CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 7 A 13 DE MARÇO DE 2013
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
SUBTERFÚGIOS URBANOS
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clovis Mattos
Anna é doutora em
História, etnógrafa e filatelista.
TERRA BRASILIS
Por Anna Maria Ribeiro Costa
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Wudson Marcelo*
Editora Multifoco, 2013
Eu a escuto contar em minúcias e
inexplicável devoção algo com cheiro e
sabor de insignificância para mim, como
seu ídolo – mito quase
demolido pela
fugacidade da história
banalizada neste tempo
pós-moderno? –, James
Dean, se postou do lado
de fora da Igreja
enquanto sua amada, a
atriz PierAngeli, se
casava. Dean, conta-se,
ficou acelerando sua
moto sem dar partida
durante o andamento da
cerimônia. Depois, ele
saiu em disparada,
carregando sua
depressão. Esse é mais
um conto de amor
atrapalhado, segundo
dizem, pela proteção de
uma mãe dominadora.
Manuela olha-me como
se o narrar da vida de
terceiros correspondesse, de alguma
maneira, ao ato de compartilhá-la com
todos os seus êxtases e desprazeres. Fala-
me com estrelas a
saírem dos olhos,
“Tristão, eu creio que
por causa desse
evento irreversível, ele
morreu naquele
acidente de carro”. A
noite avança e a
turma ainda não se
reuniu. Hoje à noite,
desejo apenas me
encontrar com Isolda
Black. Desde que a
vira nos confins do
mundo em casa de
seu pai, estou
desnorteado. Lá
compartilhei com ela
pequenas confissões.
O Petrônio, que
sempre usa o bordão
“Salve Afrodite!” para
elogiar as mulheres
bonitas, declarou que eu tenho o amor
da garota mais bela da cidade, e que
esta se chama Isolda Black. “Vamos logo
para a festa do Petrônio, Manuela”.
O espelho côncavo do guarda-roupa
mostrava para Simone os pelos pubianos
que cresciam, germinando novos
sentimentos. Ela se olhava, tocava sua
pele com os dedos que passeavam dos
seios aos quadris. O espelho côncavo
comunicava o nascimento de um reino de
esperança e sedução...
*Wuldson Marcelo
, corintiano
apaixonado por literatura e cinema,
nascido em 1979, em Cuiabá, que possui
Mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea e graduação em
Filosofia (ambos pela UFMT). É revisor de
textos, colunista da Revista Biografia
(sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/
), tem um conto publicado na antologia
de contos “Os matadores mais cruéis que
conheci” (Multifoco – RJ, 2012), autor do
livro de contos “Subterfúgios Urbanos”
(Editora Multifoco, 2013) e um dos
organizadores da coletânea “Beatniks,
malditos e marginais em Cuiabá:
literatura na Cidade Verde” (no prelo,
Editora Multifoco).
O Dia Internacional da Mulher tem
sua origem em um fato ocorrido em
Nova York, em 1857, com operárias
tecelãs. As mulheres entraram em greve
para reivindicar condições dignas de
trabalho: redução na carga diária de
16 para 10 horas e equiparação
salarial com os homens, já que
recebiam um terço do salário para
executar o mesmo serviço. Durante a
greve, foram violentamente reprimidas
e trancadas na fábrica que, em
seguida, foi incendiada, matando 130
tecelãs carbonizadas. Em
reconhecimento
à participação
da mulher na
construção do
Brasil, na
condição de
diretora de
Cultura
Histórica da
Filatelia do
Clube Filatélico
e Numismático
de Cuiabá,
presidido por
Ruben Fabio
Matos Ferreira,
exalta-se neste dia a mulher indígena.
Vítima da mão de obra escrava e da
exploração sexual por parte dos
colonizadores, sua figura anônima
contribuiu na formação social do país,
que ainda desconhece sua história.
Para isso, a peça filatélica
Madalena
Caramuru
, emitida pelos Correios em
2001, é apresentada para
homenagear a
figura feminina.
São escassas as
informações
sobre Madalena
Caramuru e é
no
Dicionário
Mulheres do
Brasil: de 1500
até a atualidade
onde se pode
encontrar com
mais facilidade
alguns dados
sobre sua vida.
Filha da índia
Moema Paraguaçu e do português
Diogo Álvares Corrêa, conhecido por
Caramuru, o
homem de fogo
, que se
adaptou à cultura Tupinambá,
Madalena casou-se em 1534 com o
português Afonso Rodrigues,
responsável por sua entrada no mundo
da escrita.
Mas o feito que evidenciou
Madalena foi seu pedido registrado em
uma carta ao Padre Manoel da
Nóbrega, em 1561, para que crianças
escravas recebessem tratamento digno.
Nóbrega encaminhou à Rainha de
Portugal, Catarina de Bragança, um
pedido para dar às mulheres
brasileiras o direito à alfabetização. A
Coroa portuguesa, ao negar o pedido,
alegou ser perigoso para a supremacia
da metrópole. Madalena Caramuru é
considerada a primeira mulher
brasileira a ser alfabetizada, num país
com uma parcela da população
feminina ainda condenada ao
analfabetismo.