CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 21 A 27 DE MARÇO DE 2013
COMPORTAMENTO
P
G
4
ALCOOLISMO
São tantos dependentes de álcool que se 10% procurassem ajuda não haveria espaço nas salas do AA.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves e Diego Frederíci
Doença social em ritmo alarmante
O alcoolismo avança
como uma doença social
cada vez mais perigosa e
que conta com o
incentivo desmedido de
campanhas publicitárias.
“Se cerca de 10% das
pessoas que precisassem
de ajuda estivessem aqui,
com certeza nós não
teríamos espaço suficiente
para atendê-los”. Esta
informação de um
dirigente do Alcoólicos
Anônimos (AA) de Cuiabá
atesta o quanto o
alcoolismo tem vitimado
cada vez mais pessoas e
um número cada vez
maior de mulheres e
jovens. Como é lícito o
consumo de bebida
alcoólica, a identificação
da doença é outro
agravante para o
aumento também de
óbitos.
Ele alerta que, além
do acompanhamento
realizado pelas
instituições de auxílio
como o AA, ou outras até
mesmo ligadas a diversas
religiões, é extremamente
necessário o
acompanhamento
médico e até psicológico,
dependendo da
gravidade do
dependente.
A médica Hélia
Vexel, especialista no
tratamento de
dependentes químicos,
reforça: “O alcoolismo
tem que ser visto como
uma doença crônica que
causa sérias
deteriorações no corpo
humano, até mesmo
ENDEREÇOS
AA CUIABÁ
CENTRAL
Av. Tenente-Coronel
Duarte (Prainha), nº
350, Centro Norte
NOVO COLORADO
Av. Expedicionário
Nelson Nunes, s/n,
ponto final Novo
Colorado
LINGUAGEM DO
CORAÇÃO
Av. 4, Quadra 60,
lote 13
Parque Cuiabá
RAIO DE LUZ
Av. Newton Rabello
de Castro, s/n,
Quadra 1, n° 01
Pedra 90
LEVAR ADIANTE
Av. dos
Trabalhadores, s/n,
em frente ao Pomeri
Planalto
Segundo um estudo
divulgado recentemente
pela revista Clinics e pelo
Centro de Informações
sobre Saúde e Álcool
(CISA), que investigou os
padrões de consumo e
diferenças entre gêneros em
relação aos problemas
relacionados ao uso do
álcool, a mudança no
papel da mulher na
sociedade contribuiu para o
consumo exagerado de
bebidas alcoólicas. Os
resultados apontam que
aproximadamente 22% dos
entrevistados (32,4% das
mulheres e 8,7% dos
homens) são abstêmios,
60,3% são bebedores não
pesados (sem diferença
entre os gêneros) e 17,5%
(26,3% homens e 10,9%
mulheres) relataram ter feito
uso pesado e frequente de
álcool. Outro dado que
diferencia o consumo entre
os gêneros é que a ingestão
de bebidas alcoólicas entre
as mulheres está diretamente
relacionada a um maior
grau de instrução e
melhores condições
econômicas.
O relato de uma alcoólatra
Para Maria Clara
(nome fictício), 47 anos, o
vício em álcool começou
aos 16 anos, dentro de
casa e até mesmo com o
incentivo dos familiares.
“No começo eles achavam
bonitinho, que era coisa
da idade mesmo, que
logo ia passar”. Vinda de
uma família de classe
média alta, o aporte
financeiro auxiliou no
aumento da frequência
das bebedeiras. “Eu
sempre estava em festas e
bebendo muito. No
começo ia às festas que
me interessavam e bebia
para ficar mais desenvolta;
seis meses depois eu já
estava assídua em
qualquer festa regada a
bebida. Sempre arrumava
uma desculpa para
beber”, relata.
Há 20 anos com o
vício controlado
(alcoolismo não tem cura),
Maria conta que aos
poucos foi se apaixonando
perdidamente pela
sensação causada pelo
álcool. “Por mais que as
pessoas te falem para
parar de beber, não
adianta, principalmente
quando você descobre que
é muito fácil conseguir
bebida, é só ir ao bar e
beber, não tem segredo”,
conta ainda ressaltando
que após um ano já estava
totalmente entregue ao
vício. Ainda segundo
Maria, o período mais
crítico da doença veio no
terceiro ano de consumo
diário do chope e cerveja.
Sem conseguir terminar os
estudos, passou a ser
indesejável na família,
principalmente pelo
descontrole de
personalidade
apresentado durante o
estado alcoólico.
“Quando se bebe
muito, você fica totalmente
sem controle, é horrível
principalmente para as
mulheres. Minha saúde foi
definhando, minha beleza
se acabando, não
conseguia manter um
relacionamento estável, a
bebida te consome de
uma forma que não te
deixa prosseguir”.
Aos 27 anos e
grávida, o vício parecia
não ter mais controle.
“Quando estava grávida,
aconteceu uma coisa
extraordinária: eu enjoei
da bebida, mas não via a
hora de ter o meu filho
para beber novamente.
Mas foi quando ele
nasceu, cerca de quase um
ano depois, quando a
minha família quis levá-lo
de perto de mim, foi que
pensei em pedir ajuda de
verdade”, conta
emocionada, ainda
dizendo entender a atitude
de preocupação dos
familiares, já que a sua
situação estava totalmente
sem controle.
“Eu vivia toda
machucada, inchada e
doente, então a melhor
coisa que eles poderiam
fazer era levá-lo mesmo,
mas graças a Deus
consegui forças para
procurar o AA, porque sem
ajuda ninguém consegue.
O vício é muito mais forte
do que a gente”, afirmou
dizendo estar muito feliz
pelos seu 20 anos de
sobriedade.
Mulheres estão bebendo mais
irreversíveis. O problema
é físico e muitas vezes se
necessita de tratamento
com remédios e até, em
casos extremos, de
internação”. Ainda
segundo Hélia Vexel, um
dos principais problemas
no tratamento do
alcoolismo é a família,
que muitas vezes pensa
que o paciente não quer
se livrar do vício por pura
falta de vontade, não
encarando o grave
estado de dependência
do familiar.
Outro grave
problema na recuperação
destacado pela médica é
a cultura adotada na
sociedade, que incentiva
o consumo do álcool
como algo capaz de
garantir status. “Não são
raros relatos de pacientes
que disseram ficar
constrangidos em festas
onde se recusaram a
beber e foram duramente
discriminados até mesmo
com piadinhas, e por fim
acabaram cedendo ao
vício”. Dessa forma, é
extremante necessário que
o paciente em início de
tratamento se mantenha
afastado de eventos
sociais regados a bebidas
alcoólicas. O afastamento
dos antigos hábitos está
diretamente ligado às
diretrizes do Alcoólicos
Anônimos, como relata
César M. que há mais de
30 anos é assíduo nas
reuniões da instituição e
há muitos anos também
participa da organização
do projeto. “Velhos
hábitos nos levam a
velhos caminhos, então,
se queremos nos livrar
deste triste vício, é
extremamente necessário
o afastamento destes
locais que nos levam ao
erro”, observa.
O problema grave do alcoolismo ainda é ignorado pela sociedade e pelas autoridades
Os grupos de encontro são extremamente importantes no tratamento dos alcoólatras
O número de mulheres alcoólatras
aumenta perigosamente a cada ano