CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2013
POLÍTICA
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pesar de o Governo entregar veículos e alguns equipamentos, as condições de trabalho continuarão muito precárias.
or: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
EMPAER
Enquanto o governo
entrega uma frota de
veículos superfaturados à
Empaer, o órgão segue
sem as mínimas
condições de trabalho
para os servidores, nem
consegue garantir
assistência técnica de
qualidade às milhares de
pessoas que ainda
tentam sobreviver da
agricultura familiar em
Mato Grosso. O descaso
começa na atual sede da
Empaer. Estufas tomadas
pelo mato, laboratórios
enferrujados, veículos
sem manutenção e sem
combustível, inexistência
de verba de auxílio, falta
de insumos e
profissionais completam
o cenário tenebroso da
empresa.
Segundo o
presidente do Sindicato
dos Trabalhadores em
Pesquisa, Assistência e
Extensão Rural do Estado
de Mato Grosso
(Sinterp), Gilmar
Brunetto, o Governo do
Estado só tem olhos para
o agronegócio e ignora
os agricultores familiares.
“Não dá para
entender esta inversão de
valores praticada pelo
Governo do Estado: o
governo federal, através
Servidores tiram dinheiro
do próprio bolso
Outra grande
dificuldade enfrentada
pelos técnicos de
campo é a locomoção
até as propriedades.
Além do baixo número
de veículos em
condições de uso, não
há verbas para diária
dos técnicos,
abastecimento dos
veículos e sequer para
um remendo de pneu
durante a viagem.
Um técnico ouvido
pela reportagem, que
solicitou anonimato por
medo de represálias,
contou que muitas
vezes o servidor tem de
disponibilizar recursos
do próprio bolso para
a alimentação e
remendo de pneus. E
depois aguardar o
reembolso.
“Quando saímos
de madrugada para
atender uma
propriedade, temos de
levar lanche de casa,
já que não recebemos
diária. Outra situação
Sem assistência, produtores perdem colheita
Sem ajuda técnica, o
agricultor familiar
continua ainda mais
precarizado, muitas vezes
perdendo a produção
antes mesmo de colher.
Este é o caso do produtor
Adauto Pimenta, que
investiu na plantação de
banana em várias
espécies, mas só
consegue comercializar a
variedade banana da
terra.
“Quando eu plantei
as outras variedades de
banana, não sabia que
era tão difícil
comercializá-las. Hoje
tenho de vendê-las bem
abaixo do custo de
produção para não ter
um prejuízo ainda maior”,
conta o agricultor que
ainda completou dizendo
que procurou diversas
vezes a assistência técnica
da Empaer e acabou
ficando sem resposta.
Na tentativa de
minimizar esta situação,
agricultores familiares de
Poconé montaram a
Cooperativa Mista de
Produtores Rurais de
Poconé (COMPRUP), que
além de auxiliar na
bastante difícil é que se
furar um pneu temos
de pagar para arrumar
e depois ver se
recebemos, se não,
ficamos mofando na
estrada. Porque para
um reembolso nós
temos de levar uma
nota fiscal eletrônica, o
que é óbvio que uma
borracharia não
possui”, declarou.
O técnico ainda
alertou para as más
condições das
estradas: “Hoje, além
de atoleiros, nós temos
de enfrentar muitas
pontes de madeira que
têm pregos e parafusos
à mostra; desta forma,
fica quase impossível
não furar um pneu na
estrada”. Para realizar
o reembolso do
servidor, o chefe do
escritório se vê
obrigado a solicitar a
um fornecedor de
água ou café uma
nota fiscal adulterada,
contou o servidor.
produção também
trabalha com a
comercialização dos
produtos, principalmente
para o abastecimento da
merenda escolar.
Segundo uma das
organizadoras da
cooperativa, Rosângela
Souza, a ideia surgiu da
necessidade de
sobrevivência dos
agricultores familiares da
região.
“Por muito tempo nós
ficamos abandonados
pelo Estado, muitas vezes
não conseguindo sequer
sobreviver da própria
produção, então
decidimos nos unir”,
conta. A cooperativa foi
montada no mesmo ano
em que entrou em vigor a
Lei de Abastecimento da
Merenda Escolar, que
reserva 30% das compras
dos alimentos para a
agricultura familiar,
porém esta meta ainda
não foi atingida.
“É muita burocracia
para conseguir vender
para o governo, o
pequeno agricultor não
tem conhecimento para
conseguir toda a
documentação. Na
verdade nós precisamos
de ajuda e precisamos
nos unir; hoje o agricultor
familiar se sente
abandonado”, desabafou
Rosângela, ressaltando
ainda que além das más
condições os produtores
locais sofrem de
preconceito, por não
apresentarem os produtos
no padrão dos grandes
agricultores.
do Ministério de
Desenvolvimento Agrário
(MDA), está liberando
milhões e milhões de
reais para a agricultura
familiar, mas aqui nossos
gestores ignoram a
liberação destes recursos
e perdem imensos
investimentos na área”,
declarou Gilmar ainda
denunciando o
descumprimento da Lei
Complementar 461/2011
que, além de transformar
a Empaer de empresa S/
A em empresa pública,
prevê a contratação de
250 novos técnicos em
extensão em regime de
urgência.
Ainda segundo o
sindicalista, a Empaer
já perdeu o centro de
desenvolvimento e
pesquisa lotado em
Várzea Grande, que
além de auxiliar na
melhoria da tecnologia
de plantação também
realizava cursos de
capacitação dos
pequenos agricultores.
Ficou sem sede
própria, que foi
transferida para a
Secretaria de Estado de
Educação (Seduc).
“Já tem quase cinco
anos que a nova sede da
Empaer começou a ser
construída, mas a obra
continua estagnada.
Agora o risco é perder os
quase cinco milhões
disponibilizados pelo
governo federal para a
obra por falta de
cumprimento da
contrapartida do Estado,
que é apenas de 700
mil. Não sei aonde vão
parar estes absurdos e
até onde vai a falta de
interesse do governo no
auxílio destes
trabalhadores tão
necessitados”, desabafou
Brunetto alertando que se
nada for feito para
alterar as péssimas
condições da extensão
rural a agricultura
familiar pode morrer em
Mato Grosso.
rgão vive 10 anos de sucateamento
Ao longo de 10 anos a Empaer foi sendo sucateada pelo Governo do Estado inviabilizando a agricultura familiar
Terreno destinado à sede da Empaer virou lixão
Presidente do Sinterp/MT, Gilmar Brunetto
Mudas se perdem nos pátios dos escirtórios da Empaer
Sem assistência técnica, pequenos produtores sofrem prejuízos e vivem dificuldades
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