CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 28 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2013
CIDADES
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FLANELINHAS
Passados vários anos, a Praça Popular continua quase igual. Apenas uma diferença: aumentou o número de “guardadores de
carros” que consomem drogas.
Por: Rita Aníbal. Fotos: Pedro Alves
“Pedágio branco” na Praça Popular
Quem passa pela
Praça Popular e vê
inocentes crianças
brincando, pais
passeando com os filhos,
não imagina o que se
esconde por trás dessa
imagem bucólica. Na
madrugada, acontecem
fatos das mais variadas
causas, principalmente
pelo consumo de álcool e
drogas. Convivem em
aparente harmonia os
“guardadores de carros”
que em sua maioria
cobram trocados dos
motoristas para sustentar
o vício do crack e os
frequentadores dos bares
da praça.
I.C.L., morador nas
imediações, acha “um
absurdo” uma visita ter
de pagar para ir ao seu
apartamento. “Se chamo
alguém para vir em casa,
aviso que a pessoa que
terá de pagar os
flanelinhas, senão eles
danificam o carro. Isso
não tem cabimento!”. Ele
relata ainda que
presencia as rondas
policiais, mas basta as
viaturas saírem que eles
PM diz que foco é traficante
O comandante do
10º Batalhão da Polícia
Militar, coronel Mendes,
afirma que faz um
policiamento mais
ostensivo em sete praças
da região central, sendo
que, durante o dia, é
feito por policiais de
motocicletas e, à noite,
por duas viaturas. “Se
tivéssemos um efetivo
maior, maior seria a
presença de policiais”.
Ele confirma que o
“câncer” da Praça
Popular são os
flanelinhas ou
“drogaditos”. “Nosso
objetivo não é prender o
usuário e, sim, combater
o traficante”, explica o
coronel. Segundo ele, se
existe consumidor, há
vendedor e isso se
comprova nos arredores
da praça; esse vendedor
não é o traficante, alvo
da polícia. “Caso algum
cidadão se deparar com
essa venda ilegal, basta
denunciar anonimamente
que terá a pronta ação
da Polícia Militar”,
orientou o coronel.
Ele ressaltou também
que o consumo de
drogas na Praça Popular
“é menor que atrás da
Rodoviária, onde se
concentram muito mais
drogados”.
Internação compulsória é último recurso
A internação
compulsória de dependentes
químicos, adotada este ano
pelo governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin,
para reduzir o número de
“cracolândias” na cidade,
seria praticada há mais de
três anos no Estado de Mato
Grosso, desde que o juiz
Mário Roberto Kono de
Oliveira, titular do Juizado
Especial Criminal Unificado
da Comarca de Cuiabá,
buscou um espaço na
legislação para atender a
famílias e dependentes.
Porém, a medida só é
adotada em último caso, de
acordo com o secretário
adjunto de Justiça e
Direitos Humanos, Genilto
Nogueira. “Praticamos a
internação compulsória
somente quando o
dependente coloca em
risco a sua própria vida ou
a de pessoas próximas”,
explica.
Essa internação
ocorre depois que o
dependente passa por
uma equipe multidisciplinar
e, após o diagnóstico, é
encaminhado pedido
judicial para tratamento.
Atualmente o Estado conta
com mais de 50 pacientes
em internação
compulsória.
“É possível vencer”
No início de
fevereiro a Prefeitura
de Cuiabá aderiu ao
programa do
governo federal
“Crack, é possível
vencer”. Este
programa unifica a
participação de
entidades ligadas a
políticas públicas de
prevenção,
tratamento e
reinserção social do
usuário de crack e outras
drogas.
Genilto Nogueira diz
que a secretaria presta
assistência aos
dependentes de álcool e
outras drogas através do
Programa de Internação
Voluntária em
Comunidades
Terapêuticas e através
de atendimento em
regime de internação
voltado à
desintoxicação
masculino adulto,
realizado pela Ciaps
Adauto Botelho/SES.
Atualmente, todos os
programas no estado
atendem às
dependências de
álcool, cocaína, crack,
maconha e outras
drogas.
