CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 3 A 9 DE OUTUBRO DE 2013
POLÊMICA
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Governo fala em investimentos, mas especialistas e órgãos ligados ao turismo afirmam que falta infraestrutura básica nas cidades.
Por Diego Frederici. Fotos: Mary Juruna
TURISMO
Setor cobra aporte de R$ 300 milhões
A despeito das
afirmações do secretário
de Turismo de Mato
Grosso, que afirma que o
Estado vem investindo
mais de R$ 300 milhões
na área com vistas à
Copa do Mundo 2014,
especialistas e
representantes de órgãos
ligados à área afirmam
que falta até mesmo o
básico em cidades com
atrações históricas ou
belezas naturais, e que
hoje o poder público
“apaga incêndios”, por
conta de promessas que
não foram cumpridas. Esta
semana o governador
Silval Barbosa chegou a
levar um grupo de
representantes do setor
para visitar a Arena
Pantanal e a divulgar que
todos saíram satisfeitos do
encontro. No entanto, não
é isso que o
Circuito
Mato Grosso
constatou.
Rejane Pasquale é
coordenadora do curso de
Turismo da Unirondon.
Segundo ela, a principal
deficiência para o
desenvolvimento do
campo em Mato Grosso é
a falta do produto turístico
formatado, isto é, a
atração desejada – seja
ela natural, cultural ou
histórica – e a
infraestrutura por trás
dessa demanda, como
hotéis, transportes,
divulgação e marketing.
Ela critica o Estado
dizendo que ele não tem
seguido o plano nacional
do Ministério do Turismo
para fomento da
atividade.
“Temos o atrativo,
Ao contrário do SãoGonçalo,
Porto será revitalizado
Diferente da
realidade do São
Gonçalo Beira Rio –
região que não conta
atualmente com nenhum
projeto de infraestrutura
turística da Prefeitura de
Cuiabá -, o bairro do
Porto, berço da Capital
mato-grossense, passará
por uma ampla
revitalização, e cujo
investimento previsto é
de R$ 28 milhões num
trecho de 1,3 km. Os
empresários que
ganharem a concessão
terão 30 anos para
explorar o espaço, de
acordo com o secretário
municipal de Turismo,
Marcus Fabrício.
Para o secretário, o
projeto irá beneficiar
não só a cidade, mas
toda a região da
Baixada do Vale do Rio
Cuiabá, composta por
municípios de grande
tradição turística, de
nível nacional, como
Chapada dos
Guimarães e Poconé, no
Pantanal, distantes 64 e
102 km da Capital,
respectivamente. O
comércio que existe ali,
no entanto, deverá
deixar o local para dar
espaço ao
empreendimento.
“Nessa nova
projeção, pretendemos
fazer ali não só um
atrativo turístico mas
tambémcultural. Será
construído um teatro de
arena com capacidade
para 800 pessoas, pista
de ciclovia e de
caminhada, bares,
quiosques e restaurantes.
O comércio que existe
hoje ali, porém, já foi
notificado e deverá
deixar o local. Os
empreendedores que
irão compor o Novo
Porto poderão explorar
comercialmente a área
por 30 anos, por meio
de uma concessão”, diz
ele. Fabricio destaca o
potencial turístico não só
da região como de todo
o Estado. Segundo ele,
98% dos turistas que
visitam Mato Grosso
estão aqui atrás de
negócios, e apenas 2%
fazem o chamado
“turismo de lazer”, para
recreação. O desafio é
manter o nível de
interesse nos negócios, e
aumentar o percentual
das pessoas que se
interessam pela cultura e
gastronomia. “De 100%
dos turistas que visitam o
Estado, 98% estão aqui
basicamente para fechar
negócios ou participar de
convenções. Os outros
2% são aqueles turistas
de lazer, que procuram a
região em busca da
cultura, arquitetura,
gastronomia e demais
atrações. Já pensando
na Copa do Mundo,
temos que manter o
suporte de hotéis e
infraestrutura aos
executivos que nos
visitam, mas precisamos
aumentar a circulação de
turistas de lazer”, diz ele.
Em se tratando
apenas de Cuiabá, que
receberá o maior número
de turistas para o
Mundial, um exemplo de
falta de estrutura e
incentivos para o fomento
da atividade pode ser
encontrado num dos locais
mais tradicionais da
Falta fomento para São Gonçalo Beira Rio
capital mato-grossense: as
peixarias do bairro São
Gonçalo Beira Rio.
Conhecido por ser um
dos pontos de maior
procura na cidade para
quem busca artesanato e
pratos típicos de Cuiabá,
o local pode perder um
de seus principais
atrativos: a degustação de
peixes, como pintado e
pacu, às margens do rio
que dá nome à capital do
Estado.
Um estudo realizado
em julho deste ano pela
Secretaria de Estado do
Meio Ambiente,
encomendado pelo
Ministério Público
Estadual, ao qual o
Circuito
teve acesso,
apontou que
“significativas alterações
dos ambientes naturais
foram atribuídas à
ocupação urbana” e que
o turismo atual
“desencadeou a
ocupação desordenada,
com construções
irregulares diretamente no
talude do rio Cuiabá” e
sugere a “adequação e
retirada das barracas
instaladas no talude do rio
e na praia”.
