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PANORAMA
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CUIABÁ, 29 DE AGOSTO A 4 DE SETEMBRO DE 2013
MEIO AMBIENTE
Fumaça nas áreas urbanas libera componentes químicos mais tóxicos, de acordo com consultor da Acrimat.
Por Diego Frederici. Fotos: Mary Juruna e reprodução
“Queimada urbana é pior que florestal”
Mato Grosso é um
dos Estados Brasileiros
que mais sofrem com o
tempo seco. Situado entre
a Linha do Equador e o
Trópico de Capricórnio,
com clima
predominantemente
tropical, MT registra
anualmente recorde
nacional de ocorrências
no período em que a
prática é proibida. De
acordo com o economista
e consultor da Associação
dos Criadores Rurais de
Mato Grosso (Acrimat –
MT), Amado de Oliveira,
as queimadas feitas em
áreas urbanas são mais
perigosas do que as
realizadas no interior do
Estado, pois, segundo ele,
liberam substâncias
químicas mais nocivas do
que a queima de vegetais,
e lamenta a precariedade
de políticas públicas para
lidar com o problema.
“O incêndio urbano é
mais grave do que o
florestal. Se você olhar o
céu de Cuiabá, ou de seu
entorno, na região
metropolitana, vê mais
fumaça do que em
qualquer outra lugar. A
queimada urbana é mais
prejudicial, pois libera
substâncias químicas mais
nocivas ao meio
ambiente. Por isso, vejo
uma carência muito
grande, em relação a
políticas públicas de
prevenção e combate
desses focos. Carecemos
de um poder público mais
aparelhado”, analisa o
consultor.
Oliveira pontua que
na época da estiagem há
basicamente dois tipos de
incêndios: os voluntários e
involuntários, ambos
causados pela ação do
homem, em sua maioria.
O economista defende
ainda que os prejuízos da
queimada que sai do
controle, para os
pecuaristas, são bem
maiores do que para os
produtores de outros tipos
Segundo Famato, maioria dos
focos está na beira da estrada
Tangará registramaior
número de focos em 2013
Embora controversa do
ponto de vista ambiental, a
prática das queimadas é
permitida em determinadas
épocas do ano em Mato
Grosso. Utilizada, sobretudo,
por produtores rurais, tanto
de grãos quanto da
pecuária, ela acaba se
tornando uma solução
relativamente prática, de
baixo custo, para a
“limpeza” de uma área. Na
estiagem, no entanto, o foco
muda para a vegetação de
beira de estrada, tanto na
área urbana quanto no
campo. Para a analista
ambiental da Federação da
Agricultura e Pecuária do
Estado de Mato Grosso,
Lucélia Avi, a maioria dos
focos não são originados
pelos produtores nessa
época do ano. Ela afirma
que a beira das estradas –
em virtude da ação humana,
como fagulhas de pontas de
cigarro, por exemplo –
contribuem para o grande
aumenta do índice de
queimadas no período da
seca. “A prática de
queimada controlada é
permitida em alguns
períodos do ano, mas são
proibidas entre os dias 15 de
julho e 15 de setembro,
devido ao período da seca.
As beiras de estradas
acabam potencializando os
efeitos negativos do tempo
seco. Além disso, os índios
também utilizam para a
caça”, afirma ela.
A especialista ambiental
ainda pontua as
consequências negativas
para a natureza. “Toda área
de mata que passa por um
processo de queimada
acaba sofrendo as
consequências, do ponto de
vista da fauna e flora, que
podem levar anos para se
recuperar, dependendo da
área afetada”, diz ela.
Quase dois mil focos
de queimadas foram
registrados em Mato
Grosso no primeiro mês
do período proibitivo de
queimadas, de 15 de
julho a 15 agosto. De
acordo com dados
divulgados pelo Centro de
Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos do
Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais
(Ceptec/Inpe), as 10
cidades com mais registros
de focos, pela ordem,
são: Tangará da Serra,
Alto Boa Vista,
Campinápolis,
Comodoro, Gaúcha do
Norte, Paranatinga, Nova
Maringá, Juara,
Canarana e Ribeirão
Cascalheira. No total, o
estado registrou 1.985
focos no período.
Segundo a entidade,
dos 141 municípios mato-
grossenses, Tangará da
Serra, cidade a 242 km
de Cuiabá, foi a que
registrou maior número de
focos neste período: 112.
A cidade de Alto Boa
Vista, no nordeste do
estado, ficou em segundo
lugar com 109 focos de
calor em um mês.
Campinápolis, cidade que
fica a 565 km da capital,
ficou em terceiro lugar no
ranking com 103 focos de
calor. Cuiabá ficou em
13° lugar na lista com 39
focos de calor registrados
em 30 dias. Em todo o
ano de 2013, Mato
Grosso registrou 6.509
focos de queimadas.
Segundo o secretário
de Meio Ambiente de
Mato Grosso, José
Lacerda, quando são
identificadas as
queimadas, a equipe vai
ao local para combater o
fogo. A fiscalização em
terrenos baldios é feita
também por fiscais da
Secretaria de Meio
Ambiente do município,
que notificam e multam os
proprietários que ateiam
fogo nesses locais. O
valor da multa varia de R$
400 a R$ 3 mil. O
período de queimadas
deve continuar até o dia
15 de setembro.
DICAS DE MANEJO E PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS
LEGISLAÇÃO
TELEFONES ÚTE I S
IBAMA – 0800 61 8080
SEMA – 0800 65 3838
BOMBEIROS – 193
Fonte: Acrimat
de cultura, por exemplo.
“Para o pecuarista o
prejuízo é dobrado, pois,
além da degradação
natural do meio ambiente,
temos ainda o prejuízo da
falta de comida para o
rebanho. Nesses casos,
mesmo a pastagem
estando seca, em virtude
da estiagem, ela ainda
serve de alimento para o
gado, tendo em vista que
podemos adicionar sal
proteinado e ureia a
vegetação. Dessa
maneira, a criação pode
se alimentar bem”, opina
ele.
O consultor ainda dá
dicas de como lidar com
as queimadas (ver quadro
abaixo). Segundo ele, é
preciso fazer um
planejamento de
prevenção, combate e pós
incêndio, tendo em vista
que o produtor ou
morador da área urbana
pode responder
criminalmente, caso fique
provado que ele iniciou o
incêndio. Além disso,
Oliveira diz ainda que a
multa é pesada, podendo
passar de um milhão de
reais, dependendo do
tamanho da área
irregularmente afetada
pela prática.
“Assim que
constatado o foco de
incêndio, deve-se
arregimentar o maior
número de pessoas
possíveis para tentar
contornar a situação. As
propriedades rurais, por
exemplo, devem dispor de
abafadores e veículos,
como tratores e caminhões
equipados para dissipar
as chamas. A pessoa que
acha que pode ser
prejudicada pela ação
deve documentar o
incêndio, por meio de um
laudo técnico, para
conseguir provar que não
teve culpa, caso seja o
caso. Deve-se também
levar em conta a multa a
ser aplicada, que pode
facilmente ultrapassar um
milhão de reais”, finaliza
ele.
Fagu l ha s de pon t a s de c i ga r r o con t r i buem pa r a aumen t o do í nd i c e de que imada s na s e ca
Amado de Ol i v e i r a d i z que pe cua r i s t a t em p r e j u í z o
com a s que imada s , a l ém da deg r adação
Ana l i s t a amb i en t a l da Fama t o , L u c é l i a Av i apon t a
con s equên c i a s pa r a f auna e f l o r a