CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 20 A 26 DE JUNHO DE 2013
POLÍTICA
P
G
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INCAPACIDADE TÉCNICA
Falta de projeto será apontada como prova das irregularidades cometidas pelos autores e responsáveis das obras do VLT.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
Secopa envergonha engenheiros
A falha constatada
e reconhecida pelo
Consórcio VLT e pela
Secretaria
Extraordinária da Copa
2014 (Secopa) em um
dos pilares do viaduto
da Avenida Fernando
Correa da Costa, por
onde passará o modal
de R$1,4 bilhão,
envergonhou os
professores do
Departamento de
Engenharia da
Universidade Federal
de Mato Grosso
(UFMT) a ponto de
levá-los a preparar
uma ação contra
empreiteiras e Governo
do Estado. Apesar da
tentativa da Secopa de
tentar minimizar o
problema, os
especialistas vão
denunciar o erro
grosseiro no Ministério
Público e entrar com
uma ação conjunta de
imp rob i dade
administrativa e de
responsabilidade social
contra o os gestores
públicos e os
responsáveis pelas
obras .
De acordo com o
professor doutor de
engenharia da UFMT
Luiz Miguel de
Miranda, a falha
apresentada na obra é
extremamente grosseira
e vergonhosa para os
engenheiros de todo o
Estado. “Esta notícia
com certeza vai correr
o mundo e vamos ficar
conhecidos como
incompetentes. Imagina
você fazer um viaduto e
ter que desmanchar.
Isso é um absurdo. E
agora os responsáveis
pelas obras querem
dizer que nada será
mudado nem atrasado.
Como eles podem nos
” E s t a ob r a e s t á che i a de engenhe i r o s e
pe s s oa s d i t a s capac i t ada s e a í me
vêm com ma i s e s sa , j á não bas t a os
a t r a s o s ? E l e s e s t ão b r i n c ando de
f a z e r ob r a s , pa r e c e ” . L au r a Ba r bo s a ,
R e c an t o do s P á s s a r o s
“F i ca comp l i cado e s t a s i t uação , ago r a nem
mesmo eu que sempre fui a favor do VLT acredito
mais que esta obra vai ficar pronta e isto é
pés s imo pa r a a popu l ação que t an t o p r ec i sa de
um t r an s po r t e com ma i s qua l i dade ” .Na i a r a
S i l va , p r o f e s so r a , ba i r r o Osma r Cab r a l
”Nosso movimento já caiu pela metade e agora a
obra vai ser atrasada. É um absurdo este erro. Quem
vai nos ressarcir os prejuízos? Quanto mais este
trecho ficar interditado, mais prejuízos serão
contabilizados. Eles não pensam que o nosso aluguel
não baixou e que temos mais gastos para mantermos
nossas lojas limpas, só pensam no próprio bolso”.
Ivone Jorge, comerciante da Fernando Corrêa
”Ol ha , eu nun ca e s t ude i e t r aba l he i na
á r ea de con s t r ução a mi nha v i da t oda e
nunca f i z uma pa r ede t o r t a ou meno r do que
a ou t r a , e e s s e povo e s t udado f az um
ab s u r do de s t e , só pode s e r bu r r i ce ou f a l t a
de v e r gonha me smo ” . Bened i t o Co s t a ,
e l e t r i c i s t a e ped r e i r o , Co x i pó
Crea muda o discurso
e minimiza o erro
Já o Conselho
Regional de Arquitetura e
Agronomia (Crea-MT),
uma das principais
instituições que deveriam
auxiliar a população na
fiscalização das obras,
muda o discurso de
cobrança apresentado ao
Circuito Mato Grosso
na edição 426, com a
manchete “Crea dispara
criticas à Secopa” e
minimiza o erro cometido
na obra, classificando o
problema como normal.
De acordo com o
coordenador de
Acessibilidade da
entidade, Givaldo
Campos, o problema não
está sendo acompanhado
de perto por eles.
“Este tipo de
problema parece muita
coisa, mas não é. Na
verdade são cerca de
300 pilares e só deu erro
em um, então é o de
menos. Isso acontece
todos os dias. O grande
problema é que acaba
atrasando as obras”,
declara o coordenador
em tom de conformismo.
A mudança na
postura é radical, já que
de acordo com a
reportagem da edição
anterior o coordenador
classificara os trabalhos
da Secopa como
“incompetência” e
“transtorno à sociedade”.
“Quando o governo
diz em suas
propagandas: ‘Desculpe
pelo transtorno, estamos
em obras’, deveria
acrescentar a frase:
‘Desculpe pela
incompetência, já que
estamos mexendo em
todos os cômodos da sua
casa de uma única vez”
(trecho da reportagem).
ENQUETE
garantir isso se nem
sequer fizeram o
trabalho direito?”,
questiona.
Além do problema
já apresentado,
Miranda afirma que a
falta do projeto nos
parâmetros aceitáveis
para a engenharia
nacional – um dos
principais pontos que
demonstrariam a
displicência das obras –
, ainda deve trazer
muitos problemas em
todas as obras
realizadas para a
implantação do
VLT , podendo a t é
chegar a danos
irreversíveis.
De aco r do com o
especialista, um
projeto nestes
parâmetros não fica
pronto em menos de
três anos, já que para
sua concepção seriam
necessários diversos
estudos como análise
de solo, topografia,
materiais utilizados,
desenhos e
adequações por conta
das interferências, a
distribuição de tensões,
entre outros fatores
mais importantes e
indispensáveis para a
realização de uma
obra desta magnitude.
“Quando a gente
faz um projeto de uma
viga e de uma
fundação, nós levamos
muito tempo para
analisar aquelas
condições e, no final, a
gente tem que ter um
ambiente de muita
atenção, porque você
tem que estar o tempo
todo calculando as
tensões, as quantidades
de ferro, as cotas – que
são milimétricas –,
então errar 40 cm é um
absurdo”. Ainda na
opinião do engenheiro,
uma falha de cerca de
2 cm de desnível já
seria o suficiente para
descarrilar o trem.
Para a recuperação
do trecho, o Consórcio
garante que vai demolir
parte do pilar que
apresenta a falha e
reconstruí-lo no
tamanho adequado. A
solução apresentada
pode ser ainda mais
perigosa, uma vez que
é necessário ter atenção
às fundações do pilar
para, só então, ter
certeza de que está
preparado para receber
uma carga maior de
peso (levando-se em
consideração que cada
metro cúbico de
concreto equivale a 2,4
toneladas).
“É claro que as
obras serão atrasadas.
Todos os procedimentos
levam tempo. Outro
fator é saber se o
aumento dos pilares é
adequado à estrutura
que já está pronta”,
pondera.
“Errar 40 cm é
um absurdo
porque uma falha
de cerca de 2 cm
de desnível já
seria o suficiente
A d i f e r ença de 40 cm f o i cons t a t ada em um dos p i l a r e s do qua r t o
e i xo s en t i do Cen t r o-Cox i pó da ob r a que t em 428 me t r os de e x t ensão
P r o f e s s o r dou t o r L u i z Mi gue l de Mi r anda , do
Dep t o . de Engenha r i a da UFMT, d i z que
p r o f i s s i ona i s da á r ea e s t ão i nd i gnado s com o e r r o
Pa r a Gi v a l do Campo s , do Cr ea ,
o e r r o é i n s i gn i f i can t e