CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 10 A 16 DE OUTUBRO DE 2013
COPA
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G
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CÓRREGO MANÉ PINTO
Obra pede afetar estrutura do Centro Popular que abriga camelôs e que foi inaugurado há menos de um ano em Cuiabá.
Por Camila Ribeiro. Fotos: Mary Juruna
Mais uma obra pode desmoronar...
Situações de
insegurança e perigo para
a população estão dando
a tônica das obras da
Copa que estão sendo
realizadas em Cuiabá.
Além da obra do viaduto
do Despraiado que,
conforme mostrou a
reportagem do
Circuito
Mato Grosso
, apresenta
uma encosta íngreme e com
possibilidade de
deslizamento na época das
chuvas, outra obra que tem
‘tirado o sono’ de
moradores da Capital é a
de restauração da Avenida
8 de Abril e do Córrego
Mané Pinto, na região do
Porto.
Orçada em quase R$
20 milhões, a obra teve a
ordem de serviço dada em
novembro de 2012, com
previsão de término para o
mês de julho deste ano,
conforme aponta relatório
do Tribunal de Contas do
Estado (TCE). Passados dois
meses do prazo de
conclusão, o que se
observa no local é um
enorme buraco, com esgoto
correndo a céu aberto e um
perigo iminente para os
transeuntes da região.
Não bastasse a
morosidade da obra, o
local não apresenta
qualquer segurança para os
que precisam por lá passar.
Nas proximidades do
Centro Popular de Cuiabá,
por exemplo, onde estão
camelôs que anteriormente
estavam espalhados em
praças públicas da Capital,
existem poucas barreiras de
proteção, facilitando,
inclusive, o acesso à obra.
Assim como já ocorreu em
outras obras da Copa
inacabadas, é comum
avistar pessoas passando
pelo local, seja a pé, de
bicicleta ou mesmo de
moto.
“Essa obra começou
há muito tempo, mas não
conseguimos ver nenhum
progresso. Está chegando
a época das chuvas e
nosso medo é que tudo
aqui desmorone, pois a
gente percebe que a
calçada aqui já está sendo
atingida, os muros já estão
com rachaduras. Já
procuramos a Secopa
várias vezes, eles sempre
nos falam que a obra vai
ser concluída em 20 dias,
30 dias, mas nunca
acaba”, relata a presidente
da Associação dos
Camelôs, Vendedores
Ambulantes e
Permissionários de Cuiabá,
Aparecida Ribeiro de
Oliveira. Além de apresentar
um elevado risco de
desmoronamento e queda
de barranco que é causada
pela perda da coesão de
material, a obra também
está prejudicando as vendas
no Centro Popular, já que o
acesso às lojas foi
completamente prejudicado.
A vendedora Aparecida
Prima, que vende bolsas e
carteiras no Centro Popular,
diz que “desde que as obras
começaram, houve uma
queda de 80% nas vendas.
O Natal está chegando e
não sabemos se isso tudo já
vai estar resolvido. Não
entendo porque eles vêm
aqui, abrem esse buraco e
largam do jeito que está.
Sabemos que quando
concluída a obra, vai
melhorar muito nossa
situação aqui, mas não
podemos ficar esperando
uma vida toda. Este é o
nosso trabalho, não
estamos aqui brincando”,
reclama.
A l ém de cami nha r a ‘ pa s s o s l en t o s ’ , ob r a de
r e s t au r ação do Có r r ego Mané P i n t o cau s a
p r eoc upação po r r i s co de de s l i z amen t o
Có r r ego a céu abe r t o é s i nôn imo
de pe r i go aos que pa s s am pe l o l oca l
Centro Popular registrou queda no volume de vendas
em decorrência dos desvios necessários para a obra
DESAPROPRIAÇÃO
Casal paga por estrago da Secopa
Enquanto impasse dura mais de um ano, moradores não recebem indenização e ainda têm de custear despesas causadas por obras
da Copa. Por Valquiria Castil e Camila Ribeiro
As desapropriações
feitas pela Secretaria
Extraordinária da Copa
(Secopa), com vistas à
Copa do Mundo de
2014, parecem estar
sendo realizadas sem
qualquer critério técnico e
planejamento. Muitos
afetados pelas obras
questionam que os
processos estariam sendo
feitos no “olhômetro”,
conforme o
Circuito
Mato Grosso
já revelou
na edição 457. Não fosse
o bastante, a reportagem
ainda encontrou um casal
de idosos, que além de
ainda não ter recebido
um centavo de
indenização, ainda teve
que arcar com os
‘estragos’ causados pelas
obras.
