CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 11 A 17 DE JULHO DE 2013
CIDADES
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Trânsito cuiabano pior a cada dia
Asfalto precário, falta de fiscalização e de políticas de conscientização completam o cenário alarmante.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
CAOS
Cenário de guerra. Esta
é a atual descrição do trânsito
em Cuiabá. Hoje, a capital
mato-grossense ocupa o 2º
lugar no ranking dos piores
trânsitos entre as capitais
brasileiras (perdendo apenas
para São Paulo), e assume a
mesma posição no quesito
mortes no trânsito, chegando
ao número assustador de 70
mil vítimas fatais por ano.
Com as obras da Copa, o
transtorno é inevitável mas,
para especialistas, poderia
ser minimizado se o Estado
tivesse tomado algumas
medidas imprescindíveis.
Para o professor doutor
do Núcleo de Estudos de
Logística e Transporte da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) Luiz
Miguel de Miranda, as más
condições atuais do trânsito
de Cuiabá vão além das
obras de mobilidade urbana
para a Copa do Mundo de
2014. “Nós estamos criando
aqui uma nova arena de
cristãos contra as feras, onde
as feras estão incólumes
(ilesas). Então, não adianta
nada investir em infraestrutura
e fiscalização se não
investirmos em educação”,
Sinalizações irregulares
por todos os lados
Amarelinhos e falta de fiscalização
Os números
tornam-se ainda mais
alarmantes se levarmos
em consideração a
crescente malha viária
da cidade, que chega a
343 mil veículos, sendo
73 mil motos. Somente
nos últimos oito anos,
Três mil veículos a mais por ano
Considerando-se que
o suporte da malha viária
de Cuiabá está preparado
para receber 100 mil
veículos, ou seja, 1/3 da
atual frota flutuante na
cidade, o quesito
sinalização pública
deveria ser um dos
principais cuidados das
autoridades com relação
ao trânsito. Mas, em
apenas um breve passeio,
qualquer cidadão pode
perceber logo de cara
diversas irregularidades
como falta de sinalização,
redutores de velocidades
sem pintura, vias
inadequadas e até mesmo
excesso de placas em
alguns pontos, que
complicam a
compreensão da
sinalização.
Esses problemas
foram ainda agravados
com as obras de
mobilidade que, por conta
das interdições, receberam
placas de propagandas
comerciais (proibidas pelo
Código de Trânsito
Brasileiro). Os
comerciantes alegam que,
sem as placas, seus
clientes não teriam o
devido acesso aos
estabelecimentos. Já a
Secretaria de Trânsito e
Transporte Urbano alega
que, somente nesta última
semana, retirou dos
pontos de desvios mais de
100 placas irregulares.
“Nós estamos de olho
nestas placas irregulares e
vamos percorrer cada
trecho de desvio para
retirar toda sinalização
irregular. Agora, tem
muito condutor que
simplesmente não presta a
atenção na via onde
transita. Nós já nos
deparamos com casos em
que o condutor está vendo
que todas as placas estão
viradas para ele e não se
dá conta de que está na
contramão”, relata o atual
secretário-adjunto da
pasta, Thiago França.
Para o empresário
Jackson Lescano, há um
total desrespeito com a
população que necessita
transitar na cidade. “Na
rotatória próxima ao
bairro Areão colocaram
alguns redutores de
velocidade sem nenhum
tipo de sinalização e, o
mais incrível, na subida.
Naquele ponto, onde o
fluxo é intenso, fica ainda
mais difícil de transitar.
Isso sem levar em
consideração que muitos
motoristas não sabem
para onde virar”, relatou.
Já o jornalista Clébio
Borges alerta para a falta
de segurança nos desvios
nas proximidades do
bairro Santa Isabel, uma
vez que os veículos
passaram a transitar em
um bairro populoso e de
ruas estreitas. “Em horário
de pico, as ruas ficam
intransitáveis, e à noite,
quando as crianças ficam
nas calçadas, existe um
perigo iminente de
acidente”, conta.
segundo dados da
Associação de
Fabricação Nacional de
Veículos Automotores,
Cuiabá teve um
crescimento de 60% da
frota de automóveis e de
130% na frota de motos,
o que totaliza 250 mil
veículos em circulação
diariamente nas ruas
da Capital. A frota
chega a aumentar mais
de 3 mil veículos por
ano. Dados do Detran
apontam que para 1,9
habitante de Cuiabá
existe um veículo.
Com a retirada das
barreiras eletrônicas da
capital e a falta de
efetividade dos agentes de
trânsito que acabou por
gerar uma sensação de
impunidade na população,
os números de
irregularidades disparam.
