EDIÇÃO IMPRESSA - 476 - page 8

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 20 A 26 DE FEVEREIRODE 2014
CIDADES
P
G
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FALTA D’ÁGUA
CAB culpa Secopa por nova crise
Concessionária assumiu o serviço há dois anos, mas ainda não cumpriu promessa de regularizar abastecimento
Rafaela Souza
O problema crônico no
sistema de abastecimento de
água emCuiabá, denunciado
dezenas de vezes pelo
CircuitoMato Grosso
,
piorou nos últimos meses e
fez dobrar o número de
reclamações do consumidor
do Procon. Segundo a
concessionária do serviço, a
CAB Cuiabá, a crise foi
agravada por conta das
obras que estão sendo
realizadas na Capital com
vistas a Copa 2014 e de
responsabilidade da
Secretaria Extraordinária da
Copa 2014 (Secopa).
Um dos exemplos
citados pela CAB é o bairro
Santa Isabel, onde os
moradores sofrem o drama
da falta de água durante
semanas. Em nota, a CAB
explica que a água que
chega à região do Santa
Isabel é tratada na Estação
São Sebastião e
encaminhada pela Linha
Novo Terceiro. Esta linha
sofreu alguns rompimentos
em fevereiro, o último
registrado foi causado pela
empreiteira Métrica, a
serviço da Secopa,
prejudicando também outras
Do outro lado da
cidade, nos bairros 1° de
Março e Serra Dourada,
além da falta de água, o
foco da reclamação
também atinge a
qualidade do produto, que
segundo os moradores
chega impróprio para o
consumo.
Segundo o
cabeleireiro e morador da
região Alvino dos Santos,
44 anos, não adianta ligar
na CAB a fim de
solucionar o problema.
Ele conta que já teve
inclusive de organizar
protesto ameaçando
cortar os canos no bairro
para conseguir
atendimento.
“A água quando vem
geralmente é
acompanhada de mau
cheiro, além do gosto
horrível, e algumas
pessoas são obrigadas a
consumir, pois não têm
condições de comprar o
produto. E esse problema
não é de agora. Desde
quando o bairro foi criado
os moradores enfrentam
essa situação. E quando
eu ligo na CAB, eles nos
ignoram e no máximo
oferecem um caminhão-
pipa”, desabafa Alvino.
O OUTRO LADO
Em relação ao bairro
1º de Março, a CAB
Cuiabá informa que o
abastecimento na região é
realizado em dias
alternados, e que
atualmente a localidade
está em processo de
padronização do sistema
de abastecimento e
distribuição de água.
Água chega às residências
imprópria para consumo
Amaes nunca aplicou
uma multa à CAB
CPI na Câmara entra na sua quarta edição
Após três tentativas
falhas de abrir uma
Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) para
investigar o serviço
prestado pela CAB, mais
uma vez os vereadores de
Cuiabá voltam a discutir a
situação que parece não ter
fim. A questão colocada em
pauta no início de 2013
pelo vereador Domingos
Sávio (SDD) acabou se
tornando uma comissão
especial, que cobrou
explicações, mas nenhum
resultado foi apresentado.
Em busca novamente
de explicações, quem
levantou a bola da vez foi o
vereador Renivaldo
Nascimento (PDT), em
Parlamentares de
Cuiabá estão de olho na
Agência Municipal de
Regulação dos Serviços de
Água e Esgotamento
Sanitário (Amaes). Os
vereadores Domingos Sávio
e Haroldo Kuzai, ambos do
SDD, buscam a destituição
da diretoria da Agência, que
segundo Sávio, ao invés de
fiscalizar, tem servido de
advogada da CAB.
“Desde quando a CAB
começou a administrar o
sistema de água e esgoto da
capital, a Amae nunca
aplicou uma multa à
empresa, mesmo tendo
apresentado problemas
graves de distribuição de
água. Na primeira oitiva que
realizamos com eles, a
própria diretora Carla
Lavrate assumiu isso e
ainda defendeu a CAB
dizendo que é um dos
melhores serviços
oferecidos no Brasil. Por
causa dessa situação, vou
buscar apoio junto aos
outros vereadores para
instaurar um processo
administrativo na Amaes”,
afirma o vereador.
A alternativa de
pressionar a Amaes é um
caminho que a Câmara
encontrou de tentar
minimizar os problemas de
ter aprovado o contrato
firmado em abril de 2012
com a empresa, que rendeu
R$ 515 milhões à
Prefeitura. De acordo com
o convênio, a CAB tem o
prazo de três anos para
universalizar o acesso a
água tratada, e 10 anos para
universalizar a rede de
esgoto. Segundo a Amaes,
responsável por fiscalizar a
concessionária, em
setembro de 2013, 92% de
Cuiabá já estava coberta
com o serviço. Mas
faltando menos de um ano
para o fim do primeiro
prazo da empresa, não é
essa a realidade que a
população tem enfrentado,
até mesmo em bairros onde
o abastecimento era
regular.
setembro de 2013, que
instaurou a quarta CPI na
Câmara, e próximo de
alcançar os 20 dias para
entregar o relatório final, o
parlamentar pediu mais 60
dias para encerrar as
investigações. E as oitivas e
análises que também foram
deixadas para este ano,
sendo a pauta principal na
abertura dos trabalhos
legislativos, o vereador
garante que serão entregues
ainda este mês.
