CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 29 DE NOVEMBRO A 5 DE DEZEMBRO DE 2012
CULTURA
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Enquanto isso, artistas reclamam dos parcos recursos e do não pagamento de contratos.
Por: Mayla Miranda. Fotos: Pedro Alves
CULTURA
ONGs captam recursos milionários
Enquanto alguns
setores culturais reclamam
dos atrasos no repasse de
recursos para projetos
devidamente aprovados
no Conselho Estadual de
Cultura, algumas
Organizações Não
Governamentais (ONGs)
vem sendo contempladas
com contratos milionários.
Três delas, que inclusive
possuem como
representantes um único
grupo, por exemplo,
movimentaram nestes
últimos dois anos cerca de
5
milhões de recursos
públicos destinados aos
mais variados tipos de
ações culturais. São elas:
Associação das Artes
Comunicação e Cultura
de Mato Grosso (Acenica),
Associação dos Produtores
Culturais de Mato Grosso
e Associação Casa de
Guimarães. Juntas, estas
entidades, de acordo com
o sistema Fiplan – Sistema
Integrado de
Planejamento,
Contabilidade e Finanças
do Governo do Estado,
teriam recebido R$4,7
milhões entre 2011 e
2012
das secretarias
estaduais de Cultura e
Turismo.
Pesquisando no
Diário Oficial e no sistema
Fiplan, o Circuito Mato
Grosso conseguiu apurar
que somente no dia 28 de
junho de 2012 foram
publicamos dois extratos
de contratos da Secretaria
Artistas abandonados
A Casa de
Guimarães que além
de ter movimentado
R$3,3 milhões de
recursos originários das
secretarias estaduais de
Cultura e de Turismo,
ainda possui contratos
com a prefeitura de
Chapada dos
Guimarães, onde está
sediada, de acordo
com o comprovante de
inscrição e situação
cadastral da Receita
Federal. A reportagem
esteve no endereço
(
Rua Santo Antônio, s/
n) e verificou que a
ALGUNS PROJETOS CONTEMPLADOS CASA DE GUIMARÃES
DATA ....................................................................................... VALOR
Livro Cultura Popular ........................................................... 140.000,00
Fotografia Atrativos Turísticos de Cuiabá ........................ 167.450,00
Livro Sabores de Cuiabá .................................................... 238.650,00
Projeto Conheça MT ............................................................ 200.000,00
Semana Farroupilha ............................................................ 166.400,00
Projeto Ajustando o Foco .................................................... 600.000,00
Festival de Inverno 2012 .................................................... 1.200.000,00
Casa de Guimarães
sede da ONG fica na
Sala da Memória de
Chapada.
O local que está
bastante deteriorado
pelo tempo e
aparentemente não
apresenta as mínimas
condições de abrigar
uma instituição de
gerenciamento de
valores tão relevantes,
já que não possui
sequer um aparelho
telefônico ou uma
mesa para
atendimento. Além
disso, a sala de
exposição de peças
históricas parece estar
abandonada, não fosse
pela presença de uma
senhora no local, que
realiza o atendimento
aos turistas.
Questionada pela
reportagem se no local
funcionava a Associação
Casa dos Guimarães,
ela respondeu com
simplicidade: “diz que
é”.
Ela ainda disse que
a entidade não possui
funcionários, apenas
membros oficiais, mas
não quis revelar quem
são eles.
Não é de hoje que a
imprensa divulga
reivindicações e desabafos
de artistas regionais
revoltados com o não
pagamento dos recursos
garantidos em contratos
para projetos aprovados
pelo Conselho Estadual de
Cultura. De acordo com o
ator André D’Lucca, vários
profissionais da área que
realizaram cursos para o
governo do estado, inclusive
no interior estão sem receber
há mais de oito meses.
Tem colegas meus que
vivem disso e já se
endividaram por conta de
assinar contrato com o
governo e ter prazo para a
realização dos projetos ai se
endivida para cumprir os
prazos e depois os repasses
não acontecem. O governo
alega que está quebrado,
que não há verbas para isso
mais todos os dias temos
notícias de contratos
grandiosos sendo assinada,
a classe tem que ficar
mendigando para receber
por um serviço que já
prestou para o governo isso
é inadmissível para qualquer
profissional”, desabafou
D’Lucca.
