CIRCUITOMATOGROSSO
ECONOMIA
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CUIABÁ, 25 A 31 DE OUTUBRO DE 2012
AGROTÓXICOS
Proibição gera discussão e polêmica
Produtores reclamam da pouca oferta de agrotóxicos alternativos no mercado e lamentam perdas.
Por Andhressa Sawaris Barboza e Sandra Carvalho. Foto Divulgação
A liberação ou a
proibição de
agroquímicos que
contenham os ingredientes
ativos Imidacloprido,
Tiametoxam, Clotianidina
e Fipronil na pulverização
aérea de lavouras tem
classificações distintas:
para pesquisadores, a
liberação é “um
retrocesso”; para
produtores, a proibição “é
irresponsável”.
“
Um retrocesso”. Esta
é a definição do
pesquisador do Instituto de
Saúde Coletiva da
Universidade Federal do
Mato Grosso, médico
Wanderlei Pignati, sobre a
suspensão da decisão do
Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis
(
Ibama) de proibir este
tipo de técnica para a
safra 2012/2013. A
medida foi tomada com o
aval da Casa Civil e da
Secretaria de
Defesa
Agropecuária do
Ministério da
Agricultura
,
divulgada
no dia 3/10 no Diário
Oficial da União (DOU).
Assim, o uso desses
agroquímicos está
liberado para a safra
2012/2013.
Já o presidente
d a
Associação
Brasileira dos
Produtores de Soja
Segundo a
Associação Brasileira de
Saúde Coletiva (Abrasco),
são jogados 852,8
milhões de litros de
agrotóxicos nas lavouras
do país. Cerca de 20%
são utilizados em Mato
Grosso, o que representa
130
milhões de litros. E
aonde vão parar essas
substâncias? A resposta do
pesquisador Pignati é
simples: “No ar, nas
chuvas, nos rios, na
produção agrícola e no
organismo humano”.
O volume de
agrotóxicos foi consumido
por vários tipos de
culturas, tendo a soja
como líder, com 40% dos
herbicidas, inseticidas,
fungicidas e dessecantes.
Na sequência vêm o milho
com 15%, a cana e o
algodão com 10%, os
cítricos com 7%, o café
(3%),
o trigo (3%), o arroz
(3%),
o feijão
(2%),
a pastagem
(1%),
a batata
(1%),
o tomate
(1%),
a maçã
(0,5%),
a banana
(0,2%)
e as
demais culturas
(3,3%).
Para os
agricultores, o uso
de agroquímicos
seria fundamental
para a
produtividade, o
que é
questionado pelo
pesquisador.
Pignati afirma
que os produtores
acabaram reféns
de grandes
empresas que
fabricam, além
de sementes, os
MT usa 130 milhões de litros
de agrotóxicos por ano
insumos que eles
precisam: “Alguns são
vítimas, mas os grandes se
integraram bem,
chegando a fazer
parcerias bem rentáveis.
Todavia, é possível
produzir sem agrotóxicos”,
afirma citando como
exemplo a Organics
Brasil, maior produtora de
cana-de-açúcar do país,
que representa 66,68%
das exportações
brasileiras de orgânicos.
Projeção é de perdas
de até R$ 26,7 bilhões
As perdas
n a
produção de
soja
nesta safra
poderiam atingir R$ 5,92
bilhões se fosse mantido o
veto total, como mostram
cálculos da Aprosoja
Brasil apresentados ao
governo para tentar
reverter a proibição. As
projeções até a safra
2019/2020
são de perdas
da ordem de R$ 26,7
bilhões.
Mesmo com a
liberação parcial da
pulverização aérea pelo
governo, Glauber Silveira
prevê problemas para o
controle de pragas,
principalmente percevejo,
por causa da falta
d e
agrotóxicos
alternativos
a o s
proibidos e da dificuldade
para realizar o manejo
com o uso de tratores.
