CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 8 A 14 DE AGOSTO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 7
PARALELO 15
Por Bolívar Figueiredo
EXPEDIÇÕES CIENTÍFICAS DO SÉCULO XIX NA CHAPADA DOS GUIMARÃES
BolívarFigueiredoé jornalistae
artistaplásticoformadoemBrasília,militante
verde e fundador nacional do PV,
sagitariano, calango do cerrado e
assuntadordefatosevarredordepalavras.
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clóvis Mattos
E A BATATA?
No auge da expansão
dos impérios europeus, e das
grandes navegações, no
século XIX, o Brasil imperial
de D. Pedro I edificava as
rotas para o interior do
Brasil, meio que já no
“jeitinho brasileiro”,
passando vista grossa no
Tratado de Tordesilhas, que
dividiu o bolo português com
o reino espanhol. E no
rastro dos Bandeirantes e
jesuítas, grandes expedições
científicas chegaram ao
Centro-Oeste de nosso
Brasilzão de meu Deus, e
pela região de Chapada de
Guimarães (nome da
época), e plantando história.
Com destaque para as
encabeçadas pelo barão de
Langsdorff e Luiz D’Alincourt.
A de maior
importância foi a expedição
do barão de Langsdorff,
nascido na Alemanha, em
1774. Percorreu cerca de 17
mil km pelo interior do país
entre 1821 e 1829,
passando pelas províncias
de Minas Gerais, São Paulo,
Mato Grosso e Pará,
financiado pelo imperador
russo Aleksandr I. A equipe
da expedição tinha, além do
próprio Langsdorff (Georg
Heinrich Von Langsdorff, que
era médico), um botânico,
um astrônomo e um
cartógrafo, um zoólogo e
dois pintores, registrando
aspectos da natureza
brasileira, e do seu povo,
considerado o mais
completo inventário do Brasil
do século XIX. Em
Diamantino e na Chapada
dos Guimarães, a expedição
retratou a flora e a fauna,
bem como sua gente.
Entre seus principais
colaboradores, integrantes
da expedição que estiveram
na região do cerrado,
temos: Aimé-Adrien
Taunay – nascido em Paris,
em 1803, Taunay chegou ao
Brasil ainda criança. Foi
contratado como primeiro-
desenhista, em 1825, e
acompanhou Langsdorff ao
longo das viagens de São
Paulo ao Mato Grosso.
Ambos partiram de Cuiabá
para Vila Bela da Santíssima
Trindade e deram início à
navegação até o
Amazonas. E Hercules
Florence, que nasceu em
Nice, em 1804. Executou um
grande número de desenhos
durante a expedição, de
1825 até 1828, e também
catalogou a coleção das
obras deixadas por
Rugendas e Taunay. No
último ano da expedição,
Hercules passou a escrever o
diário de Langsdorff, que já
estava doente. A publicação
de seus diários, na França e
no Brasil, ocorreu em 1875 e
1876. Após o término da
expedição, o artista se fixou
no Brasil, passando a residir
na Vila São Carlos (atual
Campinas), morrendo em
1879. Sua tetraneta, a
cineasta Adriana Florence, é
responsável por grande
parte de seu acervo.
Na Chapada, existem
registros e citações da
Expedição Langsdorff no
Morro de São Jerônimo,
Cidade e Casa de Pedra e
Véu de Noiva. “Guardadas
as proporções, a mais rica
de toda província em
ornamentação arquitetônica
e em baixos-relevos
dourados”, escreveu
Hercules sobre a Igreja de
Sant’Ana, na Chapada, nos
idos de 1828.
Outro cientista que
passou por nossa região foi
Luís D’Alincourt, nascido em
Oeiras, Portugal, em 1787, e
que faleceu no Espírito Santo
em 1841. Foi um militar,
escritor, ensaísta,
memorialista, pensador,
ativista, intelectual e
pesquisador português
radicado no Brasil.
Com a vinda da
Família Real portuguesa
para o Brasil, em 1808, Luís
D’Alincourt se transfere
para o Rio de Janeiro no
ano seguinte, onde concluiu
o curso da antiga Academia
Militar. Participou de
expedições militares
importantes; na Bahia
(1816), Pernambuco
(1818), em Mato Grosso
(1822-1830), no Espírito
Santo (1841), onde faleceu.
