CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 20 A 26 DE JUNHO DE 2013
ECONOMIA
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Produtores e entidades ligadas ao agronegócio reclamam de não receberem benefícios do fundo. Por: Rita Anibal. Fotos: Reprodução
FETHAB
Desvio de recursos onera logística
Os produtores do Mato
Grosso são uníssonos na
reclamação da falta de
retorno do Fundo de
Transporte e Habitação
(Fethab) que está atingindo
diretamente os preços finais
dos produtos. Eduardo
Godoi, produtor de soja em
Sapezal (480 km de Cuiabá),
mesorregião do Norte mato-
grossense, relata que “o
Fethab é um tributo direto e,
com a sua não aplicação,
estamos com os nossos
produtos onerados em 30%
no custo total, somente em se
tratando de logística”.
Questionado pelo
Circuito Mato Grosso
como mantêm a
competitividade, ele fez uma
revelação surpreendente: “No
cenário internacional, como a
soja está com um preço fora
da realidade, isso tem
mascarado a nossa
ineficiência logística. Se o
Setor madeireiro com frete
mais caro do mundo
O desvio do
pagamento do Fethab,
recolhido pelo agronegócio,
atinge diretamente dois
importantes setores
deficitários em Mato
Grosso: moradia e
transporte. De um lado
estão os produtores, que
pagam ao fundo; já na
ponta oposta do Fethab
estão os trabalhadores que
vivem na informalidade e
que alimentam o sonho da
casa própria.
São pessoas que
vendem alguns produtos de
porta em porta ou com uma
barraquinha de
bugigangas, garantindo o
sustento precário da família,
mas não garantindo a
cidadania plena por não
terem acesso a
INVESTIMENTO
Chineses de olho na riqueza de MT
Interesses estão na implantação de uma siderúrgica, de um centro de armazenagem e de fazendas para a transferência de
tecnologia. Da redação. Foto: Reprodução
Um relatório recém-
concluído pelo China
Development Bank (CDB, o
equivalente ao BNDES no
Brasil) apontou
oportunidades em Mato
Grosso para empresários
chineses que podem chegar
a R$ 5 bilhões em curto
prazo. O documento, feito
após a visita de uma
comitiva ao Estado, apontou
o potencial de projetos em
três áreas: logística,
mineração e agricultura.
Entre eles, estão a
implantação de uma
siderúrgica, de um centro de
armazenagem (com
capacidade de 100 mil
toneladas) e de fazendas
para a transferência de
tecnologia. Os projetos
devem ser feitos com
parcerias brasileiras.
Na área de logística, há
interesse na construção de
um trecho ferroviário entre
Cuiabá e Rondonópolis, que
ligará o centro do Estado a
portos do Sul e Sudeste.
“O banco veio verificar
a segurança para
investimentos e apresentará
as impressões a empresários
Vuolo aposta na Ferrovia
Cuiabá-Santarém
O secretário Francisco Vuolo, titular da Secretaria-
Extraordinária de Estado de Acompanhamento da
Logística Intermodal de Transportes (Selit), lembrou que
em 2011, um grupo de profissionais chineses da
companhia China Railway Engineering Corporation
(Crec) veio a Mato Grosso e participou da Rota da
Integração Cuiabá-Santarém, conhecendo in loco um
dos possíveis trajetos da Ferrovia Cuiabá-Santarém.
“Agora nós recebemos a visita dos chineses que
viabilizam os financiamentos para que o projeto saia
efetivamente do papel. Os chineses querem saber como
será a participação do Governo Federal, do BNDES e
dos empresários mato-grossenses e vamos responder a
todas essas perguntas, por meio desse grupo de
trabalho”, disse.
