CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 29 DE AGOSTO A 4 DE SETEMBRO DE 2013
PANORAMA
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TAEKWONDO
Apesar das dificuldades, muitos títulos
Atletas de alto rendimento lutam dentro e fora do tatame em busca de incentivos para profissionalização.
Por: Diego Frederici. Fotos: Pedro Alves
O taekwondo, arte
marcial de origem coreana,
vem crescendo e já conta
com mais de 1.700 atletas
no Estado. A rotina de
treinos e um bom
planejamento nutricional e
físico são essenciais para
aqueles que se destacam e
querem trilhar o caminho
das competições. Nesse
sentido, os mato-grossenses
podem se orgulhar pelos
praticantes de alto nível que
carregam a bandeira azul e
branca. Alguns deles,
entretanto, são de origem
humilde, não podendo se
dedicar da maneira correta
ao estilo.
Carlos Flávio Souza
Gama é um deles.
Campeão dos principais
torneios já realizados no
país (Brasil Open, Copa do
Brasil, entre outros), o
jovem de 19 anos já
integrou a seleção
brasileira de taekwondo,
tendo disputado torneios
nos Estados Unidos e no
Egito. Com poucos
recursos, entretanto, não
pode se dedicar de
maneira adequada ao
esporte, que exige
infraestrutura básica para
atingir os resultados.
“O apoio da minha
família sempre foi
importante, eles sempre
me apoiaram. Mas não
participo de muitos
campeonatos porque meu
pai, mototaxista, não tem
condições de me bancar
até os locais, pagar
estadia, alimentação etc.
Não lutando, deixo de ter
experiência. Também não
posso recorrer sempre a
sessões de fisioterapia,
não permitindo que eu
realize treinos de alto
impacto, ideais para
competição”, diz ele.
Carlos treina na
Rotina de treinos pesados em busca do pódio
“Minha vida seria bem
diferente semo taekwondo”
Além de ser um
caminho que pode
proporcionar contatos
com outras culturas e
destaque do ponto de
vista profissional, o
taekwondo também é
uma opção para
aqueles que buscam
uma vida emocional
mais equilibrada, saúde
mental e física, sem
distinção de idade. Nas
palavras da praticante
Juliana Alves, o esporte
mudou sua vida, e que
a visão que ela tem
hoje seria bem diferente
sem ele. “O taekwondo
é um estilo de vida. Ele
consegue juntar
disciplina, autocontrole
e humildade, entre
outros benefícios. Minha
vida seria bem diferente
se não tivesse a
influência dessa arte
marcial”.
O mestre Erozé
Viliagra afirma que para
formar um atleta olímpico
são necessárias mais de
dez mil horas de treinos,
o que equivale a dez
anos praticando
taekwondo. Para o mestre
da arte marcial coreana,
Carlos Flávio é uma
dessas promessas que
podem levar a Bandeira
do Brasil para disputar os
jogos, pois é um atleta
focado, e exalta o valor
do material humano do
Estado, destacando o
espaço que tiveram na
composição da seleção
brasileira de taekwondo,
na qual Mato Grosso
chegou a ter dois
representantes entre dez
atletas de todo o país.
“Nosso material
humano aqui é muito
bom. A seleção brasileira
masculina é composta por
dez atletas. Desse total,
apenas Mato Grosso
colocou dois deles,
praticamente sem apoio
algum. Quantos Estados
conseguimos deixar para
trás? Provamos que
somos capazes, e se
tivermos respaldo do
campo de vista
nutricional, psicológico,
se pudermos fazer
intercâmbio entre
praticantes, podemos
alcançar resultados muito
mais promissores”, diz
ele. A despeito das
dificuldades, a rotina
segue firme na Academia
Viliagra. De olho no
Campeonato Brasileiro,
que acontecerá em
setembro no Pará e da
Copa Brasil, a ser
realizada em Goiás, em
novembro, Erozé Viliagra
coloca as esperanças do
taekwondo mato-
grossense nos chutes dos
jovens praticantes, que se
desdobram para ter um
bom desempenho apesar
dos obstáculos.
“Estamos trabalhando
intensamente, todos os
dias, para disputar a
Campeonato Brasileiro
em setembro, no Pará, e
a Copa do Brasil em
Goiás, no início de
novembro. Estamos
focados, pois tenho plena
convicção de que todas
as nossas categorias
podem se sobressair. Aqui
na academia, os atletas
de competição precisam
se dedicar no mínimo três
horas por dia, para
chegar lá e fazer bonito”,
finaliza Erozé.
Academia Viliagra, do
mestre Erozé Viliagra, no
bairro do CPA. Sob sua
tutela, alguns outros
praticantes também já
tiveram destaque, caso de
Lirio Vezaro, que também
disputou o torneio em Las
Vegas, e da estudante de
Psicologia da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT)
Juliana Alves de Almeida
Silva, primeira campeã
juvenil mato-grossense,
homenageada, em 2011,
pela Assembleia
Legislativa do Estado,
como uma das mulheres
com maior destaque na
sociedade.
Porém, manter-se em
alto nível não é fácil. Erozé
Viliagra, que é 6º Dan de
Faixa Preta, já dedicou 28
anos de sua vida ao estilo,
tendo em vista que assim
que um atleta chega à
faixa preta, ele obtém
apenas o primeiro de dez
Dan’s. Muita coisa mudou
segundo ele, como os
métodos de dar aula, as
regras de competição,
material para treino e a
própria proteção para os
combates. O investimento,
que inicialmente sai do
bolso dos atletas, no
entanto, continua o mesmo.
“Os praticantes tiram
dinheiro do próprio bolso
para poder viajar para as
competições, fazer
suplementação alimentar,
intercâmbio em outros
Estados e se manter
fisicamente aptos ao alto
rendimento. Esses atletas
precisam de apoio. Minha
luta é para que os
governos, além da
Federação Brasileira de
Taekwondo, revisem a
política de investimentos,
sobretudo nas categorias
de base, nos atletas de 15
a 21 anos”, analisa.
Me s t r e E r oz é V i l i ag r a s e o r gu l ha da ded i cação dos a t l e t a s em bu s ca da f a i xa p r e t a
A t l e t a Ca r l o s F l á v i o