CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 26 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2013
CIDADES
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CUIABÁ, 26 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2013
POLÊMICA
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FALTA D’ÁGUA
Obra do VLT prejudica abastecimento
Ineficiência da CAB, aliada a obras feitas de forma irresponsável, gera mais “dor de cabeça” a moradores de Cuiabá.
Por Camila Ribeiro – Fotos: Mary Juruna
Não bastasse a
ineficiência do trabalho
prestado pela CAB Cuiabá –
concessionária que administra
os serviços de água e esgoto
na Capital
mato-grossense –,
moradores de alguns bairros
da cidade agora passam a
conviver com um novo
dilema: obras do Veículo
Leve sobre Trilhos (VLT) estão
rompendo adutoras e,
consequentemente, afetando
ainda mais o abastecimento
de água em algumas
regiões.
Diante deste cenário, o
Ministério Público Estadual
(MPE), que já havia aberto
23 inquéritos para apurar
denúncias contra a CAB, tem
agora que verificar as
consequências geradas pela
obra do novo modal de
transporte aos moradores de
Cuiabá.
Em alguns casos, a
Secretaria Extraordinária da
Copa (Secopa) precisa fazer
pedidos de intervenção na
rede de abastecimento junto
à CAB, para que
determinada obra de
mobilidade urbana seja
CPI da CAB finalmente sai do papel
Depois de duas tentativas sem sucesso, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Câmara de Vereadores para investigar o contrato de concessão da água na Capital
finalmente saiu do papel. “Vamos dar início aos trabalhos de investigação com uma análise
minuciosa do contrato, verificar quais são as obrigações da concessionária e o que pode ser
mudado”, assegurou o vereador Renivaldo Nascimento (PDT), que irá presidir a CPI.
O parlamentar alegou ainda que a intenção é saber se a CAB Cuiabá realmente tem
condições de cumprir as cláusulas contratais que preveem a universalização da água em três
anos e do saneamento em 10 anos. A CPI tem como relator o republicano Chico 2000 e o
tucano Ricardo Saad como membro titular.
O prazo para investigação é de 90 dias,
prorrogável por igual período.
“Precisei comprar
um novo reservatório de
água porque a caixa
d’água que tinha não
era suficiente para as
necessidades da casa.
Aqui nós recebemos
água uns três dias por
semana. Ainda por
cima, quando a água
vem, tem que ficar
esperto porque começa
umas 5 horas da manhã
e acaba lá pelas 10 da
manhã.”
Lucinei Neves da
Silva, 52, dona de
casa – Bairro Jardim
a – Bairro Jardim
V i t ó r i a
“Há 25 anos eu moro
no Jardim Vitória e antes a
gente não tinha esse
problema de falta d’água.
De uns seis meses pra cá
que começou essa
dificuldade. Há três meses
a água chega sem força
pra subir na caixa.
Compro água para beber
e baldeio água da casa
da minha mãe para outras
necessidades. De uns
tempos pra cá, banho aqui
em casa é só de caneca.”
Antônio Gonçalves
Sena, 56, piloto
agrícola – Bairro
a
Jardim Vitória
“Além da falta
d’água, a qualidade
também não é boa. A
água é salobra, pra
gente cozinhar só se
for com água mineral.
Não dá nem pra fazer
um chá com a água
que chega pra gente.
Se passa um caminhão
vendendo água na
rua, a gente acaba
tendo que comprar, já
que a água da rua é
de péssima
qualidade.”
Abena i r Soares ,
40 – Bairro Canaã
ENQUETE
realizada. No mês de agosto,
por exemplo, foram
realizadas 96 solicitações
deste tipo.
O problema, contudo, é
que muitas vezes existe um
trabalho feito de forma
irresponsável por parte das
empreiteiras que realizam tais
obras, ao menos é o que
atesta o promotor de Justiça,
Ezequiel Borges. “Além do
problema do
desabastecimento que é
inerente ao serviço por parte
da concessionária (CAB),
existe essa situação adicional
em algumas regiões da
cidade, que estão sendo
afetadas pela
irresponsabilidade dessas
empreiteiras que prestam
serviço à Secopa”.
