CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 14 A 20 DE MARÇO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 4
RITA LEE NÃO MORREU
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr.
João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João
Gordo, é um dos publicitários
mais premiados de Cuiabá
ABCDEF....GLS
Por Menotti Griggi
Menotti Griggi é
geminiano, produtor
cultural e militante incansável da
comunidade LGBTT
UM GOLPE NOS DIREITOS HUMANOS
Para espanto de toda a população
brasileira e articulado com a bancada
radical evangélica, o deputado Marco
Feliciano foi eleito o novo presidente da
Comissão de Direitos Humanos da
Câmara. Depois de uma sessão muito
tumultuada e com inúmeros protestos, o
“pastor” e deputado, conhecido pelas suas
declarações polêmicas, pediu um voto de
confiança e disse que vai mostrar que não é
homofóbico ou racista.
O contraditório Feliciano vai comandar
a comissão do Congresso que tem como
uma das atribuições investigar denúncias de
violações de direitos humanos.
O deputado teve 11 votos em uma
sessão sem a presença de manifestantes,
mas com muita discussão. Seis deputados
não votaram, uma reação contra a escolha
dele.
O deputado Domingos Dutra, do PT
do Maranhão, renunciou à presidência e
não conduziu a eleição do novo presidente
em protesto contra a proibição da entrada
de representantes de movimentos sociais.
Marco Feliciano, que já deu
declarações contra negros e homossexuais,
voltou a negar que seja racista ou
homofóbico. E disse que vai respeitar as
minorias. “Aqui estão em jogo todos os
projetos que beneficiam, protegem, ouvem
as minorias. Isso que vai acontecer”, disse.
Mas alguém acredita nisso?
O deputado e pastor Marco
Feliciano responde a processo no
Supremo Tribunal Federal por
estelionato. Ele é acusado de ter
recebido R$13 mil para realizar
um culto no Rio Grande do Sul
sem ter comparecido.
A pergunta incrédula no
Brasil, onde milhares de pessoas
estão em total manifestação
contra o golpe articulado nesta
eleição, é: como uma pessoa com
este perfil é hoje presidente da
Comissão de Direitos Humanos?
Como uma pessoa que não
respeita a orientação sexual, a
cor, raça e ainda o “ESTADO
LAICO” pode lidar com Direitos
Humanos?
Não há como se calar! É
preciso que a população
brasileira se engaje numa
campanha de ”Acorda Brasil,
Feliciano Fora!”.
Esta semana, nesse micromundo da
internet, li muitos dessa geração Y, de
mulheres alfa, teclando, postando que,
com a morte do Chorão, havia morrido
o último dos rebeldes do rock. Pode
parar por aí: Serguei ainda não
morreu, Marcelo Nova ainda anda
pirando o cabeção, Engenheiros, Titãs,
todo mundo de bengala, mas tão aí na
ativa, Replicantes, Rosa Tatuada, o
povo do Secos e Molhados, a própria
galera da Strauss. Nada contra o
Chorão. Até dancei muito Charlie
Brown Jr. na época do Armazen, mas
vamos falar sério: se o Chorão é
rebelde, Tom Zé é o quê? Precisamos
de mais caetanos, de mais tim maias,
precisamos de muito mais poesia,
precisamos de arte que dure mais que
um frasco de refrigerante oneway. Usar
drogas passa muito longe de ser
rebelde. Deixar mais de 2 mil pessoas
que compraram ingresso sem show
também não é. O que tem de ser
rebelde é a sua arte. Você é aquilo que
você cria. Tá bom, é verdade, o grupo
inovou com reggae e rock, mas ficou
nisso. E só. É o mesmo se Gilberto Gil
fosse lembrado por ser apenas o
primeiro a usar guitarra elétrica num
Festival da Canção, quando
apresentou ao mundo os Mutantes.
Mas Gil foi muito além. E ainda vai. A
arte de um artista deve ser maior do
que tudo. Até maior do que seu ego.
Chorão há muito deixou que seu ego
tomasse conta dele mesmo, numa
verdadeira autofagia.
– João Gordo, lembrei de você
ontem! – grita Maurício Barbant,
fotógrafo e amigo de longa data.
– Ave-Maria, por que Barbant?
– Cara, aquele Chorão morreu e
você é a cara dele! Ainda mais gordo
do jeito que tu anda!
Toc. Toc. Toc. Deixa eu isolar na
madeira. Não foi a primeira pessoa
que me acha parecido com ele. Nos
meus anos de Inglaterra, todos
comentavam a semelhança. Uma vez o
Charlie Brown Jr. estava em Londres
para um show e deram cocaína para o
Chorão.
Ele ficou três dias trancado no
quarto do hotel, sem atender nem abrir
a porta pra ninguém. Eu era o designer
do evento e vendi mais de 500
ingressos para o concerto, um lindo e
famoso teatro onde Rolling Stones e
Beatles haviam tocado no início de
carreira. Lembro do panfleto até hoje:
era branco, com um Big Ben de cabeça
para baixo, escrito “o show que vai
virar Londres de ponta-cabeça, no The
Forum, em Camden Town”.
– Pega ele, pega ele! – gritava a
multidão ao me ver entrar de fininho
num táxi.
– Manor House, please. Fast! Fast!
Fast!
Não sei se não gostava dele por
ser parecido com ele, por ter
acontecido o calote ou por ter gasto
50 libras na corrida do táxi. O certo é
que ele faz parte, de algum modo, da
minha vida. O certo é que ele tem seu
espaço, sim, no pop rock nacional. É
certo que suas músicas ainda ficarão
alguns anos em cartaz. Mas temos que
ter mais respeito com os verdadeiros
rebeldes do rock nacional: Rita Lee
ainda está viva, pô!