EDIÇÃO IMPRESSA - 468 - page 5

CIRCUITOMATOGROSSO
SAÚDE
P
G
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CUIABÁ, 28 DE NOVEMBRO A 4 DE DEZEMBRO DE 2013
OSS
MPE denuncia máfia
da ortopedia em MT
Pacientes eram
“encaminhados”
sem regulação
para Cáceres, onde
médicos recebiam
“por produção”,
alguns com
salários de até R$
130 mil. Por:
Sandra Carvalho
e Camila Ribeiro.
Fotos: Mary
Juruna e
Reprodução
O Ministério Público
Estadual (MPE-MT)
denunciou, após
minuciosa investigação,
uma verdadeira máfia
da ortopedia atuando
no Sistema Único de
Saúde (SUS) por meio
de uma Organização
Social de Saúde (OSS),
entidades às quais o
governo Silval Barbosa
entregou por somas
milionárias a gestão de
serviços públicos
hospitalares. De acordo
com o MPE, o esquema
envolve médicos do
Pronto-Socorro Municipal
de Várzea Grande e do
Hospital Regional de
Cáceres e empresas
prestadoras de serviços
médicos contratadas
pela Associação
Congregação de Santa
Catarina.
Os médicos teriam
dado alta indevidamente
a diversos pacientes do
PS de Várzea Grande e
CRM abre
sindicância
para apurar
o caso
O Conselho
Regional de Medicina de
Mato Grosso (CRM-MT)
recebeu na última
semana o resultado da
investigação do
Ministério Público e já
deu início à sindicância
para apurar se há
indícios de infração ao
Código de Ética Médica.
Caso confirmadas as
irregularidades
apontadas pelo MPE,
será aberto um processo
ético profissional que
poderá acarretar em
advertência, suspensão
ou até mesmo na
cassação do diploma
dos médicos envolvidos
no esquema.
“O profissional não
pode exercer a medicina
com uma visão
mercantilista, ou seja,
motivado unicamente
pelo retorno financeiro.
Caso fique provada essa
infração, os profissionais
serão penalizados”,
alegou a diretoria do
CRM por meio de sua
assessoria de imprensa.
‘Máfia’ faz paciente perder
movimentos dos braços
Os problemas
decorrentes da ‘máfia da
ortopedia’ puderam ser
confirmados por meio dos
depoimentos de funcionários
do Hospital Regional de
Cáceres e de pacientes que
foram submetidos às
cirurgias realizadas às
pressas. É o caso, por
exemplo, de Maria Eugênia
dos Santos, que chegou a
representar contra o Dr.
Walter Tetilla junto ao
Conselho Regional de
Medicina (CRM).
A paciente relatou que
após uma queda acabou
fraturando o úmero e teve
que passar por uma cirurgia
realizada por Tetilla. Na
ocasião ela teve que colocar
dois pinos no braço para
reduzir uma luxação e um
dos pinos, segundo ela, foi
colocado de maneira
errada, o que culminou
numa contaminação e
também na necessidade de
realizar um novo
procedimento cirúrgico.
Novamente, não houve
sucesso no procedimento.
Exames realizados depois
disso confirmaram o
rompimento de tendões e a
consequente paralisia de um
dos braços.
Enfermeiros do Hospital
de Cáceres também
relataram ao MPE que os
pacientes eram
encaminhados à unidade de
maneira irregular,
geralmente nos finais de
semana ou às sextas-feiras à
noite. Houve casos, inclusive,
de pacientes chegando a
Cáceres no veículo particular
do Dr. Tetilla.
Mais agravante ainda é
o fato de que como os
pacientes não passavam
pala Central de Regulação,
não havia nenhuma
preparação para a
realização dos
procedimentos cirúrgicos.
Não fosse o bastante, após
a cirurgia, os pacientes
retornavam ao município de
Várzea Grande e não
recebiam os
acompanhamentos
necessários, como a retirada
de pontos e pinos, a
realização de raios-x, dentre
outros.
