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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 15 A 21 DE MAIO DE 2014
ESPECIAL
P
G
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www.circuitomt.com.br
LAR DA CRIANÇA
Atestado detalhado sem necropsia?
Sem necropsia, atestado de óbito aponta surdez como causa da morte de interno do lar mantido pela Secretaria de Estado de Assistência Social
Rafaela Souza
Divergências nas
informações sobre a
morte do menor J.C.O.A.,
9 anos, no Lar da
Criança, instituição
mantida pela Secretaria de
Estado de Trabalhos e
Assistência Social
(Setas), levaram a Polícia
Civil a abrir inquérito para
apurar o caso. As
divergências são
apontadas entre o laudo
médico do Pronto-
Socorro (PS), a certidão
de óbito e depoimentos da
direção da Instituição.
De acordo com o
atestado médico, a
criança deu entrada no PS
à 1h45 do dia 24 de abril,
já em estado de óbito pois
não apresentava sinais
vitais, estava gelada e
com a pele arroxeada.
Além disso, a médica que
diagnosticou o
falecimento da criança
informou que o horário
extado do óbito é
desconhecido e que nem
mesmo a acompanhante
do menor soube informar
quando ele começou a
apresentar evidências de
falecimento. Como a
criança já teria chegado
morta ao PS, o laudo não
apresenta a causa do
óbito. Então o corpo foi
encaminhado para
necropsia, já que a morte
não foi assistida por
nenhuma equipe médica.
Contudo, a certidão
de óbito do menor
reconhecida em cartório e
assinada por um segundo
médico apresenta
informações diferentes do
laudo emitido pelo PS. A
primeira divergência
aparece quando a certidão
aponta o horário da morte
como sendo às 3h15 do
dia 24 de abril, quando
laudo indica que a criança
já chegou morta no PS à
1h45. E mesmo sem ter
realizado a necropsia, o
laudo informa que as
causas da morte são
insuficiência respiratória,
encefalopatia crônica
progressiva, kernicterus
[pequena lesão cerebral],
surdez e refluxo
gastroesofágico.
Entre as entidades
que levantaram a bandeira
em defesa do menor está
a Associação de
Familiares de Vítimas de
Violência (AFVV). De
acordo com o presidente
Heitor Reys, logo que a
criança foi encaminhada
para o hospital, a
associação foi acionada
para ajudar no caso. E no
mesmo dia foi feito o
pedido de necropsia no
corpo do menor ao
Ministério Público
Estadual e a Delegacia
Especializada de Defesa
dos Direitos da Criança e
do Adolescente. Contudo,
o Lar da Criança informou
que o enterro já havia sido
feito, sendo assim
impossível atender ao
pedido. “Nessa questão
houve outro choque de
informações, pois a AFVV
fez o pedido da necropsia
às 13h e de acordo com a
certidão do enterro do
J.C., ele foi enterrado
apenas às 15h. Ou seja,
ainda era possível atender
ao pedido, porém o Lar
estava buscando esconder
as informações, estas que
agora estamos buscando”,
argumenta Heitor Reys.
Para o presidente da
Associação, o fato de os
pais não terem sido
avisados sobre a morte da
criança e nem ter sido
proporcionado um funeral
para o menor torna o caso
ainda mais questionável.
Com 125 meninos
e meninas, e 89
cuidadores, o Lar
enfrenta excesso de
crianças no local que
tem capacidade para
atender apenas a
metade. E de acordo
com cuidadores, está
cada vez mais difícil
oferecer atendimento
diferenciado, pois cada
pessoa fica responsável
por até 30 crianças.
Já a denúncia de
falta de alguns
Polícia Civil já começou
a ouvir testemunhas
O responsável pela
investigação é o delegado
Eduardo Botelho, que
entrou de férias e deve
retornar apenas no dia
20. Contudo, até a última
terça-feira (13) os
funcionários do Lar já
deviam ser ouvidos por
uma equipe designada
pelo delegado.
Enquanto isso, o
Ministério Público
Estadual (MPE) aguarda a
conclusão do inquérito
para tomar qualquer
atitude, segundo a
assessoria de imprensa.
E, dependendo do
resultado da investigação,
o promotor José Antônio
Borges irá encaminhar
denúncia para o Tribunal
de Justiça (TJ).
Superlotação
prejudica internos
alimentos, que são
essenciais para o
desenvolvimento dos
menores, também foi
realizada.
“Não falta comida
dentro do Lar, mas
algumas frutas e
verduras estão
deixando de vir, o que
torna a alimentação
pobre em vitaminas,
prejudicando assim a
nutrição das
crianças”, diz uma
cuidadora.
Morte ganha repercussão nas redes sociais
A publicação do
laudo do Pronto-
Socorro no Facebook
pelo ator André
D’Lucca, que vem
fazendo uma verdadeira
campanha em defesa
dos internos do Lar da
Criança – após denúncia
feita com exclusividade
pelo
Circuito Mato
Grosso
em relação à
péssima est rutura f ísica
e baixo número de
pessoal , além de
suspeita de
irregularidades em
dispensas de licitações
– provocou grande
repercussão.
“Compartilhem
urgente. Esses são os
documentos de ent rada
do menor J . no pronto
socorro. Leiam que o
menor chegou mor to.
Ele morreu por
negligência dentro do
lar e esse documento
prova isso”, escreveu o
ator, quest ionando a
divergência de
informações publicadas
na imprensa e atestada
no documento.
A postagem já tem
pelo menos 275
compartilhamentos e
dezenas de comentários
de pessoas se dizendo
indignadas com o que
está sendo t ratado como
negligência do Lar da
Criança, instituição já
denunciada pelo
Circuito Mato Grosso
por não dar as mínimas
condições aos internos
e manter baixo número
de funcionários para
atendê-los com
dignidade.
Heitor Reys, presidente
da Associação de
Familiares Vítimas de
Violência, quer respostas
para morte de menor
Circuito Mato Grosso
há mais de um ano vem denunciando
problemas estruturais do Lar da Criança
EXCLUSIVO - O laudo médico do Pronto-Socorro de Cuiabá não definiu a causa do óbito alegando que a criança já chegou sem vida e pede que
corpo passe por necropsia. No entanto a Certidão de Óbito foi emitida sem laudo do Instituto Médico Legal
Lar da Criança também já foi denunciado por não fornecer roupas
e nem dar condições de trabalhos aos profissionais que cuidam dos internos