EDIÇÃO IMPRESSA - 460 - page 8

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 3 A 9 DE OUTUBRO DE 2013
POLÊMICA
P
G
8
Com escolas, saúde e estradas de ‘primeiro mundo’, governo não mostra a realidade de Mato Grosso nas propagandas
institucionais. Por: Rita Anibal e Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna
ILUSÃO
Governo faz propaganda enganosa
Parte da população em
estado de miséria, Índice de
Desenvolvimento Humano
(IDH) baixo, escolas
desabando, crianças
comendo merenda debaixo
de árvore, lonas como teto
para estudantes, falta de um
simples esparadrapo nos
postos de saúde, pacientes
sem leito, filas homéricas à
espera de um exame,
estradas intransitáveis mesmo
no período da seca, pontes
destruídas ou em estado
precário, impressoras sem
tinta nas delegacias,
servidores da polícia sem
folga semanal, detentos em
condições insalubres...
Estes são exemplos
colhidos em reportagens do
Circuito MT
em relação à
educação, saúde e
segurança pública e que não
condizem com as
propagandas mostradas pelo
Governo Silval Barbosa
(PMDB) em vários veículos de
comunicação.
Veiculações recentes
mostram a construção de
110 pontes, 44 mil casas e
600 km de estradas
asfaltadas, números
insignificantes diante de um
estado com proporções
continentais. No trecho entre
Juara (634 km de Cuiabá) e
Paranorte (709 km da
capital), os 143 km da
ligação têm mais de 100
pontes a serem atravessadas,
um exemplo de quão ínfima
RECURSOS DESTINADOS PELO GOVERNO EM 2013
RECEITA TOTAL
R$ 12.810.362.475,00 (reajustado)
-
SECOM
R$ 36.816.084,00
0,28%
POLÍCIA CIVIL
R$ 13.908.879,00
0,11%
SETAS
R$ 157.462.957,00
1,23%
EDUCAÇÃO
R$ 1.641.251.181,00
12,81%
ATENÇÃO BÁSICA SAÚDE
R$ 77. 214.092,00
0,61%
ERRADICAÇÃO DA POBREZA
R$ 69.514.294,00
5,47%
ÓRGÃO
VALOR 2013
PERCENTUAL %
Na falta de moradia, muitos temem
“ganhar um cantinho no céu para viver”
Enquanto o Governo
do Estado “espalha aos
quatro cantos”
investimentos em diversos
setores, entre eles no da
Habitação, o
Circuito
Mato Grosso
flagrou
pessoas vivendo em
situação deprimente e sem
vislumbrar qualquer
possibilidade de conseguir
uma moradia. É o caso de
Joelma Fátima da Penha
Soares que atualmente
reside às margens de um
córrego, no bairro Getúlio
Vargas, em Cuiabá. A
casa está sob a iminência
de desabar caso ocorra
uma chuva forte. “Este ano
fomos pegos de surpresa
com uma chuva que em
questão de segundos
encheu este córrego e
invadiu nossa casa
destruindo tudo o que
tínhamos”, relata a
As incoerências do
Governo Silval Barbosa
Enquanto setores
do governo não
sofrem com a falta de
repasses, outros estão
passando a ‘pão e
água’, inclusive os de
serviços essenciais
como saúde, educação
e segurança. Uma
incoerência gritante é a
estratégia do governo
em propagar feitos de
forma nebulosa para
que as pessoas vejam
o Estado como ‘o
paraíso do Éden’.
De acordo com a
Lei Orçamentária
anual (LOA) e a
Diretoria da Polícia
Judiciária Civil do
Estado, a Secretaria de
Estado de
Comunicação Social
(Secom) tem um
orçamento para
administrar de cerca de
R$ 37 milhões, valor
três vezes maior que ao
destinado à Polícia
Civil do Estado, para a
qual o Governo Silval
Barbosa reservou apenas
R$ 9 milhões para o ano
de 2014. Esse ano, a
Polícia recebeu cerca de
R$ 13 milhões, valor que
será diminuído em mais
7% para o próximo ano.
Com crimes
pipocando por todo o
estado, a sensação de
insegurança permeando a
vida do cidadão comum,
latrocínios e assaltos
virando rotina nos
noticiários, a Polícia Civil
Judiciária, que é
responsável pela
assistência e segurança da
população, recebe verba
irrisória do Governo,
segundo representantes de
sindicatos da classe.
Falta de prioridade
também se encontra na
Secretaria do Trabalho e
Assistência Social (Setas),
comandada por Roseli
Barbosa, que destinou
verba superior ao
orçamento anual da
polícia e adquiriu
roupas de cama no
valor de R$ 10 milhões,
conforme havia
noticiado o
Circuito
Mato Grosso
em sua
edição 457.
Lado sombrio são
os bolsões de pobreza,
com áreas visíveis da
miserabilidade do povo
mato-grossense, onde
os valores do Fundo de
Erradicação da Pobreza
vêm crescendo
vertiginosamente. Em
2012, o montante
destinado ao combate à
miséria foi de R$
69.514.294,00 e o
projetado para 2014 é
de R$ 112,952.966,00;
um aumento de 62,49%
para um IDH que não
cresce, e essa parcela
da população continua
em situação de
vulnerabilidade social e
econômica, segundo a
LOA (veja comparativo
abaixo).
