CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2013
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Gasto de R$ 72 milhões em um ano
COMBUSTÍVEL
Gastos do Governo de Mato Grosso em um ano com combustível daria para realizar 700 voltas em torno do globo terrestre.
Por Sandra Carvalho. Fotos: Pedro Alves
Os gastos com
abastecimento de
veículos oficiais do
Governo do Estado
subiram de R$54
milhões para R$72
milhões em um ano, o
que significa um custo a
mais de R$18 milhões
aos cofres públicos. Este
disparate estaria
ocorrendo não só por
conta dos reajustes e
aumento de consumo,
mas porque o
governador Silval
Barbosa (PMDB) decidiu
deixar de comprar da
Petrobrás – direto da
fonte – para contratar
uma rede de postos
local. Pela lógica, isso
significa pagar mais
caro pelo produto, já
que a rede mato-
grossense de
combustíveis compra da
Petrobrás para revender
para o Estado. Além do
que, Silval Barbosa
estaria preterindo a
Petrobrás em que pese
seu partido ser aliado
do governo Dilma
Rousseff.
A Petrobrás era a
grande fornecedora de
combustíveis para os
órgãos públicos
estaduais no governo de
Blairo Maggi, que
inclusive construiu um
posto para
abastecimento exclusivo
da frota, localizado na
área do Centro Político
e Administrativo (CPA),
onde está reunida a
maioria das repartições
públicas. Essa foi uma
estratégia usada por
Maggi para controlar o
abastecimento e evitar
eventuais fraudes. Um
lacre ajudava a garantir
o rigor. Hoje o posto
está completamente
abandonado. O local é
frequentado por
bêbados e usuários de
droga e também por
animais. Todo
investimento feito com
dinheiro público foi pelo
ralo.
Hoje, no governo
de Silval Barbosa, o
Auto Posto Marmeleiro é
detentor exclusivo do
contrato. São 20
secretarias, 9 autarquias
e fundações e 14 outros
órgãos e centenas de
escritórios espalhados
por todo o estado com
milhares de veículos
oficiais cujo
abastecimento está nas
mãos de uma única
empresa contratada
pelo governo e também
por órgãos como o
Tribunal de Justiça de
Mato Grosso, Ministério
Público, Procuradoria
Geral de Justiça e
Tribunal Regional
Eleitoral (TRE).
Prefeituras de
Com R$18milhões seria possível
construir 1.700 salas de aula
Esse custo “a maior”
de R$ 18 milhões se
iguala ao valor dos
impostos arrecadados
em janeiro de 2013 pela
prefeitura de Barra do
Garças, município
localizado na região do
Araguaia. E se esse
dinheiro sobrasse nos
700 voltas em torno da Terra
O Governo de
Mato Grosso prevê
gastar em um ano
R$72 milhões com
abastecimento dos
veículos oficiais. Com
esse dinheiro é possível
comprar 28,8 milhões
de litros de combustível
tomando como base
um preço médio de
R$2,50 o litro (álcool,
gasolina e diesel). E
com 28,8 milhões de
cofres públicos, daria
para o Governo do
Estado garantir benefícios
diretos à população, com
melhoria incalculável das
condições de vida.
Seria possível, por
exemplo, contratar mais
de 1.768 professores
por um ano, construir
mais de 1.709 salas de
aula equipadas,
contratar mais
de 1.465 policiais por
um ano ou construir mais
de 1.001 casas
populares de 40m².
Também se poderia
construir 436 postos
policiais equipados,
adquirir
293 ambulâncias
equipadas, construir
256 km de redes de
esgoto, construir mais
de 82 postos de saúde
equipados ou mais
de 21 km de
pavimentação de
estradas.
litros daria para um
veículo tipo Fiat Uno
rodar em torno de
280.800.000
quilômetros de estrada
em um ano. Se a
circunferência da Terra
mede cerca de 40 mil
quilômetros, então com
essa quantidade de
litros daria para uma
pessoa dar 700 voltas
no globo terrestre
pilotando um Fiat Uno.
dezenas de municípios do
interior de Mato Grosso
também estão adquirindo
combustível da mesma
rede. Ou seja, deixam de
economizar comprando o
produto direto da fonte
para serem clientes de
revendedores – caso, por
exemplo, de Várzea
Grande, Campo Novo do
Parecis, Sinop e
Araputanga.
Em Cuiabá não é
diferente. A prefeitura
também deixa de investir
em obras e serviços que
poderiam estar
beneficiando diretamente
a população porque
prefere pagar mais caro
pelo litro do combustível,
em que pese o novo
prefeito, Mauro Mendes
(PSB), ser empresário e
saber muito bem que
comprar qualquer produto
de revendedor sai muito
mais caro que direto da
fonte. Nem bem assumiu,
Mendes assinou a
homologação da
licitação - na
modalidade pregão
presencial - vencida pela
empresa Marmeleiro -
no valor aproximado de
R$9 milhões.
Esse desperdício
desnecessário de dinheiro
público é motivo de
muita indignação.
“Enquanto isso, muitas
pessoas estão na porta
dos hospitais sem
atendimento, à mercê da
vontade de políticos que
não estão nem um pouco
comprometidos com as
necessidades do
cidadão”, reclama João
Aparecido de Almeida
Filho, servidor público
estadual, que ficou
abismado ao tomar
conhecimento do fato.
“Queremos saber o
verdadeiro motivo que
levou o Governo a deixar
de comprar da Petrobrás.
Se qualquer um de nós,
simples cidadãos,
preferimos economizar
comprando qualquer
produto pra nosso
consumo direto do
fornecedor, por que
haveria o governador de
preferir pagar mais caro
pelo combustível?”,
questiona Aparecido,
servidor da Secretaria de
Estado de Saúde, que
também abastece seus
veículos nos postos da
revendedora contratada
pela SAD.
O OUTRO LADO
Segundo a
assessoria de imprensa
da SAD, o sistema
implantado por Blairo
Maggi, de
centralizar o
abastecimento
no posto do
Centro
Político,
gerava muitos
gastos. Seria
em torno de
R$300 mil por
ano. E por isso
o atual
governo
decidiu adotar
um novo
sistema. Sobre o controle
do abastecimento dos
veículos oficiais, a
assessoria disse que é
bastante seguro porque
para cada veículo há
uma espécie de cartão
de crédito e que é
bloqueado caso o
condutor tente abastecer
além da quantidade
prevista pelo setor de
origem. Não ficou claro,
porém, por que o
Governo do Estado
deixou de comprar
combustível mais barato
da Petrobrás para
adquirir o produto de
um revendedor.
Segundo
a SAD, o
sistema
implantado
por Blairo
Maggi gerava
muitos
gastos
Combustível adquirido de revendedor fica sempre mais caro e pode gerar grande desperdício
Silval Barbosa dispensou a Petrobrás para
comprar produto de revendedor
Prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes,
segue o mesmo modelo
Posto construído pelo Governo do Estado para centralizar abastecimento está abandonado
Dinheiro investido na obra foi para o ralo
com desativação do posto oficial