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POLÊMICA
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CUIABÁ, 5 A 11 DE JUNHO DE 2014
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COPA 2014
E se as obras virarem escombros?
Novo governador vai pegar 60% das obras inacabadas e se não houver alinhamento político há risco de serem abandonadas para sempre
Rafaela Souza
O novo governador de
Mato Grosso vai assumir
o cargo em janeiro de
2015 com uma enorme
responsabilidade: concluir
as obras lançadas com
vistas à Copa do Mundo e
pagar uma dívida bilionária
contraída pelo governo
atual sob a promessa de
entrega-las até maio de
2014. A grande abertura
da Copa acontece neste
dia 12 de junho e apenas a
Arena Pantanal foi
totalmente concluída, além
de meia dúzia de obras
inauguradas, mas sem
acabamento.
Para o engenheiro
civil e especialista de
trânsito da Universidade
Federal de Mato Grosso
Luiz Miguel de Miranda,
algumas obras nem em
2017 devem ser
concluídas – como aponta
estimativa nacional na
semana passada. Isso
porque o estudo não levou
em consideração as
questões políticas.
Ou seja, não avaliou
como vai ficar a situação
das obras atrasadas caso o
novo governador eleito em
outubro próximo não seja
da mesma corrente
político do governador
Silval Barbosa ou da base
de sustentação do
Seja bem-vindo à Salgadeira... Será?
A obra de reforma do terminal da Salgadeira, localizado na divisa de Cuiabá com Chapada dos Guimarães,
também não saiu do papel. O local, que atraía turistas do mundo todo, hoje é o retrato do descaso. A equipe do
Circuito Mato Grosso
foi “convidada” a sair do local com certa truculência pelos seguranças ao perceberem
que estava registrando o abandono.
Às vésperas do início
dos jogos, e sendo que
apenas a Arena Pantanal
recebeu reforços para ser
finalizada, muitas obras
que não estão nem na
metade de terminar estão
passando por uma
‘maquiagem’ para que os
turistas não sintam tanto
o caos. Contudo, retomar
essas construções pode
custar o dobro do valor
original devido ao trabalho
de refazer o serviço
inicial. O investimento em
jardinagem foi alvo de
criticas até em jornais de
circulação nacional,
contudo o que não foi
estimado ainda é o custo
para se retirar novamente
essas árvores para dar
continuidade às obras.
Segundo o engenheiro
Luiz Miguel de Miranda,
toda a maquiagem que
está sendo realizada em
Cuiabá vai representar, no
final, o dobro do valor da
obra em relação ao custo
inicial, pois leva tempo
para refazer o serviço.
“Se uma obra está
orçada em R$ 200 mil e já
foi realizada a escavação e
agora estão tampando,
depois quando retomarem
os serviços, terá de ser
investido mais um
montante de R$ 200 mil,
pois o trabalho será
repetido. É isso que nós
apontamos como falta de
planejamento, que no final
quem paga é a
população”, explica
Miranda.
Já Luiz Miguel de
Miranda levanta outra
preocupação que será uma
certeza em 2017, e
envolve a reforma das
construções que foram
entregues ou parcialmente
entregues até o momento:
“Não houve qualidade
tecnológica nessas obras
e a prova são os defeitos
que já começaram a
surgir. Em 2017, se o
governo conseguir
entregar tudo para a
população, ele terá o
trabalho de refazer muitos
projetos que estão sendo
realizados sem
planejamento, e o melhor
exemplo que posso citar é
o asfalto, que nos
próximos três anos será
intransitável”.
Maquiagem vai
dobrar valor inicial
VLT corre risco de não sair do papel
Entre as construções
que não devem ser
concluídas até o final do
mandato do próximo
governador está o Veiculo
Leve sobre Trilhos
(VLT), o mais claro
exemplo da falta de
governança,
especialmente por se
tratar do maior
investimento de Mato
Grosso para a Copa: R$
1,4 bilhão.
Desse montante, as
parcelas eram para ser
pagas de acordo com os
trechos que iam sendo
entregues, contudo 90%
já foram empenhados em
nome do Consórcio VLT,
enquanto menos de um
terço da obra foi
finalizado.
Sobre essa questão o
presidente do Tribunal de
Contas da União (TCU),
Augusto Nardes, afirmou
ao
Circuito Mato Grosso
que o VLT foi mal
planejado desde o inicio,
quando foi alvo de disputa
com o Bus Rapid Transit
(BRT).
“Eu sou admirador e
defensor de Mato Grosso,
mas infelizmente temos
uma situação lamentável,
pois as obras da Copa em
Cuiabá foram realizadas
sem planejamento
antecipado e adequado,
por falta de governança”,
desabafou Nardes.
presidente da República
que tomará posse em
janeiro de 2015.
Já para o analista
político João Edison,
independente do
governador que assumir
Mato Grosso, o Estado irá
enfrentar uma fase de
processos na Justiça para
investigar os atrasos e
superfaturamentos das
obras, e isso pode se
estender por vários
mandatos.
“Os principais
empecilhos que temos é o
descumprimento do
calendário das obras e a
grande quantidade de
dinheiro que já foi
empenhada. Então o novo
governo poderá
simplesmente não
continuar as obras, caso
contrário estará assumindo
a responsabilidade da
gestão anterior”, diz João
Edison.
Ou seja, o próximo
governador poderá abrir
processo administrativo
para apurar os atrasos e
inclusive levar o caso à
esfera judicial para se
livrar do problema.
“Acionar a Justiça será a
melhor escolha para o
governador que não quiser
assumir uma cassação,
mas como a Justiça do
nosso país é morosa é
possível que nos próximos
anos nenhuma obra seja
concluída e o Estado já
tem alguns exemplos de
construções paradas há
mais de 20 anos”, lamenta.
Além disso, o
especialista pontua a
questão de obras que
necessitam de mais
empréstimos para a sua
finalização. “O Estado está
longe de alcançar o seu
teto de endividamento,
contudo se o próximo
governo optar por esse
caminho, a população irá
passar por mais uma fase
no qual a área social foi
abandonada”, afirma
Edison.
Falta de planejamento nas obras da Copa pode deixar
população utilizando desvios por muito tempo ainda
Boa parte do asfalto utilizado nas obras da Copa
terá de ser refeita, pois não tem controle de qualidade
Cuiabá foi considerada a sede que exemplifica todos
os erros de organização em que o país se enredou
Para o especialista Luiz Miguel, apenas com muito otimismo
para acreditar que as obras ficarão prontas em 2017
Às vésperas dos jogos, a Prefeitura de Cuiabá
apela para a ‘maquiagem’ das obras inacabadas
Fotos: André Romeu
Fotos: Leda Toledo