CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 17 A 23 DE OUTUBRO DE 2013
CIDADES
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‘AMARELINHOS’
Déficit é de 200 agentes na Capital
Obras de mobilidade consomem praticamente todo o efetivo; fiscalização de trânsito na cidade acaba comprometida.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna
Obras da Copa
espalhadas nos quatro
cantos da cidade e, em
consequência disso, uma
infinidade de desvios que
têm tirado o sono da
população em Cuiabá.
Em meio a esse turbilhão
de fatos, os agentes de
trânsito da Capital,
popularmente conhecidos
como “amarelinhos”,
tentam auxiliar o fluxo de
veículos e pedestres que
diariamente circulam em
áreas onde estão sendo
realizadas as obras. O
problema, contudo, é que
existe, hoje, um déficit de
200 agentes, o que acaba
comprometendo o
trabalho de fiscalização
do trânsito na Capital.
Atualmente, 125
agentes estão lotados na
Diretoria de Trânsito, da
Secretaria Municipal de
Trânsito e Transporte
Urbano (SMTU) de
Cuiabá. Entretanto, o
Código de Trânsito
Brasileiro prevê a
necessidade de um agente
para cada mil veículos.
Tendo em vista que a frota
de Cuiabá está estimada
em 330 mil veículos, a
ENQUETE
“Eu acredito que o
trabalho que eles fazem
é bastante importante,
principalmente agora
com as obras da Copa;
ajuda a auxiliar no
trânsito. Seria melhor se
tivesse um maior
número nas ruas”.
Flora K. Pereira,
ban cá r i a .
“Falta uma maior
rotatividade. É um
trabalho exaustivo,
principalmente aqui em
Cuiabá, por causa do
calor. Acho que a falta de
agentes faz com que o
pessoal fique
sobrecarregado e,
consequentemente,
trabalhe insatisfeito”.
Emanuel Rocha,
operador de direito.
“Acredito que o
trabalho dos amarelinhos
não é muito respeitado. As
pessoas têm medo da PM,
mas desprezam os
amarelinhos e por isso a
gente vê um monte de
infração de trânsito sendo
cometida pelos
condutores”.
Vitor
Gregór io, t ece l ão.
“Acho que ainda
faltam muitos agentes
aqui na cidade. Eles
ajudam a controlar o
trânsito, essas questões
dos desvios, eles
orientam e o trânsito
flui melhor. Com
certeza, se houvesse
mais amarelinhos as
coisas poderiam ser
ainda melhores”.
Lucas
Car va l ho, es t udan t e.
Principais ocorrências
de trânsito em Cuiabá
1) Falta de uso do cinto de segurança
2) Dirigir utilizando telefone celular
3) Avançar sinal vermelho
4) Estacionamento em local proibido
5) Estacionamento sobre passeio
· Em 2013, já foram registradas mais
de 37 mil infrações de trânsito na Capital.
Inexistência de plano de
execução de obras gera caos
Além da falta de
efetivo de agentes de
trânsito na Capital, outro
grave problema quando se
fala nas obras de
mobilidade urbana na
cidade é a ineficiência ou
mesmo a inexistência de
um plano de execução de
obras.
O professor doutor do
Núcleo de Estudos de
Logística e Transporte da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) Luiz
Miguel de Miranda atesta
que as más condições
atuais do trânsito da
cidade são fruto também
da falta de comunicação
dos gestores com a
população. “Se a
população tivesse o
mínimo de condições
como segurança, conforto
e informação, sem ruas de
péssima qualidade, as
coisas poderiam ser muito
diferentes. Atitudes simples
– como um boletim diário
com informações sobre o
trânsito – gerariam uma
sensação de preocupação
das autoridades com a
qualidade de vida do
cidadão, fazendo com que
ele se torne mais
compreensivo com as
dificuldades”, afirmou.
Ainda segundo
Miranda, “o grande
problema é que os
gestores simplesmente
deixam de lado este tipo
de trabalho”. A
consequência disso pode
estar refletida no fato de
Cuiabá ocupar hoje o 2º
lugar no ranking dos piores
trânsitos entre as capitais
brasileiras (perdendo
apenas para São Paulo).
