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CUIABÁ, 5 A 11 DE JUNHO DE 2014
www.circuitomt.com.br
TRANSPORTE
MT importa motoristas estrangeiros
Falta de mão de obra local está levando transportadoras a buscar motoristas em países vizinhos para trabalhar emMato Grosso
Rafaela Souza
A falta de mão de
obra qualificada na área
de transporte de cargas
tem causado um deficit
de 5 mil profissionais em
Mato Grosso. E isso tem
levado as transportadoras
a optarem pela
contratação de pessoas
com pouca experiência e
até mesmo importar mão
de obra de países latinos.
No Brasil, a falta de
caminhoneiros chega a
140 mil e a tendência é
de esse número
aumentar.
O presidente do
Sindicato dos Motoristas
(STETT/CR), Ledevino
Conceição, relata que há
dois anos já começou em
Mato Grosso o
movimento de
contratação de
estrangeiros,
principalmente dos
países da América do
Prevendo o deficit de
motoristas, algumas
empresas buscaram por
conta própria
profissionalizar pessoas,
porque, apesar do deficit
de 5 mil profissionais na
área, esse número poderia
ser ainda maior, afirma o
diretor executivo da
Associação dos
Transportadores de
Cargas de Mato Grosso
(ATC-MT), Miguel
Antonio Mendes. A
associação é um dos
pontos que incentivam a
profissionalização.
“A nossa maior
dificuldade é em relação a
encontrar pessoas
capacitadas, por isso
fizemos uma parceria
entre uma empresa de
caminhões e um curso de
formação para que
possamos treinar esses
profissionais e não
recorrer a estrangeiros. E
já prevíamos essa falta de
mão de obra há dez anos,
por isso estamos
conseguindo amenizar a
situação”, conta Mendes.
Para o diretor da
associação, se houvesse
maior apoio do poder
público esse processo de
formação se tornaria mais
rápido e eficaz. “A área de
transporte tem atualmente
um dos melhores salários,
principalmente para quem
não tem nível superior, e
com a ajuda do governo
emdisponibilizar
simuladores de direção nos
cursos poderíamos ter
mais pessoas formadas.
Contudo, no ritmo que
está, não descarto a
possibilidade futura de
contratarmos imigrantes”,
destaca Mendes.
Empresas investem
em capacitação
Diferença paga a brasileiros chega a 100%
No dia a dia nas
estradas, há
caminhoneiros que
trabalham com diferença
de salário que oscila entre
R$ 1.8 mil e R$ 5.5 mil.
E o salário está
relacionado diretamente
com a quantidade de
demanda do mercado. Um
dos exemplos que pode
ser dado é o caso de
motoristas que carregam
carga de risco recebem
em média R$ 2 mil,
enquanto os que trabalham
com carga de grãos, em
que há mais falta de mão
de obra, o salário
ultrapassa os R$ 5 mil.
De acordo com a
Pesquisa Anual de
Serviços em 2011, as
empresas de transporte
foram as que pagaram
melhor em 2009, na
média, dentro do setor de
serviços. De acordo com
o presidente da Federação
Interestadual das
Empresas de Transportes
de Cargas (Fenatac) e
empresário do setor José
Hélio Fernandes, há um
grande número de
motoristas contratados
com base nas convenções
trabalhistas e existem
empresas pagando de
forma diferenciada
exatamente para conseguir
contratar e manter o seu
quadro de motoristas.
Mas apesar do salário
ser baixo em algumas
áreas, prevalece a opinião
do fato de a profissão ser
a que remunera melhor
quem tem pouco estudo e
a vontade de trocar de
profissão fica apenas
quando pensam nos riscos
do trânsito.
