CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 15 A 210 DE AGOSTO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 7
PARALELO 15
Por Bolívar Figueiredo
DA PATACA, RÉIS AO REAL, NO BRASIL TUDO MEIO IGUAL
BolívarFigueiredoé jornalistae
artistaplásticoformadoemBrasília,militante
verde e fundador nacional do PV,
sagitariano, calango do cerrado e
assuntadordefatosevarredordepalavras.
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clóvis Mattos
BOA LEITURA
Ao escrever sobre as
expedições científicas do
século XIX, que passaram por
Cuiabá – via fluvial – e por
Chapada dos Guimarães e
região – via trilhas do
cerradão (edições 451 e 452)
–, pincei relatos dos diários de
campo do Barão Langsdorff e
de Luiz D’Alincourt, que
registraram em detalhes como
era ser um desbravador e
costumes do povo. E alguns
desses relatos não diferenciam
muito dos dias atuais. Seja
pelo descaso com as vias de
transporte, abandono social,
pela prática abusiva de
preços na atividade turística.
Bem, vamos voltar no tempo,
sem deixar a realidade, que
ainda perdura. Aqui estão
algumas anotações de
Langsdorff.
Os diários do Barão
Georg Heinrich von
Langsdorff constituem uma
parte importante do arquivo
de sua expedição brasileira,
realizada entre 1822 e 1829.
Nos anos 30 do século XIX,
eles se perderam juntamente
com todo o arquivo da
expedição e só foram
redescobertos em 1930.
Atualmente estão guardados
no Arquivo da Academia de
Ciências Russa.
Esses diários compõem-
se de 26 cadernos de
diferentes formatos e
tamanhos, abrangendo
1.388 páginas. Não resta
qualquer dúvida quanto à sua
autenticidade: alguns contêm
a assinatura de Langsdorff, e
a letra dos textos é a mesma
usada em conhecidas
correspondências do cientista.
Langsdorff escreveu esses
diários no campo em
circunstâncias dificílimas.
Langsdorff percorreu o
Mato Grosso, regiões
fronteiriças com a Bolívia,
realizando pesquisas no Alto
Paraguai e no Guaporé.
Desceu depois ao Amazonas
pelos afluentes do Tapajós e
visitou aldeias do povo
Bororo, considerado então
como extinto. No Amazonas,
entrou em contato com a tribo
Mundurucu, visitando aldeias
desses índios e da tribo Maué,
já então em contato com a
população branca. Em 1828,
observou a cultura do grupo
Caripuna, na região do
Madeira-Guaporé.
Em 1824, o olhar
aguçado de Langsdorff já
registrava a prática da Lei de
Gerson: “Tenho que me dar
bem, certo?”
“Há pobreza em todo
lugar. O viajante é sempre
enganado, além de não
poder adquirir nada com
dinheiro, nem sequer os
mantimentos mais comuns. Há
alguns dias, pudemos
comprar, aqui e ali, um pouco
mais de feijão e milho. Leite
não se acha em lugar
nenhum; ovos, raramente.
A cachaça está mais de
duas vezes mais cara do que
no Rio – a garrafa custa 160
réis (1 franco). Em muitos
lugares, não se acha nem
aguardente. A garrafa de
vinho custa 1,5 patacas.
Neste ano, houve total
escassez de feijão. O saco de
milho custa 4 patacas”.
“É impossível fazer uma
viagem confortável nesse
país”.
Com essa frase,
Langsdorff encerra o texto de
seu primeiro volume. Imagine
o russo ainda hoje passando
pelos aeroportos e rodoviárias
do Brasil em temporada de
férias? Ou se tivesse de viajar
pelos ônibus que fazem a
linha Cuiabá-Chapada?
Langsdorff registrou
também as condições das
avós de nossas rodovias.
“Entrei novamente naquele
caminho terrível e repugnante,
onde às vezes eu tinha a
impressão de estar afundando
numa poça de lama. Posso
dizer, sem exagero, que vi
animais recarregados darem
três ou quatro passos e caírem
novamente no lodaçal”.
Outro pavor do barão
russo eram os mosquitos. Em
várias páginas de seus diários,
ele comenta sobre a
voracidade desses insetos, seja
dentro ou fora das barracas,
na beira dos rios, nas matas e
até seguindo as canoas:
“Temos nos protegido deles
em uma canoa com
mosquiteiro, da mesma forma
como são usados em volta
das camas, no Rio de Janeiro
e em outros lugares”.
Neste trecho o cientista
estava chegando ao Pantanal,
navegando pelo rio Taquari,
por volta de 1827.
Em momento de
descontração, e até de bom
humor para um alemão-
russo, ele descreve seu
encontro com as piranhas,
quando é atacado no
“pinguelo”: “Resolvi reanimar
meu corpo cansado e aliviar a
respiração com um banho.
Satisfeito por ter tanta
companhia, tirei rapidamente
as roupas e me joguei na
água. Mas, na mesma hora,
contra a minha vontade, as
crianças e os demais saíram
da água, numa atitude de
respeito, e me vi sozinho
dentro do rio, com água a
1,5 pé de altura. Recuperei o
fôlego, me refresquei e ia dar
um último mergulho, quando,
de repente, uma pequena
(felizmente!) piranha mordeu
uma parte nobre e preciosa
do meu corpo, deixando em
volta dela a marca de um
círculo bem feito, com seus 12
dentes. Por sorte, não o
arrancou fora. Corri como um
raio para fora do rio. Embora
estivesse bastante machucado
e sangrando muito, percebi
que eu ainda era um homem
inteiro: não havia perdido
aquele pedacinho de carne
precioso do corpo. Fosse um
peixe maior, provavelmente
agora eu estaria mutilado
para o resto dos meus dias”.
Entõ, depois dessa, me
vou. Saravá, Amém, até o
diário que vem...
A REALIDADE DAS IDEIAS
Autor: Michael Otte
ano: 2012
Editora:EdUFMT
Neste livro é
apresentada a
organização de cinco
textos traduzidos de
publicações originais
veinculadas em revistas
e livros internacionais,
que retratam o campo
de pesquisa de Michael
Otte e que contribuirá
para a formação de
novos pesquisadores
em Educação
Matemática. Distinção
entre provas
demonstrativas e
explicativas, reflexões
sobre o pensamento no
processo de
desenvolvimento do
conhecimento,
discussões sobre a
questão da
representação referindo-se
ao aspecto didático,
comparação quanto ao
enfoque da história e da
filosofia da Matemática e
as dificuldades de
aprendizagem são alguns
dos temas abordados
nesta obra que é dividida
em cinco capítulos.
PAZ SOB FOGO CERRADO
Autor: Vinícius de
Carvalho Araújo
Ano: 2011
Editora: EdUFMT
Este é um livro
imprescindível para
qualquer pessoa que
queira conhecer os
fundamentos da recente
história política de Mato
Grosso. O livro aborda
períodos de intensa
atividade política e o
modo como as
lideranças e os partidos
mais ativos no Estado se
organizaram, se
confrontaram e
realizaram a arte do
possível e do
impossível , ou seja,
o exercício pleno da
política.
O autor se revela
um profundo
conhecedor da política
mato-grossense e
oferece ao público um
livro com rigor
metodológico e
narrativa fluente e
envolvente que,
certamente, será leitura
obrigatória para todos
os interessados em
compreender a rica e
complexa dinâmica
política do Estado de
Mato Grosso.