Somente neste ano já foram
lavrados 120 mil autos de
infração, superando os 107
mil autos de infração
lavrados durante todo o ano
de 2012. Para o secretário
adjunto de Transporte
Thiago França, este cenário
é resultado de anos de falta
de fiscalização. “A questão
do trânsito de Cuiabá é
como o ditado: uma mentira
dita mil vezes se torna
verdade. Hoje, a sociedade
cuiabana vive uma crise
moral. Então o problema já
virou cultural, ninguém quer
mais respeitar legislação.
Muitos desses condutores,
quando se dão conta que
estão sendo multados,
chegam a agredir os agentes
de trânsito”, relata o
secretário, já rebatendo as
críticas da população contra
os conhecidos amarelinhos.
Estes profissionais
inclusive são alvo de muitos
protestos da população
cuiabana, muitos destes
casos ganham a mídia local.
Um exemplo foi a suposta
agressão de um agente de
trânsito a um senhor de mais
de 70 anos parado em uma
vaga irregular. Segundo
reportagens sobre o caso, o
idoso teria ido reclamar com
o agente sobre a multa que
acabara de levar; em
seguida, o profissional, já
alterado, o teria empurrado
e ele acabou parando no
hospital. A polícia ainda
investiga as
responsabilidades no caso.
Já para o especialista
em trânsito Luiz Miguel de
Miranda, a retirada dos
redutores de velocidade de
Cuiabá, em uma atitude
totalmente eleitoreira, levou
aos altos índices de infrações
cometidas no trânsito.
“O grande problema é
que os cargos de gestão do
trânsito não são ocupados
por especialistas formados
na área, desta forma as
providências tomadas
erroneamente são
geralmente em cunho
pessoal. Enquanto não
houver mudança neste
âmbito, também não haverá
mudança no caos do
trânsito”, alerta.
Outra atitude essencial
para a mudança do cenário
caótico instalado no setor em
todo o país é a implantação
de políticas públicas de
educação no trânsito. Para o
especialista, as crianças
teriam que ter aula de
trânsito a partir dos três anos
de idade, inclusa na grade
curricular. Somente a partir
da formação destes
condutores é que teríamos
um trânsito consciente.
“Não adianta agora
querer mudar pessoas com
anos de maus hábitos e
também não adianta ficar
realizando propagandas e
campanhas esporádicas.
Enquanto o poder público
não tomar consciência da
gravidade do problema, as
coisas só tendem a piorar”,
alertou o professor ainda
lembrando que o trânsito
mata mais do que a guerra
do Iraque.
pontua o especialista.
Já a respeito da
sensação de incômodo da
população em relação às
obras de mobilidade urbana
– que, para o especialista,
estão atrasadas há mais de
30 anos –, Miguel garante
que o grande erro dos
gestores é a falta de
comunicação com a
população, uma vez que a
maioria das pessoas não fica
sabendo, com a devida
antecedência, sobre as
mudanças que terão na sua
rotina. A situação é ainda
agravada pela péssima
qualidade de sinalização
oferecida.
“Se a população tivesse
o mínimo de condições como
segurança, conforto e
informação, sem ruas de
péssima qualidade, e
também se houvesse um
boletim diário, com
informações chegando via
rádio e TV, sobre como vai
ser o trânsito no outro dia, as
coisas poderiam ser muito
diferentes. Estas atitudes
simples e obrigatórias
gerariam uma sensação de
preocupação das
autoridades com a qualidade
de vida do cidadão, fazendo
com que ele se torne mais
compreensivo com as
dificuldades”, afirmou.
Todos estes problemas
de gestão têm início na
ineficiência ou inexistência do
plano de execução de obras,
que implicaria em ter o
devido conhecimento dos
eventuais desvios. A previsão
de onde estão localizadas as
galerias de esgoto, linhas de
telefone, pontos de ônibus,
nascentes, entre outros
complicadores (e com eles,
suas soluções), garantiria
maior dinamismo no
processo e uma execução
ágil, resolvendo a maioria
dos atrasos em obras.
“O grande problema é
que os gestores simplesmente
deixam de lado este tipo de
trabalho. Eu digo para você
que qualquer engenheiro
formado faz uma obra de
engenharia, mas nem todos
eles fazem um plano de
execução com maestria e
cuidado, porque denota um
conhecimento mais profundo
e maior custo de obras”,
garantiu o especialista, que
ainda fez questão de declarar
que uma prova da
inexistência do plano de
obras são as inversões de
vias, que antes tinham mão
dupla e agora foram
transformadas em mão
única, e não possuem sequer
uma faixa amarela,
obrigatória nesses casos.
Gr ande núme r o de v e í cu l o s c i r cu l ando na s v i a s e ob r a s da Copa f avo r ecem o cao s no t r ân s i t o
F i s c a l i z a ç ão do s ama r e l i n ho s não
é s u f i c i en t e pa r a o r gan i z a r o f l u x o
Número de motos cresce assustadoramente a cada ano no trânsito da Capital
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