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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 25 A 31 DE OUTUBRO DE 2012
CAPA
P
G
8
Quem se omite é irresponsável”
Quase 20% dos eleitores mato-grossenses viraram as costas para as urnas nas eleições municipais 2012
Por Mayla Miranda e Darwin Júnior. Foto: Pedro Alves
ABSTENÇÃO
Apesar de o voto ser
um direito de todo
cidadão que vive num
regime democrático e
uma oportunidade de
escolher o candidato que
assumirá o comando da
prefeitura do município
onde mora, milhares
ainda optam por ficar
omissos diante de um
processo eleitoral. E
Mato Grosso foi um dos
campeões em
abstenções na eleição de
7
de outubro passado.
Dos 2.170.993 eleitores
aptos a votar, 394.486
(18,17%)
viraram as
costas para o pleito. “O
eleitor ausente, omisso e
irresponsável não ajuda
em nada, só piora a
situação”. É desta forma,
contundente, que o
presidente do Tribunal
Regional Eleitoral (TRE-
MT), desembargador Rui
Ramos, alerta a
população para a
importância do voto.
Para ele, o alto
número de abstenções
pode estar relacionado à
descrença da população
em uma política limpa e
de qualidade que pode
acabar se perpetuando
caso o eleitor não tome
para si a
responsabilidade do
voto consciente, exigindo
do candidato o
cumprimento das
propostas realizadas
durante a campanha e
analisando com muita
cautela a conduta e o
plano de governo de
cada um.
Em relação às
recentes pesquisas
eleitorais divulgadas
pelos veículos de
imprensa da capital com
resultados bastante
discrepantes entre os
principais candidatos, o
desembargador pediu
cautela ao eleitor na
hora de analisar e de se
deixar influenciar por
fatores externos que não
sejam de fato relevantes
para que se saibam as
propostas e condições
de desempenho do
político.
O eleitor tem que
se basear em dois
aspectos principais na
hora de escolher o seu
representante: primeiro,
se a pessoa tem caráter
suficiente para exercer o
cargo público ao qual se
dispõe e segundo, se
A segurança no
segundo turno será
mais rigorosa por
conta das inúmeras
denúncias de compra
de votos e boca de
urna registradas
durante a eleição de
7
de outubro, além
da violação da Lei
Cidade Limpa e
principalmente pelo
recente escândalo dos
títulos e documentos
de identidade
(
possivelmente falsos)
encontrados em
Várzea Grande.
Para garantir a
segurança neste dia
28,
o efetivo da
Polícia Militar antes
deslocado para o
Mais rigor contra crimes eleitorais
interior do estado
trabalhará integralmente
na capital que também
contará com a forte
atuação do Corpo de
Bombeiros, garantindo
especial atenção aos
locais de votação. O
objetivo é auxiliar as
pessoas idosas e
portadores de
necessidades especiais no
momento de votar.
A exemplo do que
ocorreu no primeiro turno,
a pedido da Justiça
Eleitoral, a Prefeitura vai
disponibilizar o transporte
especial BUSCAR para
conduzir os eleitores
cadeirantes. Para auxiliar
estes e outros eleitores
com necessidades
especiais, serão
recrutados soldados
bombeiros do município
de Várzea Grande e do
Comando Geral. Serão
80
soldados do Corpo de
Bombeiros, 20 a mais do
que o efetivo utilizado no
primeiro turno.
Uma novidade na
segurança do segundo
turno é a atuação de
peritos que realizarão
análises em documentos
para a detecção de
documentações
falsificados ou irregulares.
Os peritos serão
distribuídos por zonas
eleitorais e deslocados
entre elas caso haja
necessidade. O
desembargador pediu à
população que tenha
um pouco mais de
paciência na hora de
votar, já que o
documento apresentado
pelo eleitor na hora da
votação será analisado
com um pouco mais de
cautela. Outra inovação
é a participação do
Ministério Público
Eleitoral no Gabinete de
Gestão Integrada. A
presença de promotores
eleitorais vai agilizar
ainda mais as
providências adotadas
pelo Gabinete de
Gestão Integrada, em
especial nas medidas
imediatas que precisam
da participação do
Ministério Público.
possui o perfil técnico
necessário para o cargo
que pleiteia”.
O fato de Mato
Grosso ser um dos
líderes nacionais de
abstenção de voto tem
intrigado especialistas no
assunto. Para o analista
político Lourembergue
Alves, a falta de sintonia
entre os partidos e o
eleitorado na região
explica melhor o que
ocorreu nas eleições de
7
de outubro, quando
quase 400 mil pessoas
deixaram de ir às urnas,
em um fato com cara de
protesto.
O índice de
abstenção em todo o
país é moderado. Muitos
deixam de votar por
inúmeros fatores, e aí se
incluem a falta de
formação política da
sociedade e o manifesto
contra o
descontentamento. Mas,
em Mato Grosso, esses
números extrapolam. Na
minha visão, os partidos
não estão atuando bem
no sentido de atrair os
eleitores às urnas, como
ocorre em outros
estados. Está faltando
essa ligação e um maior
envolvimento com o
povo”, declara
Lourembergue
acrescentando que
parte dos partidos
políticos está cada vez
mais distante da
população, o que tem
influenciado a
abstenção. Esses
partidos deveriam
exercer melhor o papel
de intermediário entre o
governo e a sociedade”.
Para ele, um número
expressivo de eleitores
deixa de ir às urnas
como uma forma de se
manifestar contra
políticos pouco atuantes
ou corruptos. “Essa não
é a melhor forma de
agir. É necessário que a
população tenha
consciência da
importância do voto.
Virar as costas é permitir
que outros decidam seu
destino”, alerta.
Embora Mato
Grosso seja um estado
de grandes dimensões,
distâncias não são
obstáculos para afastar
o eleitor da urna, de
acordo com
Lourembergue, citando
que o Amazonas, como
maior estado brasileiro,
tem problemas sérios de
logística e boa parte da
população tem que se
deslocar de canoa para
poder votar.
Naturalmente, o
Amazonas deveria ser o
campeão das abstenções
e não é”, pontua.
CRESCE ONDA DE
DE SCR ÉD I TO
Para outro analista
político, Alfredo da Mota
Menezes, o descrédito e
a desconfiança para
com representantes do
povo têm se ampliado
em todo o país. “Em
Mato Grosso, essa
desconfiança deve estar
se acentuando, já que
um número cada vez
maior de eleitores está
deixando de votar. A
insatisfação com
políticos está levando a
esse quadro”. Ele
observa que alguns
municípios como São
José do Xingu e
Confresa, que
registraram número
muito aquém do
esperado de eleitores
nas urnas, contribuíram
para a elevação do
índice de abstenção de
Mato Grosso.