CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 11 A 18 DE JUNHODE 2014
POLÊMICA
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LAR DA CRIANÇA
Corpo do menor deve ser exumado
Segundo o delegado, não há coerência nos depoimentos dos funcionários que trabalham no Lar da Criança, por isso acredita ser
necessário um exame para saber os motivos do óbito
Rafaela Souza
O corpo do menor
J.C.O.A. , 9 anos, que
morreu quando estava
internado no Lar da
Criança em abril
passado, deve ser
exumado. Segundo o
delegado da Delegacia
Especializada de Defesa
dos Direitos da Criança e
do Adolescente
(Deddica), Eduardo
Botelho, as oitivas já
estão sendo finalizadas,
porém a conclusão do
inquérito pode ficar
vinculada à exumação.
De acordo com
Botelho, a maioria dos
funcionários já foi
ouvida, contudo não há
coerência nos
depoimentos, dessa
maneira será necessário
pedir o exame para se
certificar acerca dos
motivos de fato que
levaram à morte do
menor.
“De todos os
depoimentos que
recolhemos dos
funcionários a única
coisa que há um acordo
é sobre os problemas
crônicos da criança. Mas
em relação à morte,
nenhum funcionário
soube falar de fato o que
ocorreu. Nem mesmo a
médica do Pronto-
Socorro conseguiu dar
um diagnóstico da
verdadeira causa do
óbito. Dessa maneira,
pode ser possível o
pedido da exumação do
menor para que esse
caso seja esclarecido”,
diz Botelho.
Até a metade deste
mês as oitivas devem ser
fechadas, sendo que
entre os depoentes ainda
resta a ex-coordenadora
do Lar da Criança, Eloina
Okazaki Rodigheri, que
pediu exoneração do
cargo após o início das
investigações.
ENTENDA O CASO
As investigações
iniciadas pela Polícia
Civi l sobre a morte
J.C.O.A. começaram no
início de maio, após
evidências apontarem
divergências nas
informações que tratam
da hora e dos mot ivos
que ocasionaram a
mor te do menor , no dia
24 de abr i l . O menor
estava internado no Lar
da Criança, instituição
mantida pela Secretaria
de Estado de Trabalho e
Assistência Social
(Setas) . As divergências
aparecem entre o laudo
médico do Pronto-
Socor ro (PS) , a
cert idão de óbi to e
depoimentos da direção
da instituição.
De acordo com o
atestado médico, a
criança deu entrada no
PS à 1h45 do dia 24 de
abril , já em estado de
óbito, pois não
apresentava sinais vitais,
estava gelada e com a
pele arroxeada. Além
disso, a médica que
diagnosticou o
falecimento da criança
informou que o horário
exato do óbito é
desconhecido e que nem
mesmo a acompanhante
do menor soube
informar quando ele
começou a apresentar
evidências de
falecimento.
Contudo, a certidão
de óbito do menor
reconhecida em cartório
e assinada por um
segundo médico
apresenta informações
diferentes do laudo
emitido pelo PS. A
primeira divergência
aparece quando a
certidão aponta o horário
da morte como sendo às
3h15 do dia 24 de abril,
quando o laudo indica
que a criança já chegou
morta no PS à 1h45. E
mesmo sem ter realizado
a necropsia, o laudo
informa que as causas da
morte são insuficiência
respiratória,
encefalopatia crônica
progressiva, kernicterus
[pequena lesão cerebral],
surdez e refluxo
gastroesofágico.
O delegado Eduardo Botelho afirma que não há coerência nos depoimentos,
por isso deve ser pedida a exumação do corpo do menor
16 internos fogem por maus-tratos
Camila Ribeiro /
Al ine Coelho
Em meio às
investigações da
Delegacia
Especializada de
Defesa dos Direitos da
Criança e do
Adolescente (Deddica)
e a outras frentes
abertas pelo Ministério
Público Estadual
(MPE) por supostas
ocorrências de maus-
tratos dentro da
instituição, o Lar da
Criança ainda é
conhecido pelas fugas
registradas no abrigo.
A última delas ocorreu
Alvo de investigações por supostas ocorrências de maus-tratos, o Lar ainda registra fugas de menores, a última ocorrida nesta semana
na segunda-feira 9,
conforme noticiou com
exclusividade o site do
Circuito Mato Grosso
.
Dezesseis menores
internos do Lar fugiram
da unidade, informação
que foi confirmada pela
assessoria de imprensa
da Secretaria de Estado
de Assistência Social
(Setas) –responsável
pela unidade. O fato
ocorreu durante uma
troca de plantão de
funcionários, mas todos
os menores já estão
novamente recolhidos à
instituição.
A conselheiros
tutelares, as crianças –
entre 5 e 11 anos –
relataram que eram
vítimas de agressão e
espancamento,
praticados, segundo eles,
pelos servidores do
abrigo. Ainda de acordo
com os internos, as
agressões ocorrem nos
banheiros da instituição,
local onde não estão
instaladas câmeras de
segurança. No momento
em que foram
localizados, eles
estariam, inclusive, com
hematomas pelo corpo.
A reportagem
chegou a ir até a porta
do Lar da Criança e, no
local, ouviu um homem –
não identificado –
relatando aos guardas da
instituição que acabara
de levar menores para
realizar exame de corpo
de delito, procedimento
comum em casos de
fuga.
Esta não é a primeira
vez que o abrigo registra
fugas, mas segundo a
Setas os profissionais
estão passando nesta
semana por um curso de
capacitação para evitar
problemas como este.
“O Lar está com
nova direção e essa
capacitação visa também
um cuidado maior e mais
humanizado com esses
menores”, disse a
assessoria à reportagem.
Ainda de acordo com a
assessoria, as denúncias
serão apuradas. Desde a
última semana, a
psicóloga Marimar
Aparecida Michels, que é
servidora de carreira do
Estado, está à frente da
superintendência do
Lar. Ela assumiu o cargo
em substituição a Eloina
Okazaki Rodigheri, que
pediu exoneração logo
após o início das
investigações sobre a
morte do menor
J.C.O.A. , 9
anos. Marimar já teve
passagem pelo Lar na
gestão Blairo Maggi
(PR) como psicóloga e
foi diretora também da
Creche Espaço Livre,
da Prefeitura de
Cuiabá, na gestão de
Roberto França. Entre
os principais desafios
que ela tem pela frente
está o de enfrentar a
situação turbulenta
pela qual o Lar da
Criança está passando,
inclusive com as
denúncias de maus-
tratos de crianças e
superlotação do local,
conforme o
Circuito
Mato Grosso
vem
noticiando há mais de
um ano.
Fuga de 16 menores expõe fragilidade do Lar da Criança, que já é alvo de denúncias de maus-tratos e superlotação
Foto: Mary Juruna