CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 14 A 20 DE MARÇO DE 2013
CIDADES
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VÁRZEA GRANDE
Aos 65 anos, cidade ainda vive fantasma do coronelismo e PM é acionada para resolver problemas de gestão municipal.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
População vive entre fogo cruzado
Buracos, poeira, coleta
de lixo precária, falta
d’água e de iluminação
pública e diversos outros
problemas estruturais
marcam a atual situação da
segunda maior cidade do
estado, que ainda é a que
mais registra homicídios na
Baixada Cuiabá. Várzea
Grande, aos 65 anos e com
quase 300 mil habitantes,
agoniza devido às seguidas
más administrações dos seus
recursos. Toda a cidade
está tomada de problemas
que não poupam sequer a
área nobre e central, mas na
periferia, como não poderia
ser diferente, a situação é
ainda pior. No bairro Jardim
Icaraí o ônibus teve de
mudar de rota em diversas
ruas principais por conta das
enormes crateras formadas
no asfalto. Para não perder
de vez o acesso ao
transporte, alguns
moradores se uniram para
tapar alguns buracos.
“Nós aqui estamos ao
deus-dará, eu e meus
vizinhos colocamos diversos
entulhos nos buracos para
ter como andar na rua, já
CHAPADA DOS GUIMARÃES
Prefeito eleito tenta conter turbulência
Abastecimento de água na cidade é um dos grandes problemas a serem enfrentados.
Por: Ademar Andreola. Fotos: Reprodução
Demorou quase dois
meses desde a posse, para
que o atual prefeito de
Chapada dos Guimarães,
José Neves (PSDB), tivesse o
conhecimento da real
situação em que se
encontrava a prefeitura e
colocasse a máquina
administrativa efetivamente
para funcionar.
As turbulências
começaram já no período
eleitoral. O ex-prefeito entre
2004 e 2008, Gilberto Melo
(PR), concorreu sob liminar, já
que teve a candidatura
impugnada por ser
Um dos grandes problemas da cidade refere-
se à captação e distribuição de água na cidade.
Em dias normais os problemas de distribuição de
água são pequenos, mas quando ocorrem
grandes eventos como Festival de Inverno ou
Carnaval, ou mesmo em feriadões, o sistema é
falho. Localizada na Cachoeira Rica, a 11
quilômetros da cidade, a obra do novo sistema
de captação está orçada em R$14 milhões e já
foi licitada. Três empresas participaram da
licitação e uma delas embargou o processo
alegando vícios no edital. Resolvida essa
pendência judicial, o prefeito afirma que pretende
dar a ordem de serviço ainda neste semestre.
Obra na nova ETA
será retomada
enquadrado como ‘ficha
suja’. Foi o mais votado, mas
não diplomado. José Neves,
segundo colocado, assumiu
a vaga.
Seus problemas
começaram antes da posse.
Montou uma equipe de
transição para conhecer a
situação da prefeitura, mas
que praticamente não
trabalhou devido à má
vontade dos secretários em
fornecer informações.
“Assumimos com pouca
informação. Secretarias como
as de Educação, Obras,
Planejamento e o Serviço
Autônomo de Água e Esgotos
(SAAE) não nos passaram
nada”, diz Neves justificando
o início lento de sua
administração. As contas da
prefeitura foram repassadas
no dia 31 de dezembro. No
entanto, a nova
administração só teve acesso
às contas bancárias da
prefeitura em meados de
janeiro, isso graças à boa
vontade do Banco do Brasil,
em abri-las.
Com as contas abertas,
José Neves e sua equipe
descobriram que haviam
‘herdado’ cerca de R$4,5
milhões em restos a pagar. Já
conseguiram pagar no
primeiro mês R$918 mil. O
novo prefeito terá de
trabalhar com um orçamento
que prevê receita de R$34
milhões no ano. Com ela,
terá de pagar os salários
para cerca de 450
funcionários, mais da metade
deles nas secretarias de
Educação e Saúde; custear o
funcionamento da máquina
administrativa e investir o que
restar. Se restar. Porque com
recursos próprios, segundo o
prefeito, pouco poderá ser
feito. A saída será buscar
recursos com os governos
estadual e federal. Uma
conversa nesse sentido já está
sendo agendada para os
próximos dias com o
governador Silval Barbosa.
Como o prédio onde
funciona a prefeitura,
construído há quase 50 anos,
estava em más condições,
precisou passar por uma
reforma, fomentou-se na
cidade o boato de que ela
estava fechada. “As
instalações elétrica, hidráulica
e de telefone estavam
deterioradas. Existiam
goteiras em quase todas as
salas, obrigando-nos a uma
reforma geral”, explica o
prefeito. Sem a reforma,
segundo Neves, havia risco
para servidores que lá
trabalham e ao público que
precisasse ir até a prefeitura.
SAÚDE
foi nesse setor que
enfrentou os maiores
problemas e as principais
críticas. A primeira delas foi
demorar para nomear um
secretário para a pasta.