Cadastro de flanelinhas
Em 2010 a Polícia Civil
deu início ao cadastramento
de flanelinhas que,
espalhados pelas ruas,
cobram taxas para fazer a
segurança dos veículos. A
iniciativa, pelo visto, não foi
adiante porque os casos de
roubos e furtos continuam
ocorrendo.
Na época, os agentes
da polícia percorreram
diversos pontos de Cuiabá
recolhendo os praticantes
dessa atividade e coletando
os nomes, endereços,
número de documentos e
fotos de cada um deles,
para futuras identificações.
Apesar de a atividade não
ser regularizada e
reconhecida como uma
profissão, é praticada por
muitas pessoas,
principalmente menores de
idade.
voltam a cobrar “um
pedágio branco” com a
finalidade de comprar
drogas. “Na madrugada,
quando estão mais
alterados, o perigo
aumenta caso não
recebam dinheiro dos
proprietários dos carros”.
Essas ameaças aos
frequentadores e
moradores são
confirmadas por garçons
dos barzinhos e clientes
da Praça Popular.
A mãe de um
garotinho de 3 anos
revela: “De dia aqui é
uma maravilha para
trazer as crianças para
brincarem mas, à noite,
não me arrisco a vir aqui
com meu filho”.
Moradora no entorno da
praça, conta que já viu
muitas brigas entre os
flanelinhas, inclusive
assaltando pessoas. “Eles
usam a droga e ficam
muito agressivos”,
desabafa.
M.N.M., 39 anos,
contadora, já presenciou
o consumo de drogas na
praça. “Nunca vi um
policial por aqui, até já
vi um assalto!”. Seu
amigo J.P., 32 anos,
empresário, só viu jovens
fumando maconha na
madrugada e muita
bagunça entre os
flanelinhas.
Funcionários dos
estacionamentos próximos
à praça confirmam o uso
de drogas por parte dos
“guardadores de carros”.
Há 9 anos na praça, S.A.
R., 29 anos, trabalha em
um estacionamento e
sempre encontra material
usado para consumir
crack como latinhas
adaptadas e cachimbos.
Ele sempre vê a PM fazer
ronda, o que lhe dá mais
segurança.
“Esta situação está
ficando cada vez mais
complicada. Eles coagem
mesmo os clientes que
acabam às vezes indo
embora antes de descer
para consumir,
principalmente se é
mulher com filhos. Nós já
sentimos uma queda
brusca no movimento
nesses últimos dois meses.
Já liguei diversas vezes na
polícia e nada é feito.
Outro grande problema é
que eles usam drogas na
frente de todo mundo
aqui. É só você ficar meia
hora na praça que você
vê a cena. O grande
problema é que brigar
com eles ou pedir para
que deixem o local é
bobagem, porque eles
quebram carros mesmo”,
disse indignado o
empresário Diego
Teixeira.
O comerciante Julio
Cesar Tomazini concorda
que o número de
frequentadores no local
reduziu-se por conta da
presença dos flanelinhas.
“Esta situação já é um
grande problema,
principalmente no meu
caso que atendo mais
famílias.
As pessoas acabam
ficando com medo e não
vêm. Todas as noites
quando eu vou fechar eu
preciso esconder TV,
frigobar ou qualquer
coisa que chame a
atenção, porque se não
eles roubam tudo. Eu
tenho outra sorveteria na
Avenida do CPA que já
foi assaltada duas vezes
desde janeiro e lá
também há uma grande
concentração de
flanelinhas. Não sei mais
o que podemos fazer,
porque já liguei para a
polícia, para a prefeitura,
mas nada é resolvido”.
Os usuários de droga coagem os frequentadores da praça a dar gorjeta para que “cuidem” dos carros
Os dependentes químicos circulam pela praça
em meio a crianças e idosos e usam a droga sem se intimidar
A presença dos usuários de droga dissemina medo entre
moradores e frequentadores da Praça Popular
Para visitar moradores da Praça Popular,
condutores têm de pagar pedágio