O fato foi relatado
ao
Circuito
pelo casal de
aposentados Celina
Karina de Oliveira, 75, e
Antônio Pereira de
Oliveira, 95, que há 35
anos residem na Avenida
Miguel Sutil, em Cuiabá.
Há pouco mais de um
ano, no entanto, eles
passaram a viver um
Mais da metade dos donos de
imóveis já acionou a Justiça
Até agora, cerca
de 400 imóveis já
foram
desapropriados.
Acontece que nem
todos os proprietários
receberam os valores
referentes à
reintegração de posse
ou desapropriação,
segundo aponta a
própria Secopa.
Isto porque
existem casos em que
os proprietários não
concordam com os
valores das
indenizações e os
pagamentos acabam
sendo feitos em juízo,
ou seja, são
depositados em uma
conta específica até
que o processo de
desapropriação
transcorra totalmente.
E por conta da
falta de transparência
no processo de
desapropriação, no
mínimo 60% de um
total de 747 imóveis a
serem desapropriados
estão sendo alvo de
litígio na Justiça entre
os proprietários e a
Secopa.
De acordo com o
levantamento feito
pelo
Circuito Mato
Grosso n
o Sistema
Integrado de
Planejamento,
Contabilidade e
Finanças
(Fiplan), somente em
2013 a Secopa já
efetuou mais de R$ 61
milhões de
pagamentos em juízo.
A estimativa da
secretaria é de que as
desapropriações
previstas em Cuiabá e
Várzea Grande custem
aproximadamente R$
100 milhões aos
cofres públicos.
drama em decorrência
das obras da trincheira do
Santa Isabel.
Depois de a obra ter
começado, Antônio, que
também possui um salão
alugado no local, alega
ter recebido a visita de um
engenheiro da Secopa,
que realizou medições nas
áreas que seriam
desapropriadas. O
problema, no entanto, é
que parte dos imóveis teve
de ser destruída, sendo
que os custos foram pagos
pelo proprietário.
Passado este
processo, Antônio teve de
fazer uma reforma em
seus imóveis para adequar
os espaços. Para surpresa
do aposentado, outro
engenheiro da Secopa
retornou à sua casa e fez
outra demarcação, sob a
alegação de que uma
nova demolição seria feita
no local.
“Da primeira vez que
eles vieram, nos disseram
que quanto mais rápido
providenciássemos a
demolição, mais rápido
nós receberíamos a
indenização”, relatou
Antônio, ao alegar que já
gastou dinheiro, já
derrubou muro e, ainda
assim, não recebeu
qualquer indenização. O
aposentado assegurou,
ainda, que a partir de
agora, “se quiserem
derrubar qualquer coisa,
primeiro terão de me
pagar”.
Além dos gastos que
a Secopa “jogou nas
mãos” do casal de
aposentados, eles ainda
afirmam que estão tendo
outros prejuízos por conta
da obra da trincheira. Isto
porque, como perderam
parte do salão que
alugavam, o valor do
aluguel – que era
utilizado para pagar
tratamentos de saúde –
também teve de ser
reduzido. “Com nossa
aposentadoria a gente
mantém os gastos da
casa, mas os tratamentos
médicos estão sendo
difíceis de serem
custeados”, disse o
aposentado, que ainda
completou alegando que
não esperava que o
Governo fizesse isso com
pessoas idosas.
O casal alega ter
recebido documentos e
um cartão para que
pudessem sacar o valor
indenizatório, porém até
hoje nada foi depositado.
Não bastasse o descaso,
ambos ainda tiveram de
ouvir de representantes da
Secopa, que se eles “não
concordassem com o
valor, que procurassem
um advogado”. Por fim,
Antônio se diz intrigado,
já que não tem
conhecimento de onde os
valores das
desapropriações estão
sendo depositados. “Eu
queria saber, então, por
que não pagam a gente.
Já pagaram três vizinhos
nossos e eu não sei qual
o critério que é usado
para liberar o
pagamento. Esse dinheiro
está fazendo falta, eu
preciso me tratar e minha
mulher também”.
O caso foi
encaminhado à
Defensoria Pública.
Mo r ado r e s mo s t r am doc umen t o e l abo r ado pe l a
en t ão Agecopa , ao a f i rma r que a t é ho j e não
r e c ebe r am nada de i nde n i z a ç ão
Ca s a l cami nha pe l a f r en t e da r e s i dênc i a que f o i
a f e t ada pe l a ob r a da t r i nche i r a do San t a I s abe l
Dona Ce l i na Ol i v e i r a d i z que d i nhe i r o ga s t o com
r e f o rma f a l t a pa r a cu s t ea r t r a t amen t o méd i co