CIRCUITOMATOGROSSO
INFRAESTRUTURA
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CUIABÁ, 17 A 23 DE OUTUBRO DE 2013
ESTRADAS
Chuvas, caos e descaso no interior
Investimentos milionários parecem estar “indo para o ralo”, enquanto isso comunidades vivem na iminência de um novo isolamento.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna e reprodução
Na contramão do
desenvolvimento, Mato
Grosso parece caminhar a
passos lentos quando o
assunto é a infraestrutura de
sua malha viária. Programas
do governo do Estado como
o MT 100% Equipado –
orçado em R$ 241 milhões
–, o MT Integrado – com
custo total de R$ 1,5 bilhão
–, entre outros investimentos
milionários, ainda não
surtiram efeito e uma
parcela da população
mato-grossense começa a
entrar em pânico. Isto
porque, mal teve início a
época das chuvas,
problemas crônicos em
cidades do Estado já podem
novamente ser observados.
Na saída de Colniza para
Aripuanã (1.114 e 1.014 km
de Cuiabá,
respectivamente), por
exemplo, a população já
sofre com os atoleiros
encontrados no local. Por se
tratar da principal rota de
No Médio-
Araguaia as
coisas vão
“de vento
em popa”
Enquanto muitos
prefeitos se queixam
dos problemas nas
estradas estaduais e
do fato de o Estado
ter terceirizado a
gestão dos
maquinários
adquiridos ainda no
Governo Blairo
Maggi, gestores da
região do Médio
Araguaia se dizem
satisfeitos com o MT
100% Equipado. O
prefeito de Novo São
Joaquim, Leonardo
Farias (PR), diz que
os serviços estão
sendo realizados a
contento, tanto nas
estradas estaduais
quanto nas vicinais.
O prefeito de Água
Boa, Mauro Rosa
(PR), ainda vai mais
longe e assegura que
“o programa foi a
melhor coisa que
poderia ter
acontecido para os
gestores”.
Na falta de equipamentos,
municípios são sacrificados
O peemedebista Assis
Raupp questiona, ainda,
a “distribuição” dos
maquinários em Mato
Grosso. “A oferta dos
equipamentos por parte
do governo estadual não
é grande. Então,
recentemente, o governo
federal nos disponibilizou
uma patrola, enquanto
municípios menores
receberam o mesmo
número”, contesta o
prefeito.
O parlamentar
explica que Colniza tem
pouco mais de 4.200 km
de estradas e precisaria
de, no mínimo, mais duas
patrolas, cinco caminhões
e duas pás-carregadeiras,
números que segundo ele
estão bem distantes da
realidade. “É uma
questão que precisa ser
analisada, temos serviços
demais, estradas demais
e equipamentos de
menos. O município
acaba sendo sacrificado”,
revolta-se.
MT Equipado até agora
não mostrou a que veio
Uma sucessão de
medidas contestáveis faz
com que os serviços de
conservação e manutenção
nas estradas do Estado
fiquem comprometidos. Os
problemas não param por
aí. Diante da falta de ‘trato’
do governo em relação aos
equipamentos adquiridos
por meio do programa MT
100% Equipado, prefeitos
acabam utilizando
orçamento municipal para
tentar amenizar o caos em
estradas que são de
responsabilidade do
Governo do Estado.
É o caso, por exemplo,
de Juara, conforme relata o
prefeito, Edson Piovesan
(PPS). “A situação do
município hoje, em relação a
maquinários, é péssima.
Não temos uma máquina
nova dentro da cidade”,
conta o socialista que ainda
destaca que os
equipamentos disponíveis no
município estão em situação
precária. Uma das
preocupações do chefe do
Executivo municipal é em
relação às pontes. “Somos
um município muito grande
em termo de rodovias, temos
2.800 km de estrada dentro
do território municipal. Tenho
linhas de 130 km que têm
170 pontes. O pior é que
pegamos o município numa
época em que parece que
todas as pontes estavam
podres e caindo”, assegura
o prefeito, ao lembrar que
tais maquinários também
deveriam estar sendo
utilizados na construção e
manutenção dessas pontes.