Segundo o promotor, o
consórcio VLT-Cuiabá,
responsável pelas obras de
implantação do modal,
estaria rompendo tubulações
e adutoras, e em
consequência disso o
abastecimento de água na
cidade “que já é um
problema sério, está se
agravando ainda mais”,
assegura.
Ainda de acordo com
Borges, notadamente, os
problemas mais frequentes de
desabastecimento têm
ocorrido em regiões onde
estão sendo executadas
obras de implantação do
VLT, como a Avenida
Fernando Corrêa da Costa, a
Avenida do CPA e alguns
bairros na região do Coxipó.
Alguns locais, por exemplo,
chegam a ficar mais de 30
dias sem o abastecimento de
água.
O promotor alega que,
por meio dos inquéritos
instaurados, o MPE está
realizando um levantamento
– que envolve usuários de
diversos bairros da Capital
que reclamam dos longos
períodos sem abastecimento
– a fim de identificar os
problemas. Ezequiel Borges
explica que a CAB tem
obrigação de diminuir os
efeitos das interrupções e
para isso o MPE buscará uma
resolução, seja por meio de
um acordo com a
concessionária ou mesmo por
uma medida judicial.
GREVE
430 mil alunos ‘ao léu’ no estado
Sindicato alega intransigência, governo diz que está no limite e alunos acabam com ano letivo comprometido.
Por Camila Ribeiro . Fotos: Mary Juruna
Passados mais de 40
dias, cerca de 440 mil
estudantes continuam fora
das salas de aula em Mato
Grosso, em decorrência da
greve dos profissionais da
rede estadual de educação.
De um lado estão os
trabalhadores que travam
uma luta diária com o
governo em busca de reajuste
salarial e melhorias nas
escolas. De outro, pais e
familiares de alunos, que
mesmo entendendo o direito
à greve, se veem aflitos por
conta do calendário escolar
que já está comprometido.
Cerca de 90% dos 38
mil trabalhadores da
educação que aderiram ao
movimento grevista alegam
“intransigência” do governo
em atender às reivindicações
apresentadas. Diante do
impasse, em todo o Estado
existem aproximadamente
730 escolas com as
atividades paralisadas. Além
de prejudicar o ano letivo dos
alunos, o movimento grevista
também faz com que as
crianças fiquem com muito
tempo ocioso e,
consequentemente, mais
suscetíveis aos ‘perigos da
rua’. “A gente entende que os
professores precisam da
greve para conseguir
melhorias.
O problema é que
uma paralisação como esta
acaba atrapalhando todo um
planejamento familiar. As
férias das crianças, por
exemplo, ficam prejudicadas.
É algo que compromete o
ano letivo de nossos filhos”,
alegou Nalva Justino, 33,
mãe de uma estudante de 11
anos, que cursa o 6º ano do
ensino fundamental.
A preocupação de dona
Nalva não é infundada já
que, conforme advertiu o
próprio Sindicato dos
Profissionais da Educação
(Sintep-MT), o calendário
escolar, que deveria se
encerrar em dezembro, já é
certo que irá se estender pelo
menos até janeiro de 2014.
Por conta da queda de
braço travada entre o
governo e grevistas, também
sobram críticas ao secretário
de Estado de Educação,
Ságuas Moraes e ao
governador Silval Barbosa.
“Governador e secretário
precisam ‘se mexer’ e entrar
em um acordo com os
professores, porque do jeito
que está não dá para
continuar”, argumentou a
agente de saúde Renata
Cristiane Vieira.
“O governador só quer
saber de deixar o problema
para o próximo governante.
Ele não está sendo nenhum
pouco justo, bom seria se ele
resolvesse o problema ao
invés de ficar fazendo
propostas com falsas
verdades”, completou Nalva
Justino.
Os profissionais da
educação pedem um reajuste
salarial de 10,4%, a inclusão
da hora-atividade para os
professores contratados, a
posse dos aprovados no
último concurso público e a
destinação de 35% dos
recursos da arrecadação do
Estado à educação,
conforme prevê a
Constituição Estadual.
Na última semana, em
assembleia da categoria, os
profissionais rejeitaram a
proposta do governo, que se
propôs a conceder reajuste
parcelado, sendo que o valor
pleiteado pela categoria seria
alcançado somente em
2023.
