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CIRCUITOMATOGROSSO
GERAL
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CUIABÁ, 20 A 26 DEMARÇO DE 2014
SAÚDE PÚBLICA
MT entre os 5 que menos investem
Os piores resultados estão na atenção básica e na distribuição da verba para municípios que estão há meses sem medicamentos
Rafaela Souza
Mato Grosso está
entre os cinco estados
que menos investem em
saúde. Diagnóstico do
que a população já sente
no dia a dia foi
comprovado pelo
Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística
A Secretaria de
Saúde de Estado de
Saúde (SES) afirmou
que o Governo de
Mato Grosso cumpre
o índice constitucional
de investimentos em
saúde de 12% de sua
arrecadação de
impostos, e até investe
um pouco acima desse
valor para ações
emergenciais. E ainda
há o investimento de
10% da União e 15%
dos municípios.
Já em relação ao
elevador do Pronto-
Socor ro, a
assessoria da
Secretaria Municipal
de Saúde (SMS)
reconheceu que há
um problema crônico
nos dois elevadores
do prédio, mas que o
último problema
aconteceu há uma
semana e já foi feito
o pedido emergencial
da nova peça. E
como solução no
médio prazo está
sendo realizada uma
licitação para compra
de novos elevadores,
pois os atuais têm
cerca de 30 anos .
SES garante cumprir
índice constitucional
Falta de estrutura,
dependência dos
municípios e de médicos
são os principais
problemas apontados
pela falta de
investimento na saúde do
Estado. Essa foi a
avaliação realizada pelo
professor da
Universidade Federal de
Mato Grosso Reinaldo
Motta, que afirma que o
resultado de tudo isso se
reflete na qualidade de
vida da população.
A falta de
investimento por parte
do Estado se apresenta
em diversas áreas, e
principalmente na saúde
básica, onde Motta diz
que Mato Grosso tem
números alarmantes de
epidemias: “Os índices
epidemiológicos do
Estado são alarmantes,
pois ainda convivemos
com a hanseníase e a
dengue como doenças
comuns. A atenção
básica só conseguiu ser
um pouco fortalecida
porque teve ação direta
do governo federal em
enviar médicos
estrangeiros”.
O médico ainda
destaca a falta de
políticas de médio e
longo prazo e de
profissionais
qualificados para atuar
na área da saúde: “Todas
as ações desse governo
são tomadas como
medidas emergenciais, e
para piorar transformou
a Secretaria de Saúde em
um local de barganhas
políticas, em que
nenhum secretário
consegue resolver os
problemas”.
A consequência da
falta de administração
pública competente
resulta, segundo o
especialista, na falta de
profissionalização das
pessoas que trabalham
na área e falta de
controle dos gastos da
saúde nos hospitais que
são geridos
principalmente pelas
Organizações Sociais de
Saúde (OSSs).
Abandono do Poder Público se reflete
na qualidade de vida da população
Pacientes sofrem com
a falta de investimento na
saúde pública ainda na
porta do hospital, antes
mesmo de conseguirem
ser atendidos na recepção.
E essa é apenas a primeira
barreira a ser enfrentada,
pois, por falta de vaga,
muitos acabam ficando no
corredor e quando
conseguem um quarto é
em péssima condição.
No Pronto-Socorro de
Várzea Grande, apontado
já como o pior hospital do
Estado pelo Conselho
Regional de Medicina
(CRM), vários pacientes
aguardam na porta por
atendimento médico e
alguns alegam que já
precisaram passar o dia
todo esperando até serem
atendidos.
Entre os pacientes que
aguardavam no Pronto-
Atendimento estava a
doméstica Maria de
Oliveira, 30 anos. Apesar
de estar passando mal e
sozinha, ela já estava há
mais de quatro horas na
recepção aguardando para
ser direcionada para dentro
do hospital.
“Essa é a segunda vez
que eu venho em menos de
uma semana, primeiro foi
para trazer a minha filha e
agora porque estou com
muita febre e enjoo. E o
pior de tudo isso é passar a
manhã toda sem ter uma
resposta e ainda correndo
o risco de perder o
emprego”, diz com
dificuldades Maria de
Oliveira.