Já o presidente da
Câmara de Cuiabá, Júlio
Pinheiro (PTB), que foi um
dos parlamentares a
aprovar a privatização do
sistema de água da capital,
agora percebe o caos que
Cuiabá enfrenta e por isso
sugeriu que a CAB
Ambiental elabore um
cronograma de
investimentos para tornar
mais transparente o seu
trabalho. Para o vereador, a
medida irá tranquilizar
população, uma vez que as
pessoas saberão quando e o
que será feito em sua
região. A proposta, também
será repassada aos
membros da CPI. Já em
relação ao reajuste de
14,89% na tarifa pelo
fornecimento de água, o
presidente afirma que está
buscando os meios
jurídicos para garantir o
direito de o Parlamento
participar desta discussão.
localidades próximas.
A concessionária diz ainda
que o abastecimento dos
bairros no entorno da Arena
Pantanal e trincheira Verdão/
Santa Isabel tem sido
fortemente impactado em
função dos constantes
rompimentos da rede de água
por empreiteiras que prestam
serviços nessas obras, sejam
elas de infraestrutura da arena
ou da trincheira, ou de
prestação de serviços, como
instalação de rede de
telefonia e energia.
Quem sofre na pele por
conta disso é o comerciante
Francisco de Oliveira. Ele
reclama que falta água na
região, e da alta despesa que
está tendo para abastecer o
local. “Precisei comprar um
depósito extra para o
restaurante para dar suporte
nos banheiros, e por causa
disso preciso todos os dias
carregar 10 galões de água
com 200 litros cada. E ainda
utilizo uma bomba para levar
a água para as caixas que
ficam no alto. Tudo isso
custa dinheiro e tempo, pois
passo boa parte da manhã
trazendo a água e ainda
aumentou em R$ 100 minha
energia”, destaca Francisco
deOliveira.
Omicroempresário
ainda se lembra das várias
reclamações que já registrou
na CAB e até com o
presidente do bairro, mas
nenhuma resposta obteve.
“Nunca sabem quando a
água vai retornar, se
pedimos o caminhão-pipa é
necessário esperar muito,
pois a fila de pessoas com o
mesmo problema é enorme.
Nemmesmo quando vão
fazer um conserto na rede, a
empresa nos avisa com
antecedência, simplesmente
nos deixa sem água”, diz
ele.
Ainda na região do
bairro Santa Isabel
moradores expõem a
dificuldade de ter que
racionar a água todos os
dias, e que a situação já
chegou a ficar precária a
ponto de passarem até cinco
dias com as torneiras secas.
Entre as pessoas que
passam por essa situação
está a diarista Vanda
Teodoro, 38 anos, que além
de instalar mais caixas
d’água em casa, ainda
precisa dividir os custos de
um caminhão-pipa quando a
água demora a chegar.
“E não adianta
reclamar, pois a resposta é
sempre a mesma: a troca de
canos quebrados por causa
das obras da Copa. E, para
piorar, nem caminhão-pipa
eles liberam, alegando que
esse serviço é apenas para
hospitais e escolas. Mas
para não ficarmos
totalmente sem água, divido
commais quatro vizinhos
um viagem de caminhão-
pipa, o que dá uma média de
R$ 30 para cada um e só
dura um dia”, diz Vanda.
SECOPA RESPONDE
Em nota, a Secopa informou que
assinou um convênio com a CAB para
que a mesma conduza todo o trabalho de
remoção de interferências nas obras de
mobilidade urbana. Decorrente desse
convênio, ficou a CAB responsável pela
elaboração do projeto de remoção e
realocação, bem como a sua execução.
“Dessa forma, não cabe imputar à
Secopa ou às contratadas a
responsabilidade pelo rompimento dessas
adutoras”. E a nota finaliza dizendo: “A
Secopa reforça a preocupação em tomar
todas as providências junto às empresas
contratadas para não causar nenhum
dano à sociedade”.
Concessão não conseguiu sanar os
problemas de água no munícipio e
ainda sofre fortes críticas
Vereador Domingos Sávio quer nova
composição da diretoria da Amaes
A Câmara de Cuiabá aprovou a concessão da Sanecap sob forte protesto popular
O
cabeleireiro Alvino dos Santos diz
que não adianta reclamar à CAB
Fotos: Mary Juruna
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