eu ficasse
cega”, disse emocionada.
Cuiabá), o hospital
filantrópico São João
Batista vive o drama da
falência financeira. As
freiras que gerenciam a
unidade falam em
fechar o hospital por
não acreditarem mais
no governo estadual.
Elas mantinham vários
convênios que
propiciavam dar saúde
à população, mas o
Estado vem atrasando
demais os pagamentos
e as freiras temem que
seus nomes sejam alvo
de protesto em cartórios
como más pagadoras.
O prefeito está tentando
fazer com que o Estado
encampe o hospital, o
único que atende na
região.
Juviano Lincoln,
prefeito de Diamantino,
conta que em 2013 o
município recebeu verba
da saúde referente aos
três primeiros meses,
mas já obedecendo à
Lei 9.870 que cortou
pela metade os recursos
às prefeituras mesmo
sem ser promulgada. O
decreto-lei do
governador Silval
Barbosa, aprovado na
Assembleia Legislativa,
não tem validade por
não ter passado pela
Comissão Intergestora
Bipartite (CIB), mas ele
a está seguindo assim
mesmo. O Estado alega
que já está se
preparando para
cumprir a lei, pois
acredita que a CIB
assinará referendando-a
em cerca de dois meses.
Sobre a dívida do ano
passado, Lincoln
informa que recebeu
apenas 50% até o
momento.
Na Baixada
Cuiabana, o Hospital
Geral de Poconé é outro
exemplo crítico. A
administração divulgou
nota que desde outubro
de 2012 está
enfrentando problemas
com o recebimento da
verba contratualizada
com o SUS, cujo repasse
é feito pelo Governo do
Estado por meio da
Secretaria de Estado de
Saúde.
Desde então,
diversos foram os
atrasos nos
recebimentos,
culminando, por
conseguinte, com o
atraso no pagamento de
fornecedores,
funcionários e médicos.
“Além dos atrasos nos
repasses estaduais que
somam mais de R$545
mil, ainda temos os
atrasos nos repasses da
prefeitura, que são
destinados ao custeio
dos médicos. Esse
repasse não é feito
desde o mês de
dezembro de 2012”,
relata Rogério Barros de
Siqueira, vice-presidente
do hospital.
Ainda segundo ele,
o atendimento só não
foi suspenso graças ao
dinheiro levantado num
leilão beneficente. “A
sociedade demonstrou
sua generosidade e
solidariedade para com
os que necessitam do
atendimento médico-
hospitalar de nossa
Instituição. Com a renda
do leilão conseguimos
equilibrar as despesas
em atraso junto aos
fornecedores de
medicamentos,
funcionários e
colaboradores”.
Contudo, diante da
não regularização nos
recebimentos, o
acúmulo de débitos
voltou a ocorrer. E a
suspensão dos
atendimentos poderá
ocorrer, haja vista a
inexistência de recursos
para custeio básico de
medicamentos,
suprimentos, alimentos,
bem como em respeito
aos nossos funcionários
e médicos. O hospital já
comunicou a
possibilidade de
fechamento do hospital
à SES, Prefeitura de
Poconé e Ministério
Público Estadual.
Hosp i t a l de Poconé pode pa r a r de a t ende r
popu l ação po r f a l ênc i a ca so não r eceba r epa s s e s
Em D i aman t i no ho s p i t a l t ambém
ameaça f echa r a s po r t a s
O ped r e i r o Va lmi r Rod r i gue s s a i u de Ma r i l ând i a
em bus ca de a t end imen t o em Cu i abá
A apos en t ada Ma r i a Te r e za Jacó , de São Jos é do
R i o Cl a r o , s ó con s egu i u c i r u r g i a em VG
Soc i edade poconeana p r omov eu l e i l ão pa r a a r r ecada r
f undos e a j uda r a d imi nu i r d í v i da do hos p i t a l