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CIRCUITOMATOGROSSO
CUIABÁ, 1 A 7 DE NOVEMBRO DE 2012
ECONOMIA
P
G
4
APAGÃO
Sobram vagas, falta qualificação
Empregador está inclusive fazendo mutirões em grandes bairros na busca de pessoas qualificadas.
Por Mayla Miranda. Fotos Pedro Alves
Procura-se mão de
obra qualificada para
trabalhar em Cuiabá.
Garantimos cursos de
qualificação gratuitos,
incluindo auxílio-
alimentação, vale-
transporte, diploma de
conclusão e vaga de
emprego imediata”. Esta é
a situação do empregador
hoje na capital, que está
inclusive fazendo mutirões
e feirões em busca de
mão de obra qualificada.
Para isso utiliza recursos
como parcerias com
instituições de ensino e
social, carro de som,
panfletos, divulgação na
mídia e nas redes sociais.
Apesar de a cidade estar
passando por um grande
aquecimento no setor da
construção civil e de
grande parte das vagas
estarem voltadas a esta
área, o comércio e os
setores de saúde e serviço
também sofrem com a
falta de mão de obra.
Segundo o
superintendente regional
de Trabalho e Emprego,
Valdiney de Arruda, os
outros setores da cidade
não estão conseguindