“Os candidatos deveriam
mostrar feitos e não
promessas futuras”
CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 2 A 8 DE AGOSTO DE 2012
ENTREVISTA
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www.circuitomt.com.br
PROCURADOR MAURO
Mauro alega que os demais postulantes ao Palácio Alencastro já ocuparam
cargos públicos e ainda assim não têm realizações para apresentar à
população.
Por Camila Ribeiro. Foto: Mary Juruna.
Candidato de um
partido de esquerda, o
procurador da Fazenda,
Mauro César Lara de Barros
(PSOL) alega estar confiante
em sua chegada ao segundo
turno e na vitória no pleito
eleitoral deste ano. Mauro faz
duras críticas à atual gestão
municipal e alega que Chico
Galindo (PTB) não concorreu
à reeleição pela certeza de
que sua gestão foi desastrosa
para Capital. É contrário a
concessão da Sanecap e à
entrega das unidades de
saúde as OSS, sobre a Copa
do Mundo, ele assegura que
sua gestão irá fiscalizar a
aplicação dos recursos, para
que o legado do evento não
seja apenas obras mau feitas
e dinheiro desviado. Confira
entrevista na íntegra:
Circuito Mato
Grosso: Na última
eleição para o senado
(em 2010), o senhor
obteve 98 mil votos em
todo Estado, sendo 50
mil na Capital. Qual a
expectativa para eleição
deste ano?
Mauro Lara:
A análise
de conjuntura do partido é de
que esta eleição será
decidida em segundo turno e
nossa expectativa é de que
estejamos neste segundo
turno. Acreditamos que temos
chances reais de vencer as
eleições.
CMT: Mesmo o
senhor já tendo dito que
não confia em pesquisas
de opinião, onde
encontra motivação para
concorrer, já que
aparece em último lugar
nas pesquisas?
ML:
Na verdade, a
gente tem uma motivação
passada. Porque se você
procurar nos informes da
eleição de 2010, nenhuma
pesquisa indicou que
teríamos essa votação
expressiva aqui em Cuiabá. A
gente tira essa motivação do
contato com a população, e
dessa certeza igual tivemos na
votação passada, onde
obtivemos um número
superior de votos com
relação àquilo que era
apontado nas pesquisas.
Sabemos que a pesquisa é
utilizada pelo adversário com
instrumento de marketing, o
que acaba tirando votos que
de repente determinado
candidato poderia ter. Temos
eleitorado que nos
acompanha, que acredita
nas nossas ideias e é daí que
tiramos nossa motivação
para continuar nessa luta.
CMT: O senhor
concorre em uma chapa
pura. Acredita que sem o
apoio de demais siglas é
possível vencer esta
eleição?
ML:
Acredito
perfeitamente que é possível e
justamente por isso, nem
buscamos as coligações, pois
entendemos que não há
afinidade ideológica ou
programática com elas. Não
é que não conseguimos nos
conciliar com essas pessoas,
o fato é que nós nem
buscamos porque não temos
afinidades com essas demais
candidaturas.
CMT: O senhor diz
que não existe ‘afinidade
ideológica’. Qual a
ideologia que o PSOL
defende?
ML:
O PSOL é um
partido de esquerda que
busca colocar o Governo à
serviço dos interesses do povo.
O partido tem nacionalmente
como ‘mote’, o combate à
corrupção, assentado em
alguns pontos que vão
exatamente contra o que os
demais partidos fazem.
CMT: Que pontos
seriam esses?
ML:
Por exemplo,
primeiro ponto do combate à
corrupção: o financiamento
das campanhas. O PSOL tem
financiado as campanhas
basicamente com a
contribuição de militantes,
filiados, simpatizantes. Não
estamos aqui recebendo
contribuição de bancos, de
grandes empresários e
empreiteiras, pois entendemos
que isso é o início da
corrupção. Porque os grandes
financiadores das campanhas
já esperam colher benefícios
do Governo lá na frente,
quando a pessoa se estiver
eleito. Outro ponto é a questão
do loteamento dos cargos, que
a gente acompanhou aí na
formação dessas coligações,
onde as pessoas estavam
loteando o poder público e
esse não é nosso modo de
fazer política. Outro ponto
importante é o fortalecimento
do controle interno através de
uma auditoria.. Sem controle
interno, não se combate a
corrupção, é necessário ter
uma carreira de auditores,
controladores efetivos, para
evitar a corrupção. E Isso é
uma coisa que nossos
adversários não defendem. Por
fim, o relacionamento com a
Câmara dos Vereadores. Hoje
o que a gente vê é que existe o
poder executivo, o legislativo,
que acabam vivendo um
consórcio: o legislativo não
fiscaliza, o executivo não
executa, porque está todo
mundo contemplado com
algum cargo. Os vereadores
estão ali para aprovar as
matérias de interesse do
prefeito e por fim as coisas não
funcionam. No nosso governo,
temos como proposta que isso
não aconteça, que ali exista
uma relação republicana entre
o poder Executivo e o
Legislativo, onde o legislativo
fique na função de legislar e
fiscalizar o executivo.
CMT: O senhor fala
muito dessas alianças
que foram traçadas
visando apenas à
campanha eleitoral. Os
debates serão uma
oportunidade de falar
sobre isso e enfraquecer
os adversários?
ML:
Com certeza,
acreditamos que as
entrevistas, os debates e o
horário eleitoral vai ser um
momento de colocar isso
para população e apresentar
o tipo de campanha que
estamos fazendo. Uma
campanha com pouca
estrutura, não é milionária,
mas é decente. Queremos
fazer as coisas para de fato
melhorar a vida das pessoas
e não apenas por interesse
próprio, vaidades ou mesmo
para atender os interesses das
pessoas que estão nesse
grupo coligado.
CMT: A gente
percebe que a maioria
dos candidatos está
saindo nessa caminhada
às ruas, visitando as
feiras, num contato mais
próximo e diário com a
população. Não
percebemos que o
senhor adota essa
mesma postura, como
pretende conquistar os
votos?
ML:
Nós estamos
iniciando esse trabalho, sem
tanto destaque quanto os
candidatos milionários, mas
também estamos
participando de reuniões,
indo aos bairros e tocando
nossa campanha sim. Sem
alarde é verdade, mas
estamos com a campanha
nas ruas.
CMT: Caso eleito, o
senhor já disse que tem a
saúde como uma das
prioridades. Quais as
ações precisam ser feitas
nessa área?
ML:
Acreditamos que o
principal hoje para Cuiabá é
a construção de um novo
Hospital, com 500 leitos,
sendo 100 vagas de UTI. Isso
ficará a um custo
aproximado de R$ 250
milhões. Durante nossa
carreira política, nós somos
sempre confrontados por um
discurso no sentido de “ah de
onde vai vir esse recurso?”. O
recurso existe. O orçamento
de Cuiabá hoje é de R$ 1,4
bilhões, quer dizer, recurso
existe, depende da maneira
como você vai priorizar as
coisas. Se existe vontade de
fazer, você consegue alocar
os recursos para realizar uma
obra desse porte. Outra
questão importante é a
criação de uma carreira de
médicos e enfermeiros de
dedicação exclusiva. Hoje
existe um conflito de médico,
que ao mesmo tempo,
trabalha no SUS e na
iniciativa privada e que
acaba priorizando seu
atendimento na rede privada,
que é mais lucrativo e o
trabalho realizado no SUS é
deixado para trás. Dentro da
saúde pública o caminho é
fazer um grande concurso
público, para colocar nessas
vagas que hoje são
ocupadas por prestadores de
serviço, pessoas que de fato
sejam efetivadas e que façam
parte de uma burocracia
municipal e que não fiquem
sujeitas a manobras.
CMT: Voltando na
questão da saúde, a
posição do senhor é
contrária à entrega das
unidades as OSS? Qual
a solução defendida
pelo senhor?