Diante da proposta
apresentada pelo governo e
que foi classificada como
“vergonhosa” pela categoria,
os profissionais prometem
intensificar o calendário de
mobilizações e endurecer as
críticas à gestão estadual.
Nesta quinta (26), um ato
público dos grevistas está
marcado no Centro Político
Administrativo. (Colaborou
Valquíria Castil)
Cr i ança s que de v e r i am e s t a r na s a l a de au l a
pe r ambu l am pe l a s r ua s enquan t o o s pa i s t r aba l ham
CALOTE
Secopa admite atraso às empreiteiras
Secretário Maurício Guimarães jogou a culpa no Dnit pelo atraso nos repasses a empreiteiras contratadas.
Por: Sandra Carvalho. Fotos: Mary Juruna
A Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa) reconheceu o
atraso nos repasses feitos a
empreiteiras que executam
obras de mobilidade
urbana na Capital,
conforme foi relatado em
matéria da edição 458
d o
Circuito Mato
Grosso
,
que
circulou
na
quinta
(19).
Embora
o
secretário
Maurício
Guimarães
tenha
dito à
reportagem
que não
havia atrasos, acabou
sinalizando em seguida
que esperar receber R$
102 milhões do
Departamento Nacional de
Infraestrutura de
Transportes (Dnit), para
regularização dos repasses
atrasados.
A falta de repasses por
parte da Secopa às
empreiteiras gerou um
verdadeiro imbróglio, já
que as contratadas se
viram impossibilitadas de
efetuar os pagamentos às
empresas terceirizadas.
O
fato provocou, inclusive,
pedidos de demissão de
muitos operários
descontentes com a
situação.
O mestre de
obras Pedro Pereira da
População está descrente quanto à conclusão
Pavimentação ‘pra inglês ver’
Além da construção
da Arena Pantanal, estão
previstas obras de
pavimentação em ruas
diversas no entorno do
estádio que irá receber
quatro jogos da Copa.
O
cronograma revela que a
previsão para término
destas obras – orçadas em
R$ 2,8 milhões – é janeiro
do próximo ano.
O
problema, é que em casos
como os de algumas ruas
do Bairro Jardim Cuiabá,
não há sequer 1% de
conclusão, segundo
aponta o último relatório
de acompanhamento
divulgado pelo TCE.
“Aqui na (Rua) 11 de
Pe l o meno s po r enquan t o , a s ob r a s da Copa
muda r am a v i da da s pe s s oa s pa r a p i o r. É o
que acon t e c eu , po r e x emp l o , com Van i l do
Soa r e s , 59 anos , que t r aba l ha f a z endo f r e t e s e
mudança s e há 17 anos e t i nha como “pon t o”
mudança s e há 17 anos e t i nha como “pon t o”
a en t r ada da Fe i r a do Ve r dão . “Quando
a l guém p r e c i s ava , j á i a d i r e t o l á me p r ocu r a r.
Como o l oca l f o i i n t e r d i t ado , ago r a f i co aqu i
em f r en t e à Ar ena Pan t ana l , mas não é t odo
mundo que s abe , en t ão o s e r v i ço ca i u pe l a
me t ade ” , r e l a t a o t r aba l hado r que d i z não
e s t a r con f i an t e quan t o à con c l u s ão da s ob r a s
a t empo do Mund i a l . “ Eu de s con f i o que não
vá da r t empo não , s e de r, va i s e r ó t imo ,
po r que a c i dade v i r ou um ‘ deu s no s ac uda ’ ” .
Maio a gente observa um
trabalho legal, a rua será
alargada e vai facilitar
muito o acesso de
veículos, além de valorizar
as residências aqui da
região.
Essa é uma obra que
eu acredito que vai ficar
pronta, mas em relação às
outras eu tenho as minhas
dúvidas. Acredito que
faltou planejamento, as
coisas começaram a ser
feitas tudo de uma vez só,
em cima da hora, tenho
medo de que muitas
coisas fiquem pela
metade”, pontuou o
pedreiro Adilson Roberto
Soares.
