EDIÇÃO IMPRESSA - 456 - page 4

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 5 A 11 DE SETEMBRO DE 2013
POLÊMICA
P
G
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SINDICALISMO
Divergência sobre rumos domovimento
Sindicalistas mais radicais defendem atuação de sindicatos como única fonte de entendimento.
Por: Rita Anibal. Fotos: Mary Juruna e reprodução.
Jair Meneguelli, primeiro presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e um
dos fundadores do PT, falou recentemente da relação perigosa entre a CUT e o Governo
Federal: “Sindicato é sindicato, partido é partido”. Porém, unidos umbilicalmente desde a
eleição de Lula para presidente do Brasil, sindicalistas e governos alegam que essa união
promoveu avanços sociais ‘enormes’. Já analistas políticos veem essa relação governo-
sindicato como promíscua e tentativa de implantar um “falso socialismo no País”. O certo
é que em Mato Grosso a educação – sucateada – está em greve apesar de o secretário
ser do PT (Ságuas Moraes). Os profissionais da educação, que formam o maior sindicato
do Estado, reclamam de salários baixos e falta de condições de trabalho. Líderes
concordam com o movimento, mas divergem quando o assunto é avaliar a força do
movimento sindical depois que o PT assumiu o comando do país e o domínio sobre a
maioria dos Estados, a exemplo de Mato Grosso.
Gauchinho critica interesses
pelo imposto sindical
O atrelamento atual de sindicatos, centrais e federações
que foram criados para favorecer partidos políticos não é
benéfico aos trabalhadores. Muitos entram para essas entidades
como forma de obter favorecimento econômico. Está é a atual
visão sobre o sindicalismo brasileiro de Gilmar Brunetto, o
“Gauchinho”, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da
Assistência Técnica de Extensão Rural e Pesquisas Públicas de
Mato Grosso (Sinterp/MT) e integrante do Fórum Sindical. “Os
sindicatos dos agentes penitenciários e do Detran deram
demonstração de força nas greves recentes que comandaram e
negociaram de forma positiva com o Governo do Estado”.
Gauchinho conta que os sindicatos que trabalham em
serviços essenciais conseguem negociar bem, mas os da área
social não conseguem pressionar, pois “não têm poder de
fogo”. Lembra que o maior sindicato de Mato Grosso, que é o
da educação [Sintep], está numa luta ferrenha por melhores
condições de trabalho e salariais e a sociedade está passiva em
relação a isso. “Um setor tão importante como a educação
reivindicando em nível estadual e municipal e ninguém dá
atenção”, lamenta o sindicalista.
Brunetto também se mostra desiludido com o partido ao
qual pertence: “O Partido dos Trabalhadores (PT) que
comanda diversos sindicatos, agora fica calado diante das
greves das quais anteriormente era ferrenho defensor. Atrelou-se
aos empresários para financiamento de campanha, igualzinho
aos outros partidos. Dinheiro não brota da terra e os
empresários cobram a contrapartida. Virou tudo farinha do
mesmo saco”. Com o aumento substancial de sindicatos,
Brunetto analisa que as reivindicações dos trabalhadores estão
ficando relegadas a plano inferior: “Na hora de participar das
lutas, poucos aparecem; mas para receber o imposto sindical,
lota o sindicato!”.
“Tem sindicalista que só serve de
esteio para sindicato patronal”
Ferrenho defensor
dos movimentos e das
centrais sindicais, o
secretário de
Comunicação do
Sindicato dos
Trabalhadores no Ensino
Público de Mato Grosso
(Sintep/MT), Gilmar
Soares Ferreira se altera
quando perguntado sobre
a sustentação dos
sindicatos ao governo
Lula (PT). Refuta a
pergunta do
Circuito
Mato Grosso
: “É um
equívoco achar que todos
os sindicatos são petistas.
Dentro do movimento
sindical estão todas as
correntes partidárias e é
um movimento
democrático, forte e
protagonista dos direitos
da classe trabalhadora”.
Soares relata que
desde o primeiro
governo Lula, que tem
raiz sindicalista, o
aumento de empregos
formais e redução das
alíquotas do Imposto de
Renda Retido na Fonte
(IRRF) são frutos da
atuação sindicalista junto
ao Governo Federal. Ele
explica que o
sindicalismo tem
propostas concretas de
defesa da classe
trabalhadora que são
discutidas com os
governos e isso tem
proporcionado mudança
de atuação nos partidos.
“Nós temos plataformas
de governo que são
discutidas a cada
eleição, seja na esfera
federal, estadual ou
municipal”, diz.
