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CUIABÁ, 11 A 18 DE JUNHO DE 2014
Fotos:
André Romeu
Camila Ribeiro
É chegada a Copa do Mundo no Brasil. É chegada
a Copa do Mundo em Cuiabá. Pessoas se apressam
para comprar a camisa canarinho, bandeiras do Brasil
encobrem capôs de carros e tremulam nas janelas dos
veículos. O comércio se vestiu com as cores da
bandeira, até mesmo as redes sociais estão mais na
base do ‘verde e amarelo’. É tempo de Copa do
Mundo. É tempo em que o amor à pátria e aos seus
símbolos parece contagiar as pessoas. Nessa hora
talvez, o patriotismo se confunda com a identificação e
paixão dos brasileiros pelo futebol. Como disse Nelson
Rodrigues, “a pátria calça chuteiras”.
Diz o dicionário que patriota não é somente aquele
que ama a pátria, mas sim aquele que busca servi-la.
“Não sei se isso que acontece na Copa do Mundo de
Futebol é patriotismo. A ideia de patriotismo, acredito,
muda com o tempo. Somos mais filhos de um
patriotismo cultural do que necessariamente de um
patriotismo ligado a fronteiras territoriais”, avalia o
professor da Faculdade de Educação Física da UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt.
Não que ele critique o movimento nacionalista
existente durante o maior evento esportivo mundial. No
entanto, o professor defende a tese de que, dependendo
do momento histórico, as pessoas podem configuram
diferentes formas de exercerem seu patriotismo. “Seja
se envolvendo com os outros, consigo mesmo ou com
tudo aquilo que está no seu entorno”, avalia.
Grunennvaldt explica, ainda, que o patriotismo às
vezes é exercitado numa contestação, tal qual ocorreu
nas manifestações de julho do ano passado e que, ainda
que timidamente, se estendem ainda hoje pelo país. Na
avaliação do professor, “talvez este seja o maior legado
que a Copa já tenha deixado ao Brasil: as pessoas terem
tido esse ‘acordamento’. O povo foi às ruas mostrar
sua indignação e eu faço uma leitura positiva dessa
contestação”, diz.
Ainda assim, o professor observa que a forma
como o brasileiro se relaciona com o futebol é muito
diferente de outros lugares. “No Brasil, o futebol seria
talvez a realização primeira do povo. O futebol de certo
modo representa a brasilidade” e para Grunennvaldt
talvez esteja aí a ‘chave’ do ‘patriotismo de chuteiras’.
VERDE, AMARELO, AZUL E BRANCO
Conceitos e críticas à parte, os próximos dias
serão, com certeza, mais verde-amarelos. “Acredito
que as pessoas ficaram um pouco mais desanimadas
aqui na cidade ao verem que muito daquilo que foi
prometido infelizmente não foi cumprido. Mas, mesmo
assim, quando chega o momento da Copa é difícil
torcer contra o Brasil. É a tal história: a gente pode até
falar mal, mas não gostamos quando uma pessoa de
fora critica o Brasil”, comenta a assistente social
Wislene Lima.
Assim como em muitas residências e comércios, ela já
enfeitou a casa com o ‘Brasil’ e a família já veste a camisa
da seleção. “Eu vejo que as coisas estão mudando, as
pessoas estão se preocupando mais com o país e os
exemplos estão aí: as manifestações. Espero que o Brasil
saia vitorioso nesta Copa, dentro e fora de campo”,
completa ela ao garantir que a família já está ‘com o time
em campo’.
Os matizes do patriotismo