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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 2 A 8 DE AGOSTO DE 2012
CULTURA EM CIRCUITO
PG 5
www.circuitomt.com.br
O LIVRO NEGRO DE THOMAS KYD
Rosemar Coenga é
doutor em Teoria Literária e
apaixonado pela literatura de
Monteiro Lobato
cultura@circuitomt.com.br
ALA JOVEM
Por Rosemar Coenga
CADEIRA DE BALANÇO
Por Carlinhos Alves Corrêa
Carlinhos é jornalista
e colunista social
cultura@circuitomt.com.br
GIL FAÇANHA
Clóvis é historiador e
Papai Noel nas horas vagas
cultura@circuitomt.com.br
INCLUSÃO LITERÁRIA
Por Clovis Mattos
Sheila Hue, escritora brasileira, é
coordenadora do Núcleo de
Manuscritos e Autógrafos do Real
Gabinete Português de Leitura (Rio de
Janeiro) e autora do livro “O livro negro
de Thomas Kyd” (FTD, 2011). Este livro
recebeu o Prêmio “Autor Revelação”, em
2012 (FNLIJ).
Fruto de muitas pesquisas, o livro
trata do tema de viagens marítimas no
século XVI. Estudiosa da História do
Brasil e da Literatura Portuguesa, a
autora não se detém apenas em narrar
fatos corriqueiros que aconteciam
durante a travessia pelo imenso
Oceano Atlântico, seu olhar se volta
para a análise de alguns personagens,
entre eles o almirante Sir Thomas
Cavendish, “conhecido por ser um
homem mau e egoísta.”.
As memórias de Thomas Kyd, nas
palavras de Sheila Hue, foram
livremente inspiradas na viagem real da
frota de Thomas Cavendish em 1591
ao Novo Mundo. A narrativa se prende
ao período do reinado de Elizabeth I
(1558-1603), época áurea da marinha
inglesa.
Thomas Kid é o personagem
narrador, o herói desta história/estória
fabulosa. Sem família e sem profissão,
o garoto, ávido por aventuras
marítimas, embarca na frota de Sir
Thomas Cavendish, comandante inglês,
“o navegador mais célebre de seu
país.” Era a segunda vez que o
comandante ia dar a volta ao mundo.
O livro negro de Thomas Kyd traz
ilustrações de Alexandre Camanho que
foram desenvolvidas a partir do texto e
não em cima do texto, conforme
explicação do próprio ilustrador.
Camanho utilizou desenhos de bico de
pena e aquarela. A ilustração retrata
muito bem o ambiente das grandes
navegações – a indumentária dos
personagens, os tipos de navios da
época, os “homens-pássaro”, primeiros
habitantes do Brasil, não faltando o
desenho do mapa com o roteiro da
viagem.
Tudo neste livro é bem apresentado
– diagramação, capa, escolha do
papel, tipo de letra, numeração das
páginas. É livro para deitar o olhar e se
apaixonar, principalmente alunos e
professores de História.
Nasci e resido na cidade do Natal /
RN. 35 anos, enfermeira apaixonada
pelo mar, pela dança e apenas há
pouco mais de dois anos, descobri
minha paixão pela escrita.
Sou poeta.
UMA DAMA À MESA
Por um momento ela se viu ali,
exposta àquele desejo latente, pulsante e
crescente, despertado por aquele toque
inesperado. Chegou a pensar que seria
apenas acaso, algo inocente... Mas o
olhar dele ao invadir o dela, era a
assinatura do convite categórico feito
pela carícia quase indecente sob a
mesa. Suas coxas tornaram-se trêmulas,
e sua respiração ofegante a denunciaria
se sua reputação já não fosse tão
antagônica aos seus pensamentos.
Convidados ao redor da mesa, sua
plateia desavisada, despercebiam a
invasão de sensações sofridas por ela.
Era quase tortura lidar com a voz em sua
mente que sussurrara na esperança de
ser ouvida:
- Mais...
- Nada precisaria ser dito após o
exato momento das luzes se apagarem e
alguém surgir com bolo e velas. Todos se
levantaram para os parabéns, mas eles
não se mexeram. Ante a sensibilidade
percebida por ele, com as atenções dos
presentes, concentradas, decidiu ousar.
Em um toque preciso, separou seus
joelhos cobertos por um vestido
comportado, e ultrapassou as barreiras.