Neves explicou que antes de
fazer isso, montou uma
comissão formada por ele,
pelo médico Ademir Amorim
e pela enfermeira Maria
Madalena Amorim para
levantar os problemas do
setor. Depois de conhecer
principalmente os do Hospital
Santo Antonio e dos sete
postos de saúde da Família
(PSFs), todos em situação
precária, é que ele nomeou a
enfermeira Maria Madalena
Amorim como secretária de
Saúde. Além disso, o prefeito
tem de resolver a questão da
recontratação de médicos e
servidores que tiveram seus
contratos vencidos em
dezembro e rescindidos antes
pela gestão anterior.
Cidade localizada a 60 quilômetros de Cuiabá é um dos
principais pontos turísticos de MT
José Neves pretende
buscar recursos
estaduais e federais para
tocar a prefeitura
Polêmico e direto o
vereador Pery Taborelli da
Silva Filho (PV), mais
conhecido como Coronel
Taborelli, não hesita em
fazer diversas acusações
contra o atual prefeito
Walace Guimarães (PMDB),
e garante que a cidade de
Várzea Grande vive um
estado de guerra. “Todos
os serviços públicos
municipais não estão sendo
prestados à comunidade”,
afirma o vereador, que
Oposição barulhenta
impõe “estado de sítio”
ainda completou dizendo
que a cidade chegou a este
ponto por conta da
administração fraudulenta e
da incompetência dos
gestores da cidade.
“Eu vejo que nunca
houve oposição em Várzea
Grande, o grupo que
assume mantém seus
apaniguados na
administração para continuar
lesando o patrimônio
público, então qualquer
grupo que vem assumindo,
inclusive este que o prefeito
instalou, lesa o erário
público”, afirma Taborelli. O
vereador também está
ficando bastante conhecido
na Cidade Industrial por
chamar sempre o reforço da
Polícia Militar nas suas
inspeções públicas, sempre
causando muito barulho por
onde passa. Por conta de
suas denúncias estaria
recebendo ameaças, motivo
pelo qual anda armado e
com seguranças.
Contradizendo todas
as acusações feitas pelo
vereador-coronel Pery
Taborelli, o secretário de
Comunicação do
município, Eduardo
Ferreira, garante que as
acusações contra o atual
prefeito Walace
Guimarães são vazias e
que não há como fazer
mágica na administração
pública. “Se ele realmente
tem certeza de que o
prefeito fez todas essas
“Opositor fanfarrão”,
diz secretário
irregularidades, por que
não documenta e leva aos
órgãos fiscalizadores? Para
mim este tipo de acusação
vazia é para quem quer
aparecer”, declarou o
secretário.
O secretário ainda
lembrou que a atual
gestão já conseguiu
realizar mais melhorias nos
dois meses de atuação do
que gestões anteriores. No
dia 06 de março o prefeito
Walace Guimarães
recebeu a boa noticia de
que o governo federal
atendeu sua revindicação
liberando R$417,1 milhões
para a reestruturação do
município, dos quais
R$333 milhões são de
recursos do Orçamento
Geral da União (OGU) a
fundo perdido, ou seja,
não precisam ser pagos e
serão destinados para
obras de saneamento
básico, água e
pavimentação asfáltica.
que a gente liga na
Prefeitura e ninguém vem
arrumar nada por aqui. O
caminhão de lixo passa
quando quer e não temos luz
nos postes aqui à noite”,
contou a auxiliar de cozinha
Joni Guimarães, moradora
do bairro há nove anos, que
ainda completou dizendo
que sempre que chove um
pouco mais forte a sua casa
alaga.
Alguns moradores logo
que viram a reportagem no
bairro fizeram questão de
manifestar a sua indignação,
como a dona de casa
Angélica Silva: “Aqui as
coisas estão a cada dia pior,
eu sempre lavei roupa para
fora para ajudar na renda
aqui em casa, mas agora
não tem mais como
trabalhar, aqui só vem água
duas vezes por semana e
começa a vir às 9 horas,
quando é 11 horas no
máximo não tem mais água
no cano”.
Outros profissionais
liberais também declaram a
dificuldade de atuar na
cidade, como o freteiro
Thiago Rodrigues que afirma
que a situação dos buracos
na cidade já está caótica,
mas não é o principal
problema: “Aqui em Várzea
Grande parece que não tem
prefeito, este povo ganha a
eleição e só pensa em
ganhar dinheiro, não pensa
no povo. Não tem nada que
funciona nesta cidade”,
declarou indignado.
Na área da saúde a
situação é ainda mais
preocupante. A dona de
casa Maria Jesus Almeida,
que sofre de hipertensão, diz
que está há mais de três
semanas sem tomar os
remédios, já que não acha o
medicamento em nenhum
posto de saúde da região
onde mora. “Eu já fui a
vários postinhos aqui perto e
não tem o remédio que eu
preciso; aqui no Jardim
Icaraí o postinho tá sem
médico porque o clínico
entrou de férias e não tem
ninguém no lugar para
atender. Está muito difícil esta
situação; só nesta semana já
passei mal mais de três
vezes”, conta.
Já na área da
educação, as aulas só
voltaram nesta última
semana, por conta da greve
dos professores. A
vendedora Márcia Lisboa,
que é mãe de duas filhas,
uma na creche e outra na
escolinha, diz que perdeu
duas semanas de trabalho
por conta da falta de aulas.
Ruas sem asfalto e esgoto correndo a céu aberto
São comuns animais nas ruas de Várzea Grande
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