Para ele, os repasses
altíssimos deveriam ser
auditados com mais afinco,
já que em uma boa
montagem de um espetáculo
são investidos cerca de 5 mil
reias. “Quando eu quero
montar um espetáculo na
cidade tenho que procurar a
iniciativa privada porque
quando busco o governo
não tenho respostas. Para
conseguir um recurso mínimo
é uma coisa muito difícil.
Isso, sem falar que muitas
vezes eles aprovam o
projeto, assinam e depois
não realizam os pagamentos
nos deixando em uma
situação terrível”. O ator
também movimentou a rede
social Facebook realizando
declarações diretas ao
governador Silval Barbosa.
Ele, por sorte, foi pago um
dia depois de ser
entrevistado pelo Circuito
Mato Grosso.
Para a diretora teatral
Maira Jeannyse, o principal
problema dos artistas não é
só a falta de pagamento,
mas a falta de
profissionalismo com que as
autoridades tratam a classe.
Outro fator destacado pela
diretora são os altos valores
investidos em um único
evento. “Aqui, por não ser
um eixo cultural, os valores
liberados para alguns
contratos são muitos altos.
Com estes valores seria
possível fazer muito mais
projetos”.
Estadual de Cultura com a
Acenica (R$220 mil para
Gravação do DVD
Pantanal de MT e
R$237.884,00 para a
Caravana Cantando por
MT) e dois com a
Associação dos Produtores
Culturais de Mato Grosso
(
R$330 mil para a 21ª
Festa de São Cristóvão e
R$560 mil para o 1º
Encontro do Agronegócio)
e que totalizam
R$1.287.884,06. O
detalhe é que a Acenica é
assinada por Carlos
Eduardo dos Santos
Espíndola e a Associação
dos Produtores por sua
esposa, Viviene Lozi
Rodrigues.
A terceira entidade, a
Associação Casa de
Guimarães, que tem como
CON T R OV É S I A
Edua r do
Esp i ndol a, apesar
de ter suas três
en t i dade s
bene f i c i adas com
recursos públicos
milionários, lidera
uma rede de
acusações ,
cobranças e
protestos contra a
Sec re tar i a
Estadual de
Cultura. Segundo
ele, a secretaria
estaria desviando
recursos do Fundo
Estadual de
Fomento a
Cultura (fonte
104).
Ele ainda
entrou com um
processo no
Ministério Público
Es tadua l para
formalizar a
denúncia. De
acordo com o
processo, dos 185
projetos previstos
para este ano,
apenas 66 foram
contratados e 22
pago s ,
representando um
débito superior a
R$ 5 milhões.
diretor financeiro o mesmo
Carlos Eduardo dos
Santos Espíndola, sozinha
já foi contemplada com
inúmeros contratos nestes
últimos dois anos e que
somam R$3.381.630,50
já liquidados, segundo o
Fliplan. A entidade é a
gestora do Museu de Arte
Sacra, cuja diretora é a
própria Viviene Lozi
Rodrigues. Os
representantes citados das
instituições acima foram
procurados pela
reportagem, para
esclarecimentos sobre os
valores, como estrutura da
empresa e aplicação dos
recursos. Viviane Lozi
informou que não poderia
responder pela Casa de
Guimarães e reclamou
dos parcos recursos que
estariam chegando ao
Museu de Arte Sacra.
Eduardo Espindola
confirmou, pelo telefone,
que é responsável pelas
três ONGs, solicitou do
Circuito Mato Grosso o
envio dos questionamentos
por e-mail, mas não
respondeu a mensagem
até o fechamento desta
edição. Já o então ex-
secretário de Cultura João
Malheiros, eleito vice-
prefeito de Cuiabá, e que
assinou os contratos com
as três entidades, foi
contatado através de sua
assessoria de imprensa,
mas também não deu
retorno.
Outra situação
bastante conflitante são
repasses realizados pela
Secretaria de Cultura e
turismo para a realização
de encontros do
Agronegócio e da
Indústria. Somente para o
1
º Encontro do
Agronegócio a secretaria
disponibilizou através do
convenio 062/2012
vigência 01/06 a 30/08 o
valor de 500 mil reias.
Museu de Arte Sacra é gerido
pela Casa de Guimarães
Ator André D’Lucca critica demora dos repasses do
governo e má distribuição dos recursos
Sede da Casa de Guimarães, que arrebatou contratos milionários, não aparenta estrutura
Casa de Guimarães,na verdade fica dentro da Sala da Memória, em Chapada
Contratos foram assinados na gestão de João Malheiros
enquanto secretário de Cultura