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PANORAMA
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CUIABÁ, 22 A 28 DE MAIO DE 2014
www.circuitomt.com.br
CUIABÁ
Uma capital de obesos e fumantes
Especialista aponta o alto consumo de cerveja, alimentação gordurosa e falta de locais para a prática de exercícios como fatores determinantes
RafaelaSouza
Uma pesquisa do
Ministério da Saúde (MS)
aponta Cuiabá como a
capital commaior número
de adultos com excesso de
peso e obesos no Brasil,
sendo 55% da população. E
o dado mais alarmante dessa
pesquisa é que após oito
anos da última pesquisa o
aumento de peso da
população pela primeira vez
estagnou no restante do
país, enquanto em Cuiabá
continuou aumentando.
De 2006 a 2013 o
índice de pessoas com
excesso de peso cresceu
constantemente no país,
sendo 5% em sete anos,
estabilizando apenas em
2013, com total de 50,8%.
Em relação ao público
feminino e masculino, a
pesquisa apontou que os
homens são os que mais
estão fora do peso ideal,
correspondendo a 54,7%,
enquanto as mulheres estão
com 47,4%.
Sendo assim, a capital
mato-grossense está 5%
acima da média nacional na
questão de excesso de peso.
Em segundo e terceiro
lugares ficaram Porto Alegre
e Rio de Janeiro, com 54%
e 53% respectivamente. E a
capital commenor índice de
sobrepeso é São Luís
(42%).
Já os níveis da
Na pesquisa,
também foi divulgada a
quant idade de fumantes
no Brasi l , que estava
em 11,3% em 2013,
tendo uma redução de
4,4% se comparado
com 2006. De acordo
com o es tudo, Cuiabá
faz par t e das 10
capi tai s em que mai s se
concent ram os
fumantes . Essa baixa
redução de fumantes
está diretamente l igada
a mudanças de
consumo da população
que começa a recor rer
ao nargui lé e a cigar ros
elet rônicos , segundo a
pneumologista Solange
Montanha.
Para a especial ista
em problemas do
pulmão da Universidade
Federal de Mato Grosso
(UFMT) Solange
Montanha, a redução de
fumantes es tá longe de
alcançar um nível ideal ,
o que prejudica também
as pessoas que
convivem com a pessoa
que t em esse ví c io, os
chamados fumantes
pass ivos . Ent re esses
fumantes a redução foi
de apenas 2,2%.
“O número de
fumantes es tá longe de
se reduzi r
consideravelmente, pois
a indús t r ia de cigar ros
sempre cr ia
mecanismos para i ludi r
o consumidor , como é
o caso do nargui l é ,
cigarro elet rônico e
l ight . Ao cont rár io do
que pensam, eles têm
mais ingredientes
viciantes e
cancer ígenos do que o
cigar ro comum”,
explica.
De acordo com a
especial ista, uma
‘lâmpada’ ut i l izada no
nargui lé equivale a 100
c igar ros , e o c igar ro
eletrônico divulgado
como terapêut ico não
t raz nenhum benef icio
para o consumidor ,
ass im como o c igar ro
l ight não possui menos
efei to cancer ígeno para
os consumidores .
“Esse produtos
estão sendo vendidos
como ‘ legai s’ , o que
tem at raído mui tas
pessoas, pr incipalmente
jovens , que não t inham
o ví c io de fumar . E a
preocupação f ica em
relação à saúde, pois
hoj e as pessoas com
doenças crônicas não
t ransmissíveis
cor respondem a 72,8%
dos pacientes atendidos
no SUS”, completa
Solange Montanha.
Redução de fumantes é baixa
Alto consumo de cerveja
favorece a obesidade
Um dado que o
cuiabano também não
deve ser orgulhar se
refere ao fato de o
município estar em
primeiro lugar entre as
capitais que mais
consome cerveja no
Centro-Oeste. A
pesquisa realizada pela
Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp)
mostrou que o perfil
dos usuários
compreende
principalmente jovens
entre 18 e 24 anos que
consomem 61% de
cerveja ou chope.
Apesar de a
pesquisa ter sido
realizada em 2008, os
reflexos do alto
consumo de álcool são
por ela diagnosticados,
apontando os cuiabanos
com a medida fora do
ideal no país.
Mas o alto índice
de consumo de cerveja
também se reflete em
nível nacional. O Brasil
supera a média mundial
e apresenta taxas
superiores a mais de
140 países, segundo a
Organização Mundial da
Saúde (OMS).
A OMS avaliou
dados de 194 países e
chegou à conclusão
que o consumo médio
mundial para pessoas
acima de 15 anos é de
6,2 litros por ano. No
caso do Brasil, os
dados apontam que o
consumo médio é de
8,7 litros por pessoa
por ano. Contudo,
esse volume caiu entre
2003 e 2010: há dez
anos, a taxa era de 9,8
litros por pessoa.