Tal como Hercules Florence,
D’Alincourt em suas viagens
de pesquisa ao interior do
Brasil, em especial às
províncias de Mato Grosso
e de Goiás, na região
Centro-Oeste, contribuiu em
muito para a ciência. Foi
autor de uma série de
trabalhos estatísticos e
topográficos na região. A
“memória” de sua viagem a
Cuiabá, em 1811, foi
publicada pela
Universidade de São Paulo
em 1975. No livro, ele
registra as gravuras rupestres
existentes na Chapada dos
Guimarães e cita sobre a
cidade que encontrou: “A
Aldeia de S. Anna, ou lugar
de Guimarães, está
localizado em terreno
alegre, fértil e espaçoso,
duas léguas distante do pé
da serra, por onde vai a
estrada para Cuiabá e oito
desta cidade: a Igreja
Matriz, da invocação de S.
Anna do Sacramento, é a
cabeça da Freguesia...”.
Saravá, amém, até a
expedição que vem.
Ricardo Santiago Santos
E a batata?
– Quase pronta, senhor. Só
um momento.
Depois de uns dois minutos o
menino apareceu com o
saquinho engordurado.
Trouxe na mesa. O lanche já
tava na metade e eu gostava
de comer a batata antes. Ali
eu não voltava mais. Larguei
o sanduíche, parti pra batata,
molhando no ketchup. Tava
quente, boa. Boa demais. Foi
uma atrás da outra, um sabor
escandaloso, uma coisa que
preenchia a boca com
vontade, que lembrava a
infância, uma crocância de
broca, um desafio aos dentes
para não gemerem de prazer
e continuarem mastigando.
Lá pela metade fechei os
olhos. O resto foi mecânico.
Só abri quando cutuquei o
fundo do saco e achei sal.
Passaram umas boas horas.
O lanche tava gelado. Na
mesa ao lado, um homem e
uma mulher em ternos pretos,
sentados de braços cruzados,
óculos escuros. Entre eles o
menino que me trouxe a
batata, ainda de uniforme.
– Foi este o meliante que lhe
entregou a batata, senhor?
– Foi.
– Lamentamos pelo ocorrido,
mas o senhor deve nos
acompanhar.
– Como assim?
– A batata frita. Não era uma
batata.
– É claro que era. Eu paguei
por ela.
– Não nos diga que isso era
uma batata. Estamos há duas
horas vendo-o comer.
Nenhuma batata causaria
este efeito nas pessoas.
– Mas eu só pedi a batata! O
menino me trouxe, trabalha
na lanchonete.
– Ele não trabalha ali. Estava
infiltrado. É um fugitivo
procurado e agora o
envolveu em nossa
investigação.
– Que loucura é essa? Eu
não vou acompanhar
ninguém.
– O senhor precisa vir. Ou os
tentáculos do Iobolohon vão
tampar suas vias respiratórias
antes que anoiteça.
– Yobo quem?
– O bicho que o senhor
comeu. Em pedaços. Fritos.
– Não, não, não.
– Venha conosco. Nossos
hospedeiros são bem
tratados. A taxa de
sobrevivência é superior a
50%.
– E é isso? Me fudi assim, do
nada? Fui o sorteado no
mundo todo por esse
moleque desgraçado?
– Ele não é um moleque, ele
é um Gozkarra.
– Ah, então tudo bem, né. Se
ele é um Gozkarra, tá tudo
resolvido.
– Nos perdoe, senhor, a
culpa também não é nossa.
– Nunca é de ninguém. E é
isso? Vou preso?
– Preso não. Voluntariamente
admitido para tratamento
médico. O senhor será
remunerado.
– Com o quê?
– Dinheiro, é claro. Do que
mais gostaria?
– Batata frita. Não sobrou
nada do Ioboloco? Nem um
pedacinho?
– Ele está delirando. Sim.
Sim. Ok, nossa van está no
estacionamento. Vamos.
– Só um pedacinho. Unzinho.
Unzinhozinho.
– Se controle, senhor.
– UNZINHOOOOOOO.
– Derrube ele, Kob.
– SÓ MAIS UM
PEDACINHOOOO – agh.
– Pronto. Consegue levá-lo?
Vamos. Para de resmungar,
Gozkarra. Agora você tá frito.