Segundo ele, dependendo
das condições climáticas,
são feitas até quatro
pulverizações nas
lavouras, podendo se
prolongar até fevereiro,
quando se encerra a
colheita em Mato Grosso,
onde haverá apenas
aplicação entre 20 de
novembro próximo e 1º
de janeiro de 2013.
(
Aprosoja Brasil)
,
Glauber Silveira, classifica
como “irresponsável” a
restrição da
pulverização
aérea das
lavouras
com
agrotóxicos
que
contenham os tais
princípios ativos. Ao
restringir a pulverização, o
Ibama levou em conta o
princípio de precaução e
“
os efeitos adversos a
abelhas associados a
agrotóxicos, observados
em estudos científicos em
diversas partes do mundo.
Para a safra 2013/
2014,
os produtores
devem se adequar às
regras. Eles alegaram que
a proibição traria prejuízos
à safra, uma vez que
foram fechados “pacotes”
com multinacionais. Desde
o início do ano, os
produtores já estavam
negociando a venda da
safra 2012/2013,
chegando a comprometer
mais de 80% da produção
de soja, por exemplo. A
situação deu segurança
aos produtores que
acabam de quitar suas
dívidas. Acontece que as
mesmas empresas que
compram a produção
vendem insumos. O
contrato fechado com
essas multinacionais foi
“
toma lá, dá cá”: os
produtores venderam a
safra e tiveram de
comprar os insumos.
De acordo com
técnicos e pesquisadores
da área, além dos riscos à
saúde humana, os
produtos são nocivos às
abelhas, o que pode
gerar um grave dano
ambiental, uma vez que
elas são responsáveis pela
polinização de diversas
espécies de plantas.
Quem teria intermediado
as negociações que
resultaram na suspensão é
o senador Cidinho Santos
(
PR-MT) que organizou um
encontro de entidades
com a ministra da Casa
Civil, Gleise Hoffman.
O pesquisador
Wanderlei Pignati diz que
se trata de ingredientes
ativos com elevado grau
de toxicidade aguda
comprovada. “Eles
causam problemas
neurológicos,
reprodutivos, de
desregulação hormonal e
até câncer”, afirma. As
pesquisas de Pignati ainda
trazem a informação de
que muitos deles já foram
proibidos em vários locais,
como União Europeia e
Estados Unidos. O
professor acredita que “há
pressões do setor agrícola
para manter esses três
produtos no Brasil, mesmo
após serem retirados de
forma voluntária em outros
países”.
O representante
d a
Frente Parlamentar
da Agropecuária
na
Câmara, deputado
federal Homero Pereira
(
PSD-MT), defende que a
proibição da pulverização
aérea prejudica a
competitividade de
algumas lavouras. Para
ele, a situação evidencia
uma disputa entre
ministérios.
Na tribuna, chegou a
afirmar que o Ministério
do Meio Ambiente busca
pôr obstáculos à
produção em grande
escala. Em nota, a
Federação da Agricultura
e Pecuária de Mato
Grosso (Famato) pontuou
que os produtores
precisavam de mais tempo
para se adequar às novas
regras e procurar produtos
alternativos. Além disso,
esperam que a indústria
faça estudos
comprovando que a
técnica não é nociva às
abelhas. A pulverização é
usada em propriedades
de grande porte em Mato
Grosso. Nesse sentido, a
Associação dos Produtores
de Soja e Milho em Mato
Grosso (Aprosoja)
esclarece que os
produtores não terão
prejuízo este ano, mas
pretendem mostrar, por
meio de pesquisas, que
não existem danos aos
insetos.
Pulverização aérea traria prejuízos a insetos como as
abelhas, e deve voltar a ser proibida em 2013
Wanderley Pignati, médico e
pesquisador do Instituto de
Saúde Coletiva da UFMT,
acha liberação um retrocesso
Glauber Silveira, presidente
da Aprosoja Brasil,
considera a proibição uma
irresponsabilidade