Ao contrário do que
propagavam Governo do
Estado e Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa), o mês de
setembro vai chegando ao
fim e o tão falado
‘calendário de
inaugurações’ das obras
da Copa em Cuiabá não
saiu do papel. A menos de
nove meses para a
realização do Mundial de
2014, a população ainda
não pode usufruir de
nenhuma grande obra do
pacote de mobilidade
urbana.
Os sucessivos
anúncios e cancelamentos
de inauguração fazem
com que a população
fique descrente quanto à
conclusão de algumas
obras em tempo hábil da
Copa do Mundo. Por
exemplo: a Trincheira do
Santa Izabel, orçada em
R$ 26,3 milhões. Com
previsão de entrega para
o final deste ano, o ritmo
dos trabalhos no canteiro
de obras preocupa não
somente à população
como também aos órgãos
fiscalizadores. Recente
relatório divulgado pelo
Tribunal de Contas do
Estado (TCE), por
exemplo, mostra que a
obra da estaria com o
cronograma atrasado em
dois meses e não vem
apresentando avanços
significativos.
“Moro aqui na região
e sinceramente não
acredito que esta obra irá
ficar pronta.
Os operários
parecem que não
trabalham. Ficam sentados
e com isso o tempo vai
passando. Eu passo aqui
todo dia e não vejo
avanço nenhum”, declara
a estudante Karita
Gonçalves.
A dona de casa Erica
Regina Silva também fica
com ‘pé trás’ quando o
assunto são as obras da
Copa em Cuiabá. “Se a
obra vai ficar pronta, eu
não sei.
O que eu tenho
certeza é que ela trouxe
muitos problemas pra
gente.
Muita poeira, as
crianças acabam
adoecendo com mais
facilidade. Isso sem falar
na dificuldade de andar
por aqui, os desvios
parecem que não têm
mais fim. Por enquanto as
coisas estão feias por
aqui”.
Costa, que trabalhava na
construção da Trincheira do
Santa Rosa, que está sob
responsabilidade Camargo
Campos S.A Engenharia e
Comércio, é um dos que
não suportou a situação.
Ele trabalhava para a
terceirizada FCA
Engenharia e relatou que,
não bastasse a
falta de
pagamento, os
salários
estavam sendo
feitos aos
poucos. “O
funcionário
trabalha
certinho, mas
chega no dia
de receber
não recebe. A
minha
remuneração
era de R$ 3.500, sendo R$
2.100 na carteira de
trabalho,
mas teve dia em
que eu recebi somente R$
200”, alegou o trabalhador
ao mostrar indignação com
a situação.
O ajudante de obras
Agnaldo Matos também se
diz desesperado. “Pedi
demissão porque não dava
mais para suportar os
atrasos. E isso não é de
hoje, já houve greves aqui,
os trabalhadores estão
indignados, e com razão.
Chega a um ponto em que
a gente precisa pedir a
conta”, afirmou Matos.
O
problema, contudo, é que
os profissionais que
pediram demissão alegam
que a FCA Engenharia
estaria retendo a carteira
de trabalho dos
trabalhadores. “Veja só: a
gente não recebe, sai do
lugar, encontra outro
emprego, mas não pode
trabalhar porque a
empresa, além de não
pagar o trabalhador, ainda
se recusa a devolver a
carteira de trabalho. Hoje
O mês de setembro
vai chegando ao fim
e o tão falado
‘calendário de
inaugurações’
das obras da Copa
em Cuiabá não
saiu do papel...
mesmo um homem que
trabalhava na obra veio
aqui e armou uma
confusão, porque já
arrumou outro serviço, mas
já está perdendo, porque
não apresenta a carteira de
trabalho. Teve até polícia
aqui, as pessoas acabam
perdendo a cabeça”,
relatou o ajudante de obras.
Boa pa r c e l a da popu l ação e s t á de s c r en t e quan t o à
con c l u s ão da s ob r a s a t empo do Mund i a l .
E r i ca Reg i na d i z que e s t á com ‘ um pé a t r á s ’
em r e l ação às ob r as e d i z não sabe r
s e t r i nche i r a s e r á f i na l i z ada a t empo
Na Rua da s Begôn i a s , po r e x emp l o ,
o s bu r aco s s ão mu i t o s , ma s a s
ob r a s a i nda s ão i ne x i s t en t e s