O especialista
Carlos Feet explica
que o consumo de
cerveja está
diretamente ligado ao
peso, principalmente
quando o público
analisado é o
masculino. “Os
homens consomem
muito mais cerveja que
as mulheres, pois
estão sempre reunidos
no bar, lugar este onde
o consumo é maior, ou
então no churrasco de
domingo, onde o
consumo dura o dia
inteiro”, diz.
Além disso, o
especialista destaca
que as mulheres
sempre tiveram mais
atenção com o corpo e
que por isso recorrem
mais às academias.
Problemas incentivam exercícios
Muitas pessoas saem do
sedentarismo somente depois
de afetadas por alguma
doença e o corpo começa a
pedir socorro. EmCuiabá, os
locais mais procurados para
quem quer mudar a rotina é a
academia, mas quem tem
acesso a parques, como o
Mãe Bonifácia, garante que o
ambiente é bemmelhor.
Entre os adeptos está a
enfermeiraKellenCristina da
Silva, 31 anos, que há uma
semana começou a praticar
exercícios. Ela conta que a
decisão foi tomada após
sentir dificuldades para
trabalhar.
“Eu já tentei ir algumas
vezes à academia, mas sentia
muita dor no corpo e logo
desistia. Dessa vez decidi
caminhar no parque e seguir
o ritmo do meu corpo, mas
sempre forçando um pouco.
E já comecei a notar o
resultado, pois no primeiro
dia só dei duas voltas, mas
agora já consigo caminhar
por 10 voltas sem sentir
tanto cansaço”, relata a
enfermeira.
Outro que resolveu se
exercitar foi o dentista Celso
Luiz da Silva, 59 anos. Há
dois anos praticando
caminhada todo dia, o
dentista contou que só
começou a praticar
atividades físicas após um
infarto, e que se não fosse
isso, com certeza ainda
estaria no grupo dos
sedentários.
“Só decidi fazer
caminhada depois de ouvir
do médico que se eu
continuasse sedentário, com
certeza eu iria morrer. Então
não tive alternativa, comecei
a me exercitar e hoje vejo
que melhoroumuito a minha
qualidade de vida, pois
consigo aproveitar mais o
meu dia e fazer meu trabalho
commais disposição, e o
melhor de tudo: não tive mais
sintoma de infarto”, conta
empolgado.
obesidade ainda são mais
graves. Cuiabá ficou no
topo da lista, com 22%, e na
outra ponta, São Luís
permanece no último lugar,
com 13% de pessoas
obesas. A média de pessoas
com obesidade no Brasil é
de 17,5%.
Especialista no assunto,
o professor da Universidade
Federal de Mato Grosso
(UFMT) Carlos Fett explica
que dois motivos
influenciam esse triste
quadro. O primeiro está
relacionado ao ambiente e ao
tipo de alimentação que é
consumido, geralmente
muito calórica. E o segundo
é a falta de espaços para a
prática de exercícios
físicos.
“Todo o tipo de
alimentação oferecida na
região é baseado em carne
que contém gordura, além
disso, é a capital com maior
consumo proporcional de
cerveja, o que leva as
pessoas a comerem
aperitivos gordurosos. E
para piorar essa situação,
Cuiabá é uma cidade pouco
convidativa para a prática de
exercícios físicos”, destaca
Fett.
Para o professor, a
falta da prática de exercícios
está relacionada também à
falta de gestão pública, que
não investe em estrutura das
calçadas e espaços de lazer,
como parques, academias
ao ar livre, entre outros.
E esse sedentarismo
leva ao consumo sem
controle de alimentos. Além
disso, outra questão
levantada pelo especialista
chama atenção: a incidência
de crianças que também já
fazem parte dessa população
acima do peso.
“Quanto mais exercício
físico uma pessoa pratica,
mas ela procura cuidar da
alimentação, é um ciclo.
Contudo, com a vida
sedentária e com a má
alimentação dos adultos, os
filhos acabam também
consumindo o mesmo tipo
de comida, o que tem levado
crianças de 5 anos a
apresentar doenças
cardíacas, o que há alguns
anos praticamente não
existia”, acrescenta Carlos
Fett. A pesquisa mostra
que em relação à prática de
exercícios físicos, Cuiabá
ocupa a 16% posição entre
as capitais.
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta Cuiabá
como a cidade com mais adultos com excesso de peso e obesos
De acordo com o especialista
em obesidade Carlos Fett, a
falta de gestão pública
dificulta a prática de
exercícios físicos
Um dos principais fatores que
favorecem a obesidade em Cuiabá
é o alto consumo de cerveja
A enfermeira Kellen Cristina confessa que a prática de
exercícios só começou após sentir forte cansaço