EDIÇÃO IMPRESSA - 497 - page 4

CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 17 A 23 DE JULHO DE 2014
CIDADES
P
G
4
ALARMANTE
Várzea Grande é a mais violenta
Relatório do TCE atribuiu índice de 8,51 em escala crescente de periculosidade que vai de 0 a 10 para o município da região metropolitana
Diego Frederici
Um relatório do
Tribunal de Contas do
Estado (TCE-MT) que
fez um estudo dos
índices de criminalidade
da capital e do interior,
apontou que Várzea
Grande, na região
metropolitana, obteve o
título nada glorioso de
cidade mais violenta de
Mato Grosso pelo
segundo ano
consecutivo. O órgão
que analisa os gastos
dos poderes Executivo e
Legislativo atribuiu a
nota 8,51 numa escala
que vai de 0 a 10. Na
metodologia empregada,
quanto maior o número,
pior a situação de
segurança das pessoas.
O estudo é referente
a 2012 e faz parte da
avaliação dos resultados
das políticas públicas
cujo objetivo é verificar
se a administração
estadual tem alcançado
êxito em nas ações
voltadas para melhorias
na qualidade de vida da
população nas mais
diversas áreas, como
educação, saúde,
segurança, habitação,
meio ambiente e
transporte, dentre
outras, feita pelo TCE
desde 2011, ano em que
o Tribunal passou a
inserir nos pareceres
prévios dos gastos dos
gestores uma análise do
desempenho dos
serviços oferecidos pelo
Estado.
No caso específico
de Várzea Grande,
preocupa o fato de cinco
entre sete indicadores do
levantamento
apresentarem índice
“muito ruim”. Desses
cinco quesitos, quatro
reuniram os piores
desempenhos do Estado:
violência letal
intencional, furtos e
roubos de bens
patrimoniais (incluindo
Baixada Cuiabana
mais violenta que SP
Cuiabá e Várzea
Grande, as duas
maiores cidades do
Estado, registraram
juntas 1.676 homicídios
no período de janeiro
de 2009 a dezembro de
2013. Se fosse um
único município, ambas
as cidades teriam um
dos maiores índices de
mortes por grupo de
100 mil habitantes: 49.
Índice bem superior a
cidades brasileiras tidas
como “violentas”,
como São Paulo e Rio
de Janeiro, que
registram 11 e 23
falecimentos por grupo
de 100 mil habitantes,
respectivamente.
Números relativamente
pequenos em
comparação com outras
cidades. No Estado,
Confresa é o município
mais violento, anotando
77,6 homicídios por
grupo de 100 mil
habitantes.
Dados do estudo
“Homicídios e
Juventude no Brasil”,
Moradores de Várzea Grande contabilizam crimes
A área central da
cidade de Várzea Grande,
que faz parte da região
metropolitana de Cuiabá,
parece estar no imaginário
das pessoas por sua falta
de segurança. “Quem
mora lá não quer falar da
vizinhança. As pessoas
têm medo porque até
toque de recolher tem”,
disse ao
Circuito Mato
Grosso
uma moradora do
Água Vermelha, bairro
que ao contrário daqueles
que sofrem o estigma por
terem localização afastada
dos serviços públicos e
do comércio, encontra-se
próximo do centro de
Várzea Grande.
Grimaldo Barbosa da
Silva é conhecido pelos
trabalhadores e
trabalhadoras que voltam
para casa depois de outro
dia de trabalho. Com uma
churrasqueira que fica do
lado de fora da rodoviária
da cidade, ele oferece
espetos de carne bovina,
linguiça e frango pelo
simbólico preço de R$
1,50 – o suficiente para
algumas pessoas que
também aproveitam o
momento para se
socializar e compartilhar
os prazeres e dificuldades
do cotidiano, incluindo a
violência. “Tenho
quarenta anos e já perdi
muitos amigos e
conhecidos”, disse o
vendedor. Próximo dali, o
técnico industrial
aposentado Osvaldo
Duarte, que reside nas
proximidades da
rodoviária de Várzea
Grande, faz um relato da
situação vivida por
pessoas que além de se
resignarem por ter que
da Secretaria Geral da
Presidência da
República, publicado em
2013, revelam que entre
1980 e 2011 foram
assassinadas 1.145.908
pessoas no Brasil. O
número é superior ao do
conflito entre Estados
Unidos e Vietnã, que
vitimou 1.058.193
pessoas, e é cinco vezes
maior do que as vidas
perdidas na Guerra do
Golfo, que contabilizou
mais de 200 mil mortos.
As cifras de Mato
Grosso ajudam a
compreender essa
realidade no país.
Segundo o mesmo
levantamento, 70% das
mortes que ocorrem no
Estado cujas vítimas
fazem parte da
população jovem – com
idade entre 15 e 24 anos
– ocorrem por fatores
relacionados à violência.
Os números podem
indicar ineficiência nas
políticas de segurança
pública e de combate à
criminalidade.
utilizar um péssimo
sistema de transporte,
também estão à mercê de
assaltantes que não se
intimidam – nem mesmo
quando o alvo deles, os
moradores, encontram-se
dentro do Terminal André
Maggi. “Aqui não temos
sossego nem de dia. Já
perdi a conta de quantas
vezes pessoas foram
assaltadas, inclusive
dentro do terminal, que
não possui segurança
própria. Até tráfico de
drogas acontece ali”, diz
ele.
Fotos:
André Romeu
veículos), homicídios de
crianças e adolescentes
(0 a 18 anos) e
homicídios de jovens (19
a 29 anos).
A taxa de homicídios
de mulheres é a segunda
maior de Mato Grosso.
O município vizinho de
Cuiabá recebeu avaliação
de 0,92 nesse quesito,
em gradação que vai de 0
a 1. Nesse caso, quanto
mais próximo do “1”,
mais grave o problema.
Ainda de acordo com
os indicadores que
medem os níveis de
segurança da cidade,
quatro quesitos entre
sete avaliados, e que
tiveram classificação de
“muito ruim” ou “ruim”,
são de crimes
relacionados a
homicídio, destacado no
relatório como “a última
e mais grave
consequência de um ato
de agressão e/ou
violência praticada por
terceiros”.
Já a capital dividiu
com Sinop (501 km de
Cuiabá) a segunda
colocação de cidade mais
violenta de Mato Grosso:
ambas obtiveram índice
de 6,05 e apresentaram
classificação “muito
ruim” ou “ruim” nas
modalidades de crimes
contra o patrimônio
(exceto veículos),
homicídio de jovens de
19 a 29 anos e homicídio
de crianças e
adolescentes de 0 a 18
anos.
Além destes, a taxa
de homicídio de
mulheres em Cuiabá e
violência letal não
intencional no trânsito,
no município do norte do
Estado, também tiveram
desempenho
preocupante.
As regiões menos
violentas, segundo o
TCE, compreendem
Água Boa, com índice de
4,82 e Alta Floresta, que
recebeu 4,59 do estudo.
O Zero Km, famosa área de prostituição em Várzea Grande, é um dos locais mais
violentos da Baixada Cuiabana, além de ser ponto de tráfico de entorpecentes
O Terminal André Maggi é alvo frequente de assaltantes e traficantes de drogas, que
se aproveitam da falta de segurança do local para assaltar os munícipes
Vendendo seus espetos de carne nas proximidades do
centro, Grimaldo Barbosa afirma que já perdeu amigos e
familiares para a violência
Osvaldo Duarte reside próximo ao Terminal André Maggi e
disse já ter perdido a conta de quantas vezes presenciou
assaltos dentro e fora da rodoviária
1,2,3 5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,...20
Powered by FlippingBook