Piovesan assegura,
ainda, viver uma verdadeira
‘peregrinação’ em busca de
auxílio do governo. “O
Estado não está nos
ajudando. Tenho procurado
a Sinfra, mas não temos
recebido qualquer apoio,
nenhum repasse financeiro
que possa garantir a
manutenção desses
equipamentos”. O prefeito
destaca que passados pouco
mais de 70 dias de sua
gestão – já que Juara teve
eleições suplementares em
julho –, os reparos feitos em
estradas e pontes do
município foram arcados
com orçamento da
Prefeitura. “O município está
fazendo o que pode, sem
ajuda da Sinfra. Existem
algumas promessas de
repasses, mas de concreto,
nada”, garantiu o prefeito.
Em Colniza, a situação
não é diferente: serviços em
trechos de estradas de
responsabilidade do Estado
estão sendo custeados com
orçamento do município.
Além disso, os trabalhos
frequentemente “são
executados de acordo com a
disponibilidade de
combustível oferecida à
administração municipal”,
admite o prefeito Assis
Raupp (PMDB).
entrada e saída da cidade,
rapidamente os munícipes
começam a ser penalizados
com o desabastecimento de
alimentos, medicamentos,
combustível e produtos em
geral.
Todos os anos a
situação se repete, mas, ao
que parece, não incomoda
os gestores, que se limitam
a realizar medidas
emergenciais, muito aquém
daquilo que é esperado
pela população. Em
fevereiro deste ano, por
exemplo, a Câmara de
Vereadores de Colniza
chegou a encaminhar um
ofício com pedido de
providências ao
superintendente regional do
Enquan t o mu i t o s r e c l amam, p r e f e i t o de Água Boa ,
Mau r o Ro s a d i z que “MT Equ i pado f o i a me l ho r
c o i s a pa r a o s mun i c í p i o s ”
O pe emedeb i s t a A s s i s
p e em
Raup a l ega que a
demanda de s e r v i ço s é
a
mu i t o s upe r i o r ao
núme r o de máqu i na s
d i s p o n í v e i s
Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes
(Dnit), Luiz Antônio Garcia.
À época, os parlamentares
reclamaram da situação em
que se encontrava o
município devido às
grandes chuvas e aos
consequentes atoleiros e
isolamentos de algumas
regiões.
Estradas em péssimas condições e prefeitos não veem retorno no programa criado pelo Governo do Estado
Ed s on P i ov e s an d i z que em J ua r a a s i t uação é
comp l i cada e o Gov e r no f i ca s ó com p r ome s s a s
Passados mais de oito
meses, a situação está
prestes a se repetir, conforme
relatou à reportagem do
Circuito Mato Grosso
o
vereador Francisco Borges
dos Santos, o ‘Chicão’ (PPS).
“A situação aqui em Colniza
é precária e calamitosa.
Temos estradas de
responsabilidade do Estado
e também as que estão a
cargo do Governo Federal.
O problema é que estamos
esquecidos por todas as
esferas”, reclamou o
vereador. Ele alerta, ainda,
que a população dos
distritos de Guaíba e Três
Fronteiras, frequentemente
afetados com os problemas
de isolamento em
consequência das chuvas,
vivem na iminência de sofrer
com um novo acontecimento
desta natureza. “Toda ano é
a mesma coisa, não sei se
falta maquinário, se falta
vontade política, mas o que
a gente observa é que falta
principalmente que as coisas
sejam bem feitas para evitar
que uma nova chuva traga
todos os problemas de
volta”, argumenta o
vereador ao lembrar que
muitas vezes os municípios
são obrigados a decretar
estado de calamidade
pública.
PREJUÍZOS
Diversos municípios do
Estado, que em sua grande
maioria têm estradas não
pavimentadas, são
frequentemente afetados
pelo excesso de chuvas nesta
época do ano. Pontes
submersas, atoleiros
gigantescos e comunidades
inteiras isoladas são o reflexo
da precariedade da malha
viária em Mato Grosso. Além
de a população ficar isolada
e desabastecida de
produtos, inúmeros
produtores ainda ficam
impossibilitados de escoar a
produção.
P r e c a r i edade na s e s t r ada s a c aba p r e j ud i c ando o
t r an s po r t e de ca r ga s e o e s coamen t o de p r odu t os