Assinado por duas
analistas da Secretaria de
Estado de Meio Ambiente,
o documento preocupa
alguns moradores que se
utilizam dos poucos
recursos que dispõem
para investir nas
atividades que garantem
sustento às famílias
envolvidas nessa atividade
de subsistência.
Rafaela Rúbia dos
Santos é proprietária de
uma das 20 peixarias que
atendem os turistas e
pessoas que vão atrás de
boa comida. A jovem, que
mantém o comércio junto
de seus familiares, queixa-
se da falta de
investimentos do poder
público, dizendo que o
pouco que faz de
melhorias para o local é
realizado com muito
esforço, com os próprios
recursos. “A prefeitura fala
que vai arrumar, que vão
ampliar o espaço, mas
não vemos ações. Tudo
que fazemos aqui para
melhorar é aos poucos,
juntando dinheiro mês a
mês, pois nenhum dinheiro
público é investido aqui”,
diz ela.
Alguns comerciantes
podem ter um grande
prejuízo com a ação,
colocando em risco a
própria viabilidade do
negócio. Caso de Flávio
Henrique de Barros, que
investiu R$ 25 mil num
espaço coberto para as
pessoas se reunirem em
frente ao seu restaurante,
na margem do rio.
Apenas em aterramento,
para evitar que a erosão
desbarranque o local,
Flávio afirma que 80
caminhões de terra foram
utilizados na obra, e
denuncia que a Sema e o
Ministério Público estão
fazendo uma abordagem
ambiental e não social do
problema.
“Os comerciantes
daqui não são pessoas
com poder aquisitivo alto.
São famílias
remanescentes de
gerações anteriores que
encontraram no artesanato
e na culinária formas de
sobreviver. O MP e a
Sema estão com um olhar
ambiental do assunto e
não social. Se perder esse
investimento que fiz com
muito esforço, vou fechar
minhas portas”, lamenta
ele.
mas possuímos
deficiências em todos os
outros serviços e estruturas.
A iniciativa privada faz um
papel importante, mas tem
um limite, tendo em vista
que não possui a ajuda
do poder público, que tem
o papel de fomentar e
planejar o turismo,
criando um plano de
desenvolvimento turístico
para a região. O governo
estadual já teve bons
momentos, mas hoje
apaga incêndios, além de
não seguir o plano
nacional do ministério”,
critica ela.
Rejane afirma que
Cuiabá é um dos locais
do país mais privilegiados
em relação a belezas
naturais, dizendo ser um
ponto estratégico ao
afirmar que, ao mesmo
tempo em que se encontra
a 65 km dos cânions,
cachoeiras e rios de
Chapada dos Guimarães,
também está a 100 km do
Pantanal, situado em
Poconé. Ela afirma ainda
que a região
metropolitana possui
grande demanda para o
turismo de negócios e
eventos e que, apesar das
dificuldades, o mercado
de trabalho está
aquecido.
“O que observo é que
o turismo em Cuiabá e no
entorno tem um potencial
completo, que abrange o
histórico, cultural, de
negócios e natural .
Estamos a 100 km do
Pantanal e ao lado de
Chapada dos Guimarães,
por exemplo. Eventos e
negócios, porém, são o
foco específico de
Capital. Demanda por
profissionais nós temos, e
o mercado está aquecido.
Em torno de 60% dos
meus alunos estão no
mercado de trabalho”, diz
ela.
Na mesma linha, o
presidente da Associação
Brasileira da Indústria
Hoteleira, seccional Mato
Grosso, Conrado Vitali,
também lamenta a falta
de iniciativa do poder
público. Embora a
Organização Mundial do
Turismo (OMT) afirme que
a área crescerá no Brasil
5% ao ano, até 2020,
Vitali pondera que não se
vê dinheiro investido nesse
segmento, e que a região,
apesar de possuir belezas
naturais, não oferece o
suporte necessário ao
turista.
“É preciso
modernização das
estruturas que dispomos.
Fala-se em investimento
no turismo do Estado, mas
a verdade é que não
vemos esse dinheiro em
lugar nenhum. Não
podemos vender um
turismo que não temos.
Uma paisagem sem um
hotel, transporte ou
restaurante que dê suporte
ao turista é só uma
paisagem”, sintetiza ele.
S i l v a l Ba r bo s a v i s i t a A r ena Pan t ana l com r ep r e s en t an t e s do
s e t o r, a f i rmando que e l e s s a í r am “ s a t i s f e i t o s ” com o encon t r o
Pa r a o p r e s i den t e da As s oc i ação B r a s i l e i r a da
I ndú s t r i a Ho t e l e i r a - s e c c i ona l Ma t o Gr o s s o ,
Con r ado V i t a l i , o E s t ado não pode v ende r um
t u r i smo que não t em
F l á v i o Hen r i que de Ba r r o s , um do s come r c i an t e s
do São Gonça l o/Be i r a R i o , pen s a a t é em f echa r
s eu r e s t au r an t e s e pe r de r os i nv e s t imen t os que f e z
Espaço na beira do rio Cuiabá construído por Flávio
Henrique de Barros teve investimento de R$ 25 mil e
contou com 80 caminhões para fazer o aterramento
Pr o j e t o Po r t o Cu i abá cu s t a r á R$ 28 mi l hõe s e
da r á conc e s s ão de e x p l o r ação do negóc i o po r
30 anos pa r a quem vence r o ce r t ame