Depoimentos
comprovaram também que
“as numerosas cirurgias
realizadas em série pelo
médico Walter Tapias Tetilla
têm apresentado como
consequência um elevado
índice de infecção hospitalar
no Hospital Regional de
Cáceres”.
Declarações de gestores
confirmam esquema
O diretor do Pronto-
Socorro de Várzea
Grande, Geraldo Araújo,
disse que na região de
Cáceres os médicos não
estavam encontrando mais
pacientes para serem
operados, daí eles
começaram a aliciar
pacientes de outras
unidades hospitalares
para assim ganharem
mais da Secretaria de
Saúde, pois recebiam por
produtividade.
Já então subsecretário
de Saúde de Várzea
Grande, Geraldo Luiz de
Araújo desmentiu as
informações prestadas
pelo médico Walter Tetilla
aos pacientes, no sentido
de que não havia médicos
anestesistas no Pronto-
Socorro.
Por sua vez, a
presidente do Conselho
Regional de Medicina do
Estado de Mato Grosso,
Dalva Alves das Neves,
foi enfática em dizer que
o contrato firmado entre
a Secretaria de Estado
de Saúde e as OSSs
deveria ser revisto por se
tratar de mais um
dinheiro público que
estava indo para o ralo.
No mesmo sentido foi
o depoimento prestado
pelo então secretário de
Estado de Saúde, Vander
Fernandes, que disse que
a conduta praticada pelos
envolvidos no esquema
delituoso era inaceitável,
devendo os pacientes
denunciar os fatos às
autoridades competentes,
com o propósito de que
as irregularidades fossem
corrigidas, devendo,
inclusive, os diretores de
cada uma das unidades
de saúde punir os
profissionais de saúde
envolvidos.
# A TRANSFERÊNCIA DE PACIENTES DE VÁRZEA GRANDE PARA A REALIZAÇÃO DE CIRURGIAS EM
CÁCERES, ESPECIALMENTE NOS ANOS DE 2011 E 2012.
# OS MÉDICOS ENCAMINHAVAM PACIENTES DO PRONTO-SOCORRO DE VÁRZEA GRANDE PARA SEREM
OPERADOS NO HOSPITAL REGIONAL SEM AUTORIZAÇÃO DA CENTRAL DE REGULAÇÃO DO SUS.
# OS PACIENTES ERAM ENCAMINHADOS NOS FINAIS DE SEMANA DE QUALQUER MANEIRA PELOS
PRÓPRIOS MÉDICOS, DE ÔNIBUS OU ATRAVÉS DE OUTRO RECURSO DE TRANSPORTE. O PROPÓSITO
DOS MÉDICOS ERA RECEBER POR PRODUTIVIDADE NO HOSPITAL DE CÁCERES, MESMO SEM VAGA NO
HOSPITAL.
# NÃO HAVIA NENHUMA PREPARAÇÃO PARA OS REFERIDOS PROCEDIMENTOS, DENTRE AS QUAIS A
RESERVA DE LEITOS, E QUE RECEBIAM ALTA SEM RETIRADA DE PONTOS, PINOS, REALIZAÇÃO DE RAIOS-X
ETC. MUITOS RECLAMARAM DE PROBLEMAS DE SAÚDE POSTERIORES ÀS CIRURGIAS.
# OS MÉDICOS OPERAVAM O PACIENTE MESMO NÃO PRECISANDO E DIZIAM QUE HAVIAM TIRADO DE
DENTRO DELE PEDRAS DA VESÍCULA, SENDO QUE ESTAS JÁ FICAVAM ACONDICIONADAS PREVIAMENTE
NO CENTRO CIRÚRGICO, SENDO, PORTANTO, DE OUTROS PACIENTES.