A China já está em Mato Grosso, por meio da
estatal State Grid que, em parceria com a Copel, está
investindo R$ 1 bilhão na construção de um linhão de
Paranaíta até Ribeirãozinho. Eder Moraes, da Secretaria
de Articulação Institucional em Brasília, disse que a
construção de uma siderúrgica em Mato Grosso exigiria o
investimento de R$ 1 bilhão. Segundo ele, os chineses
apresentaram a solução para o transporte do minério por
meio de tubulações e eles entendem que a produção de
aço atenderia a demanda de crescimento da China e o
próprio mercado interno. Outro ponto destacado pelo
secretário Eder Moraes, e a realização de um workshop
na China com participação de empresas mato-
grossenses.
de seu país. O foco, a
princípio, é o setor logístico,
para que possam baratear
os custos e depois investir na
produção e na indústria de
transformação”, diz
Francisco Vuolo, secretário
de Logística de Mato
Grosso.
O Estado já recebeu R$
1 bilhão em investimento
chinês para a construção de
um linhão de energia.
A construção de uma
siderúrgica em Mato Grosso,
por conta do depósito
mineral da Serra do Caetés,
às margens do rio Jauru, é
um dos dez projetos
potenciais detectados pelos
chineses da missão
capitaneada pelo China
Development Bank (CDB).
“Nós colocamos à
disposição para todo
apoio de infraestrutura e
faremos tudo que for
necessário para essa
parceria”, disse o
governador Silval Barbosa
à imprensa sobre o
interesse dos chineses. O
primeiro contato com o
grupo aconteceu em 2011.
O governador lembrou
que, de lá para cá, a
produção agrícola do
estado aumentou mais 12
milhões de toneladas de
milho e soja. “Se demorar
mais três anos vai precisar
construir outra ferrovia”.
O vice-diretor geral do
Departamento de
Planejamento do CDB, Hu
Dong Sheng, disse que é
importante “fazer valer a
superioridade relativa de
cada um - China e Mato
Grosso - para o
desenvolvimento
recíproco”. Lembrando
que Mato Grosso está
localizado no oeste
brasileiro, Hu Dong Sheng
disse que “Foi o Oeste
dos Estados Unidos que
cresceu primeiro e hoje o
maior crescimento é no
Oeste da China. Aqui é o
Oeste do Brasil”.
O executivo chinês
falou ao governador que
foram apresentados no
painel final esboço de dez
projetos de investimentos
no estado, sendo que seis
deles, dentro de suas
limitações “podem
começar agora. Assim que
chegarmos na China vai-se
analisar cada projeto
detalhadamente, mas
vamos esforçar para
acelerar a cooperação”.
“Como se não bastasse
a altíssima carga tributária,
ainda temos de sofrer com
falta de estradas”, assim
desabafa Roberto Rios Lima,
presidente do Sindicato das
Indústrias Madeireiras e
Moveleiras do Noroeste de
Mato Grosso (Simno).
Lima contesta a forma
com que o governo trata a
região noroeste do estado:
“Há anos, na época das
chuvas, não se consegue
andar nas estradas e ficamos
abandonados; na época da
seca, o governo passa uma
‘patrola’, joga uns cascalhos
e acha que está tudo bem”.
O presidente está apreensivo
de como será o ano de
2014, caso providências não
sejam tomadas no setor de
transporte.
Valdinei Bento dos
Santos, diretor executivo da
Simno, faz reclamação
idêntica à da Famato: “Para
transportar madeira aqui da
região ao porto de
Paranaguá (PR), gastamos
cerca de 200 dólares por
tonelada [hoje, cerca de
R$430,00]. É o frete mais
caro do mundo!”, diz
indignado.
Em um caminhão
simples, trucado, cabe cerca
de 30 m³ de madeira e
“paga-se de 200 a 300
reais por caminhão, só de
Fethab”, explica o diretor. O
madeireiro ainda relata que
o preço sobe caso
transportem madeira em
lâmina, pois aumenta a
capacidade do volume de
madeira no caminhão e, aí,
o Fethab aumenta “para
mais de 400 reais”. Santos
diz também que a taxa do
Fethab subiu recentemente
de R$9,00 para R$11,04 –
um aumento de 22,22% e
que não há retorno nenhum
da cobrança do tributo.