Naquela entrega impensada, ela se
jogou na fantasia. Sentiu como se um
vulcão tivesse entrado em erupção. Entre
gemidos encobertos por palmas e vozes,
rendida à lascividade despertada em sua
mente, uma onda de tremores percorreu
seu corpo, deixando pelo caminho uma
conhecida perturbação causada pela
impossibilidade da provável reação
posterior.
Ao acender das luzes ele sorriu e se
foi sem uma palavra pronunciar. Seu
sorriso ousado e sem vergonha, a fez
corar. Não pelo suposto pudor, mas pelo
fogo que ainda lhe consumia a
imaginação. Não sei dizer se eles se
encontraram depois, mas, ele saiu pela
porta sem olhar pra trás, e ela... Bem, ela
retomou a postura inicial e como sempre
fizera em comemorações como aquela,
adotou a postura da mulher perfeita.
Afinal... Ela é uma dama à mesa.
Gil Façanha
CATEDRAL SEM REFERÊNCIA
É uma pena quando alguém pergunta
sobre os acervos da antiga Catedral do
Bom Jesus. A resposta está no Museu do
Seminário. A modernidade chegou, mas
conservar e zelar pela nossa história são
deveres de todos. Na Igreja Matriz é
lamentável ver as artes-sacras de São
Miguel Arcanjo, Santa Ana, Nossa Senhora
da Piedade, Sagrado Coração de Maria e
Sagrado Coração de Jesus, peças que
davam um toque do antigo e moderno,
eram a verdadeira referência da Catedral.
Muitas vezes vem para cá párocos de
outros estados que nem conhecem a
história, a tradição e fé do nosso povo. É
lamentável apreciar este alto e baixo no
solo cuiabano e a nossa gente ficar em
silêncio. Para onde andam os belos
aparadores de Jacarandá com mármore
de carará? O novo ‘cura’ da Catedral,
Padre Edmilto Santos Mota quer resgatar
as imagens sacras, para que possamos
continuar contando histórias de Cuiabá
através desses acervos que pertencem à
Matriz. Povo sem registro é sinal de que
não existe para as novas gerações.
A SANTA DAS ROSAS
Para quem pensa que Santa
Terezinha do Menino de Jesus não é
conhecida em Cuiabá e em todo o
Estado, se engana! A Santinha a cada
dia vem recebendo novos devotos que
recorrem a ela e conseguem as graças. A
sua Igreja no bairro Praeiro é visitada e
adorada pelos fiéis em Cuiabá. O que
me entristece e foi proibida a doação de
uma relíquia da Santa para essa Igreja.
Oras, Santa Terezinha sempre foi
idolatrada na antiga Catedral do Senhor
Bom de Jesus onde havia até procissão.
Moças de famílias cuiabanas vestiam
roupas de carmelitana em louvor a
Santa. Quem não sabe a história de um
povo de fé deveria ter mais cuidado na
hora de falar. Já dizia Floriano Peixoto:
“cuiabano tem só a cara de besta”. O
pior é pregar o nome da Virgem Maria
como Nossa Senhora do Pantanal,
iludindo o povo, sendo que essa santa
nunca existiu no Calendário Romano. As
nossas Senhoras que são idolatradas
pelo pantaneiro e pescadores são:
Aparecida, Imaculada Conceição e dos
Navegantes. A Santa Terezinha do
Menino de Jesus dará um dia a resposta
para este cidadão que “acha estar
presente na aura humana e a fé das
pessoas”.
CUIABANO I LUSTRE
Ao passarmos pela Rua Barão de
Melgaço no sentido Avenida Miguel Sutil
e Ponte Nova nos deparamos com o
Colégio Estadual de I e II graus que leva
o nome do ilustre cuiabano Dr. José
Barnabé de Mesquita, um homem
intelectual que sempre se preocupou com
uma educação de qualidade – como
está imortalizado em um de seus
discursos “Semeadoras do futuro”. A
escola já não faz jus a este ilustre
homem de suma inteligência e grande
representatividade para nosso Estado
tamanho o descaso e total abandono do
prédio da instituição por parte do poder
público. Quem passa em frente deste
colégio pensa que é uma casa
abandonada. Barnabé de Mesquita foi o
mais profícuo escritor mato-grossense.
Poeta parnasiano, jornalista, historiador,
romancista e contista. Fundou a
Academia Mato-Grossense de Letras e
tornou-se parte em todos os movimentos
culturais do Estado. Era sócio
correspondente do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. Publicou cerca de
31 obras.