# HOSPITAL SUPERLOTADO E AUMENTO REPENTINO DO NÚMERO DE CIRURGIAS. SOMENTE ENTRE OS
DIAS 19 DE NOVEMBRO DE 2011 E 27 DE MARÇO DE 2012 FORAM REALIZADAS 479 CIRURGIAS
ORTOPÉDICAS.
# OS SALÁRIOS MENSAIS DOS MÉDICOS AUMENTARAM ASSUSTADORAMENTE, CITANDO QUE O
MÉDICO DR. WALTER TETILLA ESTARIA PERCEBENDO CERCA DE R$ 130.000,00 NOS MESES DE
NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2011.
depois os encaminhado
para o Regional de
Cáceres, onde recebiam
por produção. Quanto
mais cirurgias, maiores os
salários. Um ortopedista
teria recebido R$ 130 mil
por mês quando o
subsídio de um médico
do SUS fica entre R$ 10
mil e R$ 15 mil. Pacientes
teriam sido operadas sem
necessidade e outras
tiveram problemas de
saúde pós-cirurgia
porque eram liberadas às
pressas para receber no
hospital “novas vítimas”
do esquema. Um único
médico chegou a fazer
seis cirurgias num dia.
Somente este ano a
entidade já recebeu da
Secretaria de Estado de
Saúde mais de R$ 37,5
milhões. Na ação, o
MPE requer,
liminarmente, o
afastamento do quadro
funcional do hospital dos
dois médicos que
estariam à frente do
esquema: Walter Tapias
Tetilla e Domingos Sávio
Pedroso de Barros.
Também foram
acionados os médicos
Túlio Marcos Casado da
Silva e Orlando Galetti
Júnior, proprietários das
empresas SCOT –
Serviço Cacerense de
Ortopedia e
Traumatologia Ltda e
MED Cáceres – Serviço
de Cirurgia Geral Ltda;
o administrador Idelvan
Ferreira Macedo,
representante legal da
Associação
Congregação de Santa
Catarina; e o diretor
geral do Hospital
Regional de Cáceres,
Antonio Fontes.
Segundo o MPE,
dados obtidos durante a
investigação demonstram
que entre novembro de
2011 a março de 2012,
foram realizadas em
Cáceres 479 cirurgias
ortopédicas. Foi
constatado, também, um
aumento do número de
pacientes com
reclamações de lesões
ocasionadas pela pressa
na realização dos
procedimentos cirúrgicos
e liberação dos pacientes
para abertura de mais
vaga s .
Em relação à
participação da entidade
responsável pelo
gerenciamento do
hospital, o promotor de
Justiça explica que as
irregularidades chegaram
ao conhecimento da
direção da entidade, mas
nenhuma providência foi
adotada.
“Pelas graves
declarações prestadas
por todos os pacientes e
testemunhas ouvidas, por
certo se acreditava que
os demandados iriam, no
mínimo, rever os termos
dos contratos firmados
com as empresas e
profissionais citados”,
afirmou o representante
do Ministério Público.
O trabalho de
investigação foi realizado
por Promotorias de
Justiça de Cáceres e
Várzea Grande, com
apoio do Grupo de
Atuação Especial Contra
o Crime Organizado
(Gaeco), com base em
informações prestadas
pelos próprios
funcionários do Hospital
Regional.
Pac i en t e s r e c eb i am a l t a do PS -VG i nde v i damen t e e e r am ope r ado s
em Các e r e s , onde méd i co s r e c eb i am po r p r odu t i v i dade
O MPE pede l imi na rmen t e o a f a s t amen t o
de do i s méd i cos do P r on t o Soco r r o de
VG, que e s t a r i am à f r en t e do e squema
No Hosp i t a l Reg i ona l de Cáce r e s ,
f o r am r eg i s t r ados casos de
pac i en t e s ope r ados s em nece s s i dade
À época o d i r e t o r do PS -VG, Ge r a l do A r aú j o d i s s e
que méd i co s de Các e r e s e s t a v am a l i c i ando
pac i en t e s de ou t r a s un i dade s pa r a r e c ebe r em ma i s
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