Mas conseguir entrar
no hospital não é
considerado tanta
vantagem por alguns. A
dona de casa Marisete
Ferreira, 33 anos, que
estava saindo com a mãe
do hospital para fazer
exames, relata a
precariedade do local:
“Minha mãe estava com
muita hemorragia, e
quando chegamos aqui o
médico falou que não era
nada grave e que podia ser
resolvido em um postinho,
de onde tínhamos acabado
de vir sem atendimento.
Mas com muita luta
conseguimos um espaço, e
já tem quatro dias que não
sabemos qual o problema
dela. Para piorar, ela
precisa fazer um exame de
endoscopia que não tem no
hospital, e precisamos
agora pagar desde o
deslocamento até o
exame”.
Pacientes vivem drama
na porta de hospital
Estado retarda repasse
na saúde, diz Sinpen
A colocação de Mato
Grosso em relação ao
investimento na saúde veio
como comprovação para
os sindicatos relacionados
à saúde, entre eles o
Sindicato dos
Enfermeiros (Sinpen). Para
o presidente do Sinpen,
Dejamir Soares, o Estado
deveria ser considerado o
pior, principalmente
porque, além da baixa
verba para a saúde, ela
ainda é mal distribuída nos
municípios, deixando mais
precário o atendimento.
De acordo com
Dejamir Soares, a saúde
está passando por uma das
piores fases nos últimos
anos, pois os munícipios,
principalmente do interior,
não estão recebendo os
repasses no tempo
previsto, o que deixa os
locais sem materiais
básicos de atendimento.
“Desde instrumentos
para curativos até
medicamentos básicos para
diabetes e hipertensão
estão faltando no interior.
Os profissionais da saúde
também estão sofrendo
com corte no salário por
parte das prefeituras e para
que sobre mais verba para
outros itens, e isso é a
prova da calamidade na
saúde. Mas toda essa
questão poderia ser
melhorada se a verba
federal que chega fosse
repassada pelo Estado em
tempo hábil”, diz Soares.
Entre os municípios
que estão sofrendo com a
falta de medicamentos para
hipertensão está Acorizal
(distante 59 km da capital)
que há cinco meses não vê
o remédio nas prateleiras.
E na capital, o exemplo
citado é o Pronto-Socorro
que está com o elevador
estragado e a previsão para
licitação da troca está
prevista apenas para o final
de março.
“O sindicalismo do
Estado está cansado de
lutar pelos direitos dos
pacientes. O que
precisamos agora é da
ajuda do Ministério Público
que tapa os olhos para essa
triste realidade, na qual o
dinheiro que dava para
construir um hospital com
2 mil leitos foi direcionado
para a construção de um
estádio que receberá quatro
jogos”, questiona Dejamir.
(IBGE), que apontou que
o percentual da verba na
saúde é de apenas 9,1%.
Outra questão que
chamou atenção foi o
fato de o Estado ter sido
o pior em número de
reuniões do Conselho de
Saúde, com apenas dois
encontros, enquanto o
Rio Grande do Sul teve
25 reuniões em um ano.
As informações da
Estadic (Pesquisa de
Informações Básicas
Estaduais) do IBGE
levantam ainda outras
questões como o fato de
o Estado ter tido a maior
quantidade de gestores
da saúde que não são da
área. E em relação ao
orçamento direcionado
para a atenção básica,
que é retirado do valor
total da verba da saúde,
o investimento ficou
entre 3% e 6%,
considerado mediano em
relação aos outros
Estados, mas baixo para
especialistas.
O reflexo do baixo
investimento na saúde
vem se refletindo tanto
na saúde estadual quanto
na municipal, que
depende dos repasses
realizados pelo Estado.
Entre os vários
problemas denunciados
no
Circuito Mato Grosso
está a falta de leitos e
médicos para atender
humanitariamente
pacientes. Isto, além das
perdas significativas em
2013 com medicamento
de alto custo, o que
gerou várias polêmicas
em torno da
administração que está
sendo realizadas por
Organizações Sociais de
Saúde (OSSs).
Fotos: Mary Juruna
Paciente passando mal fica horas na porta do hospital antes de
ser encaminhada para o Pronto-Atendimento
Após enfrentar uma verdadeira maratona para conseguir atendimento,
pacientes ficam ao longo dos corredores por falta de vaga nos leitos
Sinpen denúncia falta de repasse para as prefeituras e
falta de medicamento básicos para os pacientes
Dona de casa reclama do descaso dos médicos e ainda
denuncia o hospital por falta de equipamento para realizar
exame e ambulância para deslocamento de pacientes
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