Essa gestão sai de um escândalo
e cai em outro, diz deputada
Compras de cadeiras
superfaturadas de estádio,
sucateamento do MT Saúde,
obras superfaturadas, erros
nas obras da Copa, é assim
que vive o Governo Silval
Barbosa, denuncia a
deputada Luciane Bezerra:
“É um escândalo atrás do
outro!”. A deputada afirma
que a maioria dos políticos
precisa escutar mais o povo
que deu recado direto nas
manifestações: quer o fim da
corrupção, mais saúde e
educação eficiente. Esse
mesmo povo que pede o
básico para ter o mínimo de
dignidade é aquele que
paga impostos, mas não tem
o retorno do Estado,
continua Luciane.
“O que mais me revolta
é que a saúde de Mato
Grosso faz parte da matriz
de responsabilidade para a
Copa do Mundo e o
Governo do Estado não está
fazendo nada para cumpri-
la”, descarrega a
parlamentar. “Temos por
volta de 700 leitos de UTI no
estado inteiro para uma
população de mais de 2
milhões de pessoas, fora os
visitantes durante a Copa. O
que esse governo fez desde
que Cuiabá foi escolhida
sede?”, questiona.
Outro ponto discutível
neste governo é a respeito
da educação que,
comprovadamente, não
anda bem tanto em estrutura
física como na valorização
do material humano que
compõe o quadro do
magistério. Com o setor em
greve há mais de 40 dias, o
governo rechaçou com ação
de ilegalidade declarada
pela Justiça e com ameaças
de corte de salários e
processos administrativos
contra os professores em
estágio probatório. Luciane
Bezerra diz: “O povo mato-
grossense quer é dignidade,
trabalhar, cumprir nossos
compromissos, educar
nossos filhos”. Para isso, o
governo precisa alicerçar a
educação, a saúde e a
segurança, atestou.
Para ludibriar a
população, acusa a
parlamentar, o governo só
fala em ‘milhões’ porque
sabe da pouca capacidade
dos mais humildes em
assimilar os valores
declarados: “Por que não
falam em porcentagem? Por
exemplo, na saúde se gasta
‘tantos por cento’; não falam
porque essa porcentagem é
pequena demais”.
é a construção de 40 pontes
em todo o estado, assim
como os ínfimos 600 km de
asfaltamento mostrados que
ficam muito aquém da
necessidade da população.
Um vídeo animado e
‘outdoors’ distribuídos pela
cidade informam sobre 56
obras que o Governo do
Estado está realizando e
onde está integrada a matriz
de responsabilidade da
Copa 2014. Esse é outro
exemplo da nebulosidade
das propagandas
institucionais cujas obras, com
exceção das ligadas ao
Campeonato Mundial de
Futebol, não são elencadas
nem especificadas pela
Secretaria de Estado de
Comunicação Social
(Secom), comandada pelo
paulista Carlos Eduardo
Tadeu Rayel.
“Quero saber quem vive
no Mato Grosso da
propaganda do Estado: eu
não vivo. Eu não conheço
aquelas escolas que
aparecem nas propagandas
do governo. Eu não ando
naquelas estradas”, assim
desabafa a deputada
estadual Luciane Bezerra
(PSB) que, após perder sua
avó pela espera por um leito
em uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), criticou o
estado caótico da saúde em
Mato Grosso.
A deputada lista que a
propaganda mais enganosa
do governo é sobre a
educação: “Na minha região
tem crianças estudando
debaixo de lona, debaixo de
árvores. Não se pode colocar
ar-condicionado porque as
escolas não possuem suporte
energético”. E continua: “Esse
governo não senta para
discussão séria sobre
educação e alunos e
professores vão acabar
perdendo o ano letivo”.
Luciane arrola a situação
das estradas como outra
propaganda irreal: “Eu ando
nas estradas de Mato Grosso
e não são aquelas que são
mostradas”. Continua
dizendo que o secretário
Rayel teve “a coragem de
fazer uma propaganda
dizendo que o governo havia
feito 600 km de asfalto e 40
pontes, sem conhecer a
realidade do estado”. Relata
a parlamentar que a Secom
compra horário nobre nas
TVs para se vangloriar de
‘coisinha pequena’ e lançou
desafio ao secretário Rayel:
“Tenha vergonha e vá visitar
o interior e ver o que as
chuvas fazem com essas
pontes todo ano. É muita
hipocrisia!”.
moradora. Joelma contou
à reportagem que
recentemente perdeu boa
parte dos móveis, roupas
e documentos, que foram
arrastados com a água
das chuvas. Sem qualquer
assistência na questão da
moradia, Joelma diz temer
que ao invés de uma
casa, ganhe “um cantinho
no céu para viver”.
Ou t doo r e s pa l hando a s 56 ob r a s que n i nguém s abe qua i s s ão
Os p r o f e s s o r e s em g r e v e ‘ en t e r r am’ o gov e r nado r
S i l va l Ba r bo s a pe l a ‘mo r t e ’ da educação em MT
De pu t ada L u c i an e
Be z e r r a s en t i u na pe l e
o caos da saúde no
E s t a d o
C i dadão s ma t o - g r o s s e n s e s a i nda em
s i t uação de mi s é r i a s oc i a l e e conômi ca
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