ML:
Entregar para
iniciativa privada é
uma posição
neoliberal, uma
posição que o
PSOL é
nacionalmente
contra. O serviço
público do lixo e do
transporte coletivo
aqui na Capital é
privatizado há
décadas e nem por isso
é um serviço de
qualidade. Então, a
privatização não é o
caminho. O correto é fazer
um trabalho com seriedade e
honestidade para colocar
esse serviço público a favor
do povo.
CMT: Além da
saúde, que outra área
deve ser prioridade do
novo prefeito da
Capital?
ML:
Acho que o
transporte público.
Independente do VLT – que
vai ser importante -, não
podemos admitir que em
pleno século XXI as pessoas
sejam transportadas como
gado. Em 1995 pegava
ônibus para ir par faculdade,
se passaram quase 20 anos
e tudo continua a mesma
coisa. Ou seja, uma
tremenda incompetência dos
sucessivos gestores. O
transporte parou no tempo e
não podemos admitir isso. E
acreditamos que a solução
seja a revisão e fiscalização
de termos contratoados hoje
vigente.
CMT: Na questão da
CAB, o senhor afirmou
que caso eleito vai
buscar reverter esse
processo e buscar
explicações sobre a
forma como aconteceu
essa concessão. O
senhor acredita que
possa ter havido alguma
‘maracutaia’?
ML:
Na verdade, o
processo é confuso, foi feito
às escondidas e a gente
acredita que existem sérios
indícios de que esse processo
foi levado a cabo com a
lesão do interesse público. A
única diferença que o
cidadão cuiabano está
sentindo entre o trabalho que
a Sanecap desenvolvia e a
CAB está desenvolvendo
hoje, é que as tarifas
aumentaram. A gente sabe
que a concessão da Sanecap
houve um propositado
sucateamento, no sentido de
‘vamos piorar o trabalho,
para que possamos ter
argumentos para privatizar’.
Não é a primeira vez que isso
acontece no Brasil, é sempre
a mesma tática, primeiro
sucateia o serviço, depois usa
a desculpa que o único
caminho é privatizar.
Sabemos que o processo foi
lesivo ao patrimônio público
e enquanto prefeito vamos
buscar à reestatização da
Sanecap.
CMT: Falando da
gestão do prefeito Chico
Galindo, qual a sua
aval iação?
ML:
Acredito que a
avaliação se resume aquilo
que ouvimos da
população, que está
descrente com a gestão.
Os serviços públicos estão
com qualidade baixa e o
maior indício de que a
administração não é bem
avaliada é que o prefeito no
exercício do mandato teria
possibilidade de ser
candidato à reeleição não foi
porque sabe que a
população não aprova a
atual gestão e que ela é
desastrosa para Cuiabá.
CMT: Qual a aposta
do senhor e do partido
para vencer essas
eleições?
ML:
A gente aposta na
força dos militantes e
acreditamos também que
vamos ainda conseguir falar
muito com a população pelo
rádio, pela TV, nas ruas. Os
candidatos que aí estão
deveriam estar mostrando seu
currículo de realização, mas
na verdade estão mostrando
promessas para o futuro,
quando na verdade já
ocuparam cargos públicos e
não conseguem ao menos
mostrar realizações. Vamos
colocar nossas ideias para a
população e estamos
torcendo para que elas
entendam e apostem nessa
mudança. Porque esses
outros que aí estão são
apenas “mais do mesmo”.
CMT: O senhor
nunca ocupou cargo
público, como acredita
que está preparado para
administrar a Capital?
ML:
Ocupo cargo
público porque sou
procurador concursado, mas
nunca ocupei nenhum cargo
político eletivo. Sou formado
em direito pela UFMT, fui
gestor governamental do
Estado aprovado em
concurso, fui Procurador
Federal em 2003, também
aprovado em concurso
público, sou procurador da
Fazenda Nacional desde
2003. No cargo que ocupo,
dentro das especificidades,
também faço a
administração pública. Tudo
isso acho que nos referenda
a participar da eleição e dizer
que estamos preparados. O
cargo de prefeito não é
apenas de pessoas ricas,
milionárias, acredito que o
cidadão comum, o servidor
público como eu está
preparado para gerenciar
uma cidade como a nossa.