Em contrapartida,
outros nem cogitam em
trocar de profissão e até
consideram o ofício um
prazer, como o motorista
Antonio Nunes, 55 anos e
30 de profissão. “Eu sou
analfabeto, mas já conheci
o Brasil inteiro. Com o
dinheiro que recebi
comprei casa, carro e
ainda formei dois filhos
em Enfermagem. Eu não
consigo pensar como iria
sustentar a minha família
se não fosse o caminhão,
e a minha paixão é tanta
que já comprei mais um
que é para os meus filhos
me ajudarem, pois eles
também querem seguir
carreira de caminhoneiro
porque não vale a pena ser
empregado hoje em dia”,
diz Nunes.
Entre os motoristas
ainda há divergência sobre
a vinda de estrangeiros
para atuar no Brasil,
principalmente entre os
trabalhadores mais
antigos, mas há quem
aprove a medida, pois o
deficit de motoristas nas
empresas tem deixado
Importação divide opiniões entre caminhoneiros
vários caminhões parados
nas garagens.
No grupo dos que
discordam da medida está
Laudelino da Costa, 70
anos de idade e 50 de
profissão. Para o
motorista, o que está
faltando é valorização da
profissão e mais
treinamento para os
jovens.
“É muito melhor
profissionalizar o
brasileiro e valorizar nossa
população do que trazer
pessoas de fora para
ganhar pouco. Atualmente,
os mais novos só entram
na profissão por causa da
Sul, e que o principal
destino tem sido a área
de frigoríficos.
“Devido à
precariedade das estradas
e falta de qualificação, as
empresas estão com
deficit de funcionários,
problema que está sendo
amenizado com a vinda
de estrangeiros. Ainda
não temos um balanço de
quantos já trabalham no
Estado, mas sabemos que
há argentinos, bolivianos
e colombianos. E esse
mesmo movimento está
sendo realizado também
no sul do Brasil”, diz
Conceição.
No Paraná, desde
fevereiro levas de
colombianos estão sendo
capacitados para
começar a atuar no
transporte rodoviário. E
de acordo com o
Sindicato das Empresas
de Transporte do
Paraná, o interesse de
motoristas estrangeiros
em trabalhar no Brasil é
crescente, tanto que
logo no início do
convênio para trazer
esses trabalhadores
cerca de 200 currículos
chegaram ao sindicato.
Para Ledevino, a
falta de capacitação não é
o único empecilho para a
falta de trabalhadores
nessa área, pois também
a falta de estrutura nas
estradas dificulta muito a
vida desses profissionais.
“As pessoas não
querem trabalhar com
transporte rodoviário
porque as estradas estão
cada vez piores, o que
leva eles a passarem mais
tempo longe de casa, o
que dificulta o
investimento em alguma
formação e poucas
pessoas querem
continuar em uma
profissão sem
crescimento”, diz.
ilusão de viajar, mas não
têm responsabilidade
nenhuma e o resultado são
caminhoneiros usando
cocaína antes de pegar no
volante, como já vi várias
vezes”, diz Costa.
Já para o
caminhoneiro Ivo Frare,
40 anos, a vida na estrada
é arriscada. Por isso, ele
acredita que poucos
querem seguir na carreira,
então a vinda de
estrangeiros é uma boa
opção.
“Em várias empresas
há muitos caminhões
parados, só de falar que é
motorista ‘jogam’ a chave
na nossa mão oferecendo
bons salários, sem nem
termos pedido emprego.
Então a vinda de
estrangeiros é uma saída,
tanto que já vi um haitiano
na estrada e não vi
problema nenhum, pois há
espaço na área”, diz
Frare.
Foto: Renan Marcel
A falta de infraestrutura nas estradas é o principal
motivo do déficit de caminhoneiros brasileiros
O motorista Laudelino Costa acredita que o investimento
em qualificação seria melhor do que trazer estrangeiros
Para o caminhoneiro Ivo Frare, a vinda de caminhoneiros irá retirar
muitos caminhões parados nas garagens de transportadoras
Atualmente ser motorista de caminhões é o que melhor
remunera as pessoas que possuem pouco estudo, diz motorista