CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 28 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 4
APENAS MAIS UM
PAU DE ARARA PARA A CHAPADA
CALDO CULTURAL
Por João Manteufel Jr.
João Carlos Manteufel,
mais conhecido como João
Gordo, é um dos publicitários
mais premiados de Cuiabá
REFLEXOES
Por Marco Ramos
Marco é numerólogo, advogado
e troca de nome de acordo com a
energia do momento
Poucas cidades no mundo têm um
paraíso como a Chapada dos
Guimarães, tão próximo, quase no
quintal da cidade. Em qualquer lugar
mais civilizado este seria um local
muito organizado com uma
infraestrutura de acesso excelente,
tanto de estradas como de transporte
público, o que geraria dividendos
enormes. Domingo passado optei por
subir para aquele paraíso de ônibus e
o que seria uma opção “inteligente” e
sensata foi uma aventura e uma
lástima. Olhando para a estrada
atual, toda esburacada, vemos a cada
quilômetro um carro parado com seu
pneu cortado ou até mesmo rodas
quebradas, diante do abandono em
que este acesso ao paraíso se
encontra. Uma irresponsabilidade do
poder público que tem gerado
inúmeros acidentes. Só no domingo
passado contei mais de 10 veículos
em apenas um trecho. Não tive
paciência de contar por toda a
viagem. Quanto ao ônibus,
lamentável! O que nos é oferecido é
um “pau de arara”, um circular, que
nem mesmo as cidades mais pobres
usam mais. Mas aqui é utilizado para
transportar passageiros de uma cidade
para outra, e pior: para uma cidade
que deveria ser turística. Ao entrar, me
perguntei: o que será de nós quando
o turista vir esta realidade?! Me senti
mal, envergonhado, irritado e
desrespeitado pelas empresas que
fazem este trecho. Ou seja, um lixo de
transporte! Um verdadeiro desrespeito!
E parece que nada vai mudar, pois
pelas bocas de matilde o que se ouve
é que estas empresas vão continuar a
“explorar ” a linha, mas explorar mal e
porcamente. É vergonhoso ver que o
poder público não mexe nesta ferida,
não se movimenta para mudar esta
realidade. Os próprios motoristas
destas empresas reclamam, e
reclamam muito das condições de
trabalho, que envolvem um ônibus que
não teria as mínimas condições de
transportar sequer porcos! O resultado
está aí: quem opta por deixar o carro
e tentar um meio de transporte público
se depara com a pocilga ambulante!
E, para piorar, estas empresas não
oferecem horários à noite, pois o
último sai às 19h, o que isola mais
ainda a cidade, e também não
permitem que outra empresa faça o
trecho até Campo Verde e Primavera
do Leste, o que poderia gerar mais
passageiros e viabilizar mais o
negócio. Mas existe aí o pensamento
burro tentando manter a todo custo o
“monopólio” da linha. Só para terem
uma ideia, meus leitores, caso
queiram ir a Campo Verde de ônibus,
terão de fazer a viagem por outra
empresa que vai no sentido Serra de
São Vicente e dá a volta até chegar
lá, por um caminho mais longo. Isso
só para preservar o monopólio destas
duas empresas incompetentes na
exploração deste paraíso. Mas isso, é
claro, é avalizado pelo poder público
que não tomou nenhuma medida para
mudar esta péssima realidade. Daqui
a um ano o turista vai ter de pegar
estes paus de arara para conhecer um
dos lugares mais belos do país, e
iremos passar vergonha! Parabéns,
Mato Grosso, ou melhor, “Mato
Grosso é Lindo!”, como diz o jargão
da mídia do Estado!
Meu nome é João. Mas pode me
chamar de José, Antonio ou tantos outros
mil. Sou apenas mais um, na violentada
pátria amada e idolatrada chamada Brasil.
Violência que vem de tempos, desde
quando Cabral nos descobriu guiado pelos
poderes dos ventos, e com bandeirantes,
igreja, gripe e descontento, massacrou aqui
uma nação.
Nação. Nação formada por xavantes,
xingus, txucarramães, morubixabas
insolentes perante o fogo dos jesuítas. Que
pela força ou pela inocência trocaram a
beleza por espelhos e a liberdade pelo
perdão. Perdão. Palavra que assola a
cidadania, nos povoando com ladrões,
escravizando irmãos, deixando a terra da
vida vazia. Capitanias hereditárias,
feudalismo, senzala, covardia. Exploração
de ouro, diamantes, pau-brasil, a favor da
diabólica monarquia, que despertaram o
desejo de independência ou morte. Como
Dom Pedro e muitos outros anjos diriam,
acabaram com as riquezas, mas não
acabaram com a nossa esperança e
alegria. Alegria que não durou muito
tempo. Veio a república, Getúlio, Juscelino,
o golpe militar, a tal da Guerra Fria. E o
Brasil ainda não era nada daquilo que a
gente queria. Plano Funaro, os dois
Fernandos, a esperança venceu o medo, e
o barbudo, quem diria, transformou nosso
país em refém da hipocrisia. Hipocrisia que
apodrece todas as instâncias, Granja do
Torto, Piratini ou Casa Branca, onde a
insanidade se confunde com o próprio
medo, onde números, grades e códigos
escondem os mais negros segredos,
segredos que regem o mundo como uma
divina comédia, recheada de amargos
temperos. Mundo, planeta água, planeta
terra. Mundo que nos fornece matéria-
prima e agora tenta se livrar do câncer,
com tsunamis, secas na Amazônia, Katrinas.
Efeito da produção em massa, da
burguesia minoria, do relógio Rolex, casaco
de pele, terno Armani, sorriso perfeito, com
combustível cocaína, vendendo indultos em
todas as esquinas, sustentando o caos à
base da anarquia, onde na favela
traficantes são deuses e no asfalto, o
calmante da família. Anarquia do medo,
anarquia da fome, anarquia do fim. Onde
carros blindados são vítimas de si mesmos,
com secretárias prostitutas e mulheres cheias
de joias nos dedos, sustentando o morro
com o vício que domina, olhando o
moleque na rua, fome no prato, a noite
vazia. Deixando pro resto apenas o
desdém. Sou esse menino e meu nome é
João. Mas podem me chamar de Zé. Zé
ninguém.
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