CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 31 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
CARTA ABERTA... AOS PODERES - ANTONIN ARTAUD
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clovis Mattos
Anna é doutora em
História, etnógrafa e filatelista.
TERRA BRASILIS
Por Anna Maria Ribeiro Costa
ALDEIA MARACANÃ
E vocês, loucos lúcidos, sifilíticos,
cancerosos, meningíticos crônicos, vocês
são incompreendidos. Há um ponto em
vocês que médico algum jamais entenderá
e é este o ponto, a meu ver, que os salva e
torna augustos, puros e maravilhosos:
vocês estão além da vida, seus males são
desconhecidos pelo homem comum, vocês
ultrapassaram o plano da normalidade e
daí a severidade demonstrada pelos
homens, vocês envenenam sua
tranquilidade, corroem sua estabilidade.
Suas dores irreprimíveis são, em essência,
impossíveis de serem enquadradas em
qualquer estado conhecido, indescritíveis
com palavras. Suas dores repetidas e
fugidias, dores insolúveis, dores fora do
pensamento, dores que não estão no
corpo nem na al
m
a
mas que têm a ver
com ambos
. E eu, que participo dessas
dores, pergunto: quem ousaria dosar
nosso calmante? Em nome de que clareza
superior, almas nossas, nós que estamos
na verdadeira raiz da clareza e do
conhecimento? E isso, pela nossa postura,
pela nossa insistência em sofrer. Nós, a
quem a dor fez viajar por nossas almas em
busca de um lugar mais tranquilo ao qual
pudéssemos nos agarrar, em busca da
estabilidade no sofrimento como os outros
no bem-estar. Não somos loucos, somos
médicos maravilhosos, conhecemos a
dosagem da alma, da sensibilidade, da
medula, do pensamento. Que nos deixem
em paz, que deixem os doentes em paz,
nada pedimos aos homens, só queremos o
alívio das nossas dores. Avaliamos nossas
vidas, sabemos que elas admitem
restrições da parte dos demais e,
principalmente, da nossa parte. Sabemos
a que conclusões, a que renúncias a nós
mesmos, a que paralisias da sutileza nosso
mal nos obriga a cada dia. Por enquanto,
não nos suicidaremos. Esperando que nos
deixem em paz.
Antoine Marie Joseph Artaud,
conhecido como Antonin Artaud
(Marselha, 4 de setembro de 1896
— Paris, 4 de março de 1948) foi
um poeta, ator, escritor, dramaturgo,
roteirista e diretor de teatro francês
de aspirações anarquistas. Ligado
fortemente ao surrealismo, foi
expulso do movimento por ser
contrário à filiação ao Partido
Comunista. Sua obra “O Teatro e seu
Duplo” é um dos principais escritos
sobre a arte do teatro no século XX,
referência de grandes diretores como
Peter Brook, Jerzy Grotowski e
Eugenio Barba. Seus restos mortais
se encontram no Cimetiere de
Marseille, França.
No mundo virtual circulam notícias
da Aldeia Maracanã. Maracanã é uma
palavra tupi-guarani para nomear uma
espécie de papagaio e significa
“semelhante a um maracá”, em alusão
ao gorjeio estridente da ave.
A Aldeia Maracanã não se localiza
na floresta, no cerrado ou no pantanal,
mas em uma área urbana da cidade do
Rio de Janeiro, rodeada de avenidas.
No local emerge um imóvel do século
XIX que acolheu a Companhia Nacional
de Abastecimento, o Serviço de Proteção
ao Índio, o Museu do Índio (1953 a
1977) e a Companhia Brasileira de
Alimentos. Em 1865 o príncipe Ludwig
August de Saxe-Gotha, genro de Dom
Pedro II, doou o espaço ao Império
brasileiro
por conta de sua paixão pelas
ciências naturalistas, exigiu ad eternum,
que o terreno deveria ser utilizado com
finalidade de apoio à causa dos índios
.
O impasse se iniciou há seis anos,
quando 60 índios, de lá para cá,
passaram a morar no antigo museu,
abandonado por mais de 20 anos.
Hoje, a área é requerida pelo
governo municipal para obras de
mobilidade urbana, onde se pretende
construir um estacionamento e um centro
cultural para atender à demanda da
Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos
de 2016, pois se encontra próxima ao
Estádio Mário Filho, mais conhecido por
Maracanã. A situação dos índios, na
iminência de despejo, e do imóvel,
ameaçado de demolição, causou
indignação à população carioca,
estudantes, cientistas sociais, políticos e
artistas, dentre eles Caetano Veloso, que
em versos alertou há tempos que
um
índio descerá de uma estrela colorida,
brilhante, de uma estrela que virá numa
velocidade estonteante e pousará no
coração do hemisfério sul, na América,
num claro instante.
Maracanã é papagaio é bairro é
rua é estádio de futebol é rio que
cruza os bairros cariocas da Tijuca e
São Cristóvão para desaguar nas
águas da Baía da Guanabara,
iguaá-mbara
,
o seio do
mar, em tupi-
guarani.
Desde muito
tempo, o rio
encontra-se
em grande
parte
canalizado,
escondido e
malcheiroso.
Suas águas
turvas jazem
em escuros
caminhos
subterrâneos.
E os índios?
Há mais de
500 anos
resistem...
também na
Aldeia
Maracanã.