O sindicalista faz
uma elucidação sobre a
estrutura organizacional
atual dos sindicatos
dizendo que ela não
favorece os movimentos
de base, permitindo a
criação de sindicato ‘de
gaveta’. Soares diz: “Uma
das razões para criação
de vários sindicatos [o
Ministério do Trabalho
recebe cerca de 80
pedidos de criação de
sindicatos por mês] é o
imposto sindical
distribuído aos sindicatos,
centrais e federações de
trabalhadores”.
A contribuição (ou
imposto sindical) é paga
pelo trabalhador uma vez
por ano e corresponde a
sua remuneração de um
dia normal de trabalho,
sem inclusão de horas
extras. O secretário
afirma ainda: “Existe
sindicato sem tradição de
luta, que não tem
interesse em filiar as
bases, servindo apenas
de esteio para o sindicato
patronal, tornando-se um
empecilho na formação
de uma classe
trabalhadora voltada
para a defesa da
garantia e ampliação de
seus direitos”.
Questionado acerca
da greve dos professores
e sobre a pasta ser
dirigida por um petista,
justifica a ação de
Ságuas Moraes [secretário
estadual de Educação]:
“Não faz diferença se o
secretário é do PT; tanto é
que isso não impediu
nossa luta, nossas
reivindicações, nossa
autonomia e a luta das
bases. Para nós, não
importa o partido”.
Defende, ainda, que o
secretário faz parte de
uma aliança que dá
sustentação ao projeto de
governo do PMDB. “Nos
governos Blairo e Silval os
partidos sempre estiveram
limitados dentro do arco
das alianças”, sustenta
Soares.
Para ele, é
fundamental continuar o
projeto que foi iniciado
em 2003 através da
Central Única de
Trabalhadores (CUT), que
tem por objetivo a
garantia dos direitos da
classe, que reconhece que
foram poucos: “Nosso
desafio é continuar com o
movimento sindical livre,
autônomo e
representativo. Nossa
responsabilidade é
avançar nas políticas
públicas sociais e
trabalhistas”, sintetiza.
Fazendo um balanço do movimento sindical
na última década, Arilson da Silva (PT),
oriundo do Sindicato dos Bancários, acredita
que o sindicalismo está se fortalecendo e
ganhando um novo momento, pois estaria
pautando os governos através da voz da
sociedade que está exigindo melhores
serviços públicos e atuação positiva da classe
política. Silva defende que o sindicalismo
não pode perder a interatividade com o
povo: “Os trabalhadores não gostam de
greve. Ela é usada em última instância,
quando as portas do diálogo são fechadas”.
Sindicatos e governos mantêm
relação promíscua, diz analista
O cientista político João
Edisom de Souza, da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT),
lembra que o sindicalismo
brasileiro, quando chegou
ao poder, estabeleceu uma
relação direta com o
governo, uma vez que seus
principais líderes passaram
a ocupar postos-chave: “A
aproximação dos sindicatos
com o governo gerou uma
relação promíscua, pois as
negociações de bastidores
tornaram-se mais
importantes que as pautas
geradas em assembleias”.
Essa promiscuidade,
segundo ele, chega ao
auge com a formação
paritária onde metade dos
membros pertence aos
sindicatos e a outra é
composta de pessoas
ligadas ao governo,
prejudicando a classe
trabalhadora. Com a
renegação das classes, as
condições de trabalho
foram puxadas para baixo
pela falta de assistência
sindical.
O analista político
argumenta que os sindicatos
tornaram-se ‘terra de
ninguém’, uma vez que seus
líderes estão preocupados
com a sustentação do poder
político adquirido, em
detrimento das classes que
representam. Acredita ser
muito difícil a retomada das
rédeas sindicais pela
alienação de seus atuais
líderes e pela fusão direta
com o poder: “CUT e PT se
confundem para difundirem
a falsa esquerda, o falso
socialismo”, denuncia
Souza.
João Edisom analisa o
cenário provocado por esta
fusão como caótico para os
trabalhadores, citando
como exemplo o lucro
excessivo dos bancos
privados nos últimos anos e
trabalhadores do setor com
piso salarial muito baixo e
condições de trabalho
precárias, além do aumento
de desempregados. A
situação chegou nesse
ponto por falta de líderes
comprometidos com a
classe trabalhadora: “Esses
líderes só buscam o poder e
não buscam projetos para o
bem-estar da categoria de
base”, afirmou o cientista
político.
De sindicalista a
vereador, Arilson vê
retomada do movimento
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