SMTU acusa omissão do Estado
O grande número de
desvios na cidade e a
necessidade constante de
agentes para auxiliarem
no trânsito afetam,
inclusive, o atendimento a
áreas distantes da região
central da cidade. “Hoje,
por exemplo, nós
deixamos o Pedra 90, o
Parque Cuiabá, o Grande
CPA esquecidos, somente
em casos de acidente com
vítimas de grande
proporção é que a gente
vai lá. Para fazer uma
fiscalização, também,
somente mediante muitas
reclamações. A gente
acaba atuando nos eixos
principais – Fernando
Corrêa, Miguel Sutil,
Avenida do CPA – e nessa
periferia mais próxima ao
centro”, revela o
coordenador Diniz.
Além dos
‘amarelinhos’, os serviços
de operação, sinalização,
fiscalização e orientação
do trânsito são de
competência também do
Batalhão de Trânsito do
Estado de Mato Grosso.
Acontece que, segundo o
coordenador Michell Diniz,
“eles geralmente não dão
apoio pra gente, já que
não estão autuando na
mobilidade urbana.
Geralmente eles estão
focados nas rodovias,
atendendo ocorrências e
dando apoio a escoltas
de autoridades dentro da
cidade. Fazem algumas
fiscalizações, mas muito
poucas. A operação diária
do trânsito é somente da
SMTU”.
O coordenador
pontua, ainda, que a
orientação no trânsito é
também competência do
Estado. “Se o Estado
desse esse suporte, com
certeza a gente estaria
trabalhando junto”.
Ainda assim, Diniz
alega que a demanda de
200 novos agentes é
necessária não somente
por conta das obras de
mobilidade.
“Independente das obras,
esse efetivo é necessário
para suprir todas as
necessidades da Capital.
Surgem também vários
acidentes de trânsito e nós
não conseguimos cobrir
todos, muitas vezes
passamos pra Polícia
Militar, porque a PM cuida
da segurança pública,
mas pode interferir no
trânsito também”, explica.
Por fim, ele assegura
que apenas aumentando
o número de profissionais
será possível falar que
Cuiabá tem trânsito e
sinalização corretos, com
agentes atuando em
qualquer lugar.
demanda por agentes de
trânsito, hoje, seria de no
mínimo 330 profissionais
atuando nas ruas da
Capital.
Esta conta rápida
expõe claramente a
deficiência de
profissionais na cidade.
O coordenador de
operação e fiscalização
de trânsito, Michell Diniz,
alerta ainda que do total
de 125 agentes existentes
na Capital, alguns
ocupam coordenações
na Diretoria de Trânsito,
outros estão em setores
internos e existem, ainda,
aqueles que ficam no
Centro Integrado de
Operações de Segurança
Pública (Ciosp). Desta
forma, segundo Diniz, o
efetivo atuante nas ruas
acaba baixando para
100 trabalhadores.
“Hoje, por exemplo,
meu efetivo é de 100.
Ainda assim, tem aquele
agente que está com um
atestado médico, aquele
que se casou e tirou uma
licença de sete dias, tem
aquele que está de
férias, então o efetivo
baixa para
aproximadamente 90
profissionais/mês”, revela
o coordenador.
Segundo Diniz, quase
que a totalidade deste
número está
desenvolvendo funções de
orientação no trânsito, em
decorrência das obras de
mobilidade urbana na
Capital. Ele argumenta,
ainda, que por conta disso
o trabalho de fiscalização
de trânsito propriamente
dito acaba sendo
prejudicado por falta de
pessoal.
“As obras de
mobilidade urbana na
cidade consomem
praticamente 100% do
nosso efetivo. Deixamos
dois agentes pra fazer
fiscalização, atender
ligações via Ouvidoria ou
em locais que chamamos
de polos geradores de
tráfego, que é onde a
gente sabe que tem um
número significativo de
infrações. É notório que o
serviço de fiscalização está
prejudicado”, assegura
Diniz.
Ele adverte, no
entanto, que essa função
de orientação e operação
no trânsito é uma função
inerente à atividade dos
‘amarelinhos’, de forma
que não é correto dizer
que eles estão deixando
de fazer determinado
serviço, mas, sim, que o
efetivo de profissionais
não é suficiente para
atender a demanda
gerada pelas obras de
mobilidade urbana
somada à função de
fiscalizar as infrações de
trânsito.
E x i s t em ho j e na s r ua s 100 agen t e s de t r ân s i t o , núme r o
i n s u f i c i en t e pa r a a s demanda s do t r ân s i t o da Cap i t a l
Coo r de nado r da SMTU,
Mi c h e l l D i n i z a l e ga
que o E s t ado não
au x i l i a na f i s c a l i z a ç ão
d e mob i l i dad e u r bana