CIRCUITOMATOGROSSO
POLÊMICA
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CUIABÁ, 1 A 7 DE AGOSTO DE 2013
VIADUTO UFMT
A pedido do Ministério Público, entidade fiscaliza e encontra distorções em mais pilastras. Por: Rita Aníbal. Fotos: Pedro Alves
Crea aponta falha em quatro pilares
O Conselho Regional
de Engenharia e
Agronomia de Mato
Grosso (Crea/MT)
constatou falhas não
apenas em um, mas em
quatro pilares do viaduto
da Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT),
na Avenida Fernando
Correa, em Cuiabá, por
onde passará o Veículo
Leve Sobre Trilhos (VLT).
O Crea fez o
levantamento atendendo
solicitação do Ministério
Público Estadual (MPE)
após denúncia, pela
imprensa, da falha
inclusive reconhecida pela
Secretaria Extraordinária
da Copa 2014 (Secopa)
e pela empreiteira
“Câmara Temática
é só para inglês ver”
“Erro é extremamente grosseiro”
O presidente Crea, Juarez Silveira Samaniego,
relata com clareza a não participação da entidade de
classe nas obras da Copa enquanto órgão
fiscalizador. “Nós chegamos a insistir com a Secopa
para incluir o Crea no processo, mas fomos
excluídos”.
Segundo Samaniego, a Secopa começou a fazer
as licitações sem a análise do Crea. “Já nos primeiros
meses detectamos erros em alguns projetos”, mas
como o acompanhamento técnico das obras é feito
por empresas contratadas [terceirizadas], o conselho
está alheio à condução e execução das obras até
porque – reclama o presidente – as Câmaras
Temáticas não estão funcionando. “Se tivéssemos
analisado os projetos, teríamos condições de fazer
acompanhamento e fiscalização da execução, através
da Câmara Temática de Fiscalização, da qual
fazemos parte só ‘pra inglês ver’. Ela não existe”,
conclui Juarez Samaniego.
Para com o
professor doutor de
engenharia da UFMT
Luiz Miguel de Miranda,
a falha apresentada na
obra é extremamente
grosseira e vergonhosa
para os engenheiros de
todo o Estado.
“Esta notícia com
certeza vai correr o
mundo e vamos ficar
conhecidos como
incompetentes. Imagina
você fazer um viaduto e
ter que desmanchar. Isso
é um absurdo. E agora
os responsáveis pelas
obras querem dizer que
nada será mudado, nem
atrasado. Como eles
podem nos garantir isso
se nem sequer fizeram o
trabalho direito?”,
questionou o engenheiro
antes mesmo de saber
que a falha não estava
em apenas um, mas em
quatro pilares.
Além do problema
já apresentado, Miranda
afirma que a falta do
projeto nos parâmetros
aceitáveis para a
engenharia nacional –
um dos principais pontos
que demonstrariam a
displicência das obras –
ainda deve trazer muitos
problemas em todas as
obras realizadas para a
implantação do
VLT, podendo até
chegar a danos
irreversíveis.
De acordo com o
especialista, um projeto
nestes parâmetros não
fica pronto em menos de
três anos, já que para
sua concepção seriam
necessários diversos
estudos como análise de
solo, topografia,
materiais utilizados,
desenhos e adequações
por conta das
interferências, a
distribuição de tensões,
entre outros fatores mais
importantes e
indispensáveis para a
realização de uma obra
desta magnitude.
“Quando a gente
faz um projeto de uma
viga e de uma
fundação, nós levamos
muito tempo para
analisar aquelas
condições e, no final, a
gente tem que ter um
ambiente de muita
atenção, porque você
tem que estar o tempo
todo calculando as
tensões, as quantidades
de ferro, as cotas – que
são milimétricas –, então
errar 40 cm é um
absurdo”. Ainda na
opinião do engenheiro,
uma falha de cerca de 2
cm de desnível já seria o
suficiente para
descarrilar o trem.
responsável pela obra, o
Consórcio VLT Cuiabá/
Várzea Grande.
Para fazer a
Fiscalização Preventiva e
Integrada (FPI), o Crea
designou o engenheiro
civil André Luiz Schuring.
“Nós descobrimos que
houve uma diferença
geométrica no projeto do
viaduto; alguns pilares
que eram pra estar numa
cota ‘x’, estavam em
cotas ou menor ou
maior”, explica o
engenheiro.
Ainda segundo
Schuring, o viaduto é uma
obra de arte múltipla que
atende tanto a parte
rodoviária como a
ferroviária. “Constatamos
que dos seis pilares, dois
haviam sido executados
corretamente e os
restantes, a nosso ver,
deveriam ser demolidos”.
Esses quatro pilares com
distorções são da linha 4
e da linha 8.
Em sua edição 445,
o
Circuito Mato
Grosso
já expunha a
falha constatada em um
dos pilares do viaduto da
Avenida Fernando Corrêa
da Costa, fato que
envergonhou professores
do Departamento de
Engenharia da UFMT, a
ponto de levá-los a
preparar uma ação
contra empreiteiras e
Governo do Estado.
O professor Luiz
Miguel de Miranda,
doutor em engenharia da
UFMT, fez um alerta para
os riscos, uma vez que é
necessário ter atenção às
fundações do pilar para,
só então, ter certeza de
que está preparado para
receber uma carga maior
de peso.
Maurício
Guimarães, secretário
da Secopa, apressou-se
em dizer à época: “A
falha não é da Secopa;
é totalmente do
Consórcio VLT. Houve
diferença na altura das
vigas. Então, vamos tirar
as vigas feitas de pré-
moldados já colocados
nesse pilar e fazer a
correção”. Guimarães
também explicou que o
desnível era de
aproximadamente 30
centímetros e que o
problema já havia sido
identificado pelo
consórcio há um mês,
mas o fato só veio à
tona em junho passado.
A contratação da
empresa responsável pela
implantação do modal
VLT foi feita por Regime
de Contratação
Diferenciado (RDC).
Nesse regime, o objeto
da licitação é apenas um
esboço do que se
pretende, sem nenhum
projeto técnico. O projeto
básico, que é uma peça
técnica de
responsabilidade de
engenharia, no qual se
especifica o que se
propõe a fazer para,
posteriormente, detalhar
no projeto executivo, não
é exigido, segundo as
regras do RDC. O
engenheiro responsável
pela FIP conta: “Quando
estivemos lá [nas obras
do viaduto da UFMT],
eles já estavam fazendo o
desmonte das vigas pré-
moldadas, cortando
pilares: diminuindo,
aumentando, mexendo
nas cotas todas”. Schuring
vê, no entanto, um ponto
positivo porque a
contratação por RDC
responsabiliza, de ponta
a ponta, a empresa
contratada.
Professor Luiz Miguel Miranda, da UFMT, não esconde indignação diante das falhas
J ua r e z Saman i ego , p r e s i den t e do Cr ea -MT, d i z
que en t i dade f i cou de f o r a do p r oce s so
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