O Simno, juntamente
com o Centro das Indústrias
Produtoras e Exportadoras
de Madeira do Estado de
Mato Grosso (Cipem),
promove Caravanas de
Inovação por todo o estado
para ouvir os madeireiros, e
a reclamação é geral:
“Queremos estradas!”. Além
desse tributo [Fethab], o
diretor reclama que a pauta
fiscal de Mato Grosso é a
maior do Brasil e que está
levando o setor a uma
desvantagem produtiva.
Mato-grossenses ficam
sem casas populares
financiamentos nas
instituições bancárias ou
através de programas
habitacionais dos governos
estadual e federal.
Como os que pagam
Fethab (setor produtivo) têm
associações ou federações
que os representam, o
governo estadual de Silval
Barbosa (PMDB) ainda os
chama para reuniões e ouvir
os lamentos. Os
trabalhados da
informalidade, no entanto,
não têm voz nem vez.
Lamentos, neste caso,
porque soluções
apresentadas nunca são
incorporadas ao Plano de
Transporte Estadual. Essa é
posição de vários
produtores que estavam
reunidos na Famato na
terça-feira 18. Embora o
grupo não quisesse se
identificar, não poupou
críticas ao governo Silval
Barbosa.
O fundo criado por
Dante de Oliveira, ex-
governador, destina um
percentual para que essa
classe de trabalhadores
pudesse ser beneficiada,
mas não é o que ocorre há
três anos, exatamente
quando Silval se torna
governador. O cidadão
mais sofrido está
marginalizado pelo
governo, segundo os
produtores. Cerca de 30%
dos recursos do fundo estão
indo para a Copa e só
Deus sabe pra onde está
indo o resto, dizem os
produtores.
preço voltar ao normal,
estaremos encrencados”.
Godoi compara as
manifestações que estão
eclodindo pelo País ao
Fethab: “Não é pagar o
tributo exclusivo para
transporte e moradia; é não
obter a contrapartida do
governo”.
A Federação da
Agricultura e Pecuária do
Estado de Mato Grosso
(Famato) é a entidade-
mãe que congrega todos
os sindicatos rurais do
estado. Por meio de seu
presidente, Rui Prado, vem
umas das principais
reclamações: “O governo
Silval Barbosa colocou no
ostracismo o Conselho
Diretor do Fethab e
estamos sem fiscalização
de aplicação dos recursos,
sem estradas e sem
moradias”.
Prado diz que “de 2012
para 2013, o produtor
desembolsou, a mais, R$974
milhões em frete, somente
para o escoamento da safra
de soja e milho. Quando
começar a safra do algodão,
esse valor subirá muito mais”.
Relata o presidente que
esse montante parcial gasto
até agora pelos produtores
seria suficiente para “construir
500 km de estradas de boa
qualidade”. Esse aumento de
gasto sinaliza que há
crescimento na produção e,
consequentemente, maior
arrecadação no Fethab, que
“já se sabe de antemão: não
será aplicado em estradas,
como reza a finalidade inicial
do fundo”.
Prado ainda diz:
“Enquanto isso, o setor que
mais produz no Mato Grosso
continuará pagando um
tributo e não recebendo a
contrapartida, obrigação do
Estado”.
P r odu t o r e s c r i t i cam a f a l t a de i n v e s t imen t o em l og í s t i ca e
p r e j u í zos que r e f l e t em no p r eço f i na l do p r odu t o
V i c e - d i r e t o r de
P l a n e j ame n t o
do CDB , Hu
Dong S h e ng ,
de f ende f a z e r
v a l e r a
s u p e r i o r i d a d e
de c ada uma
da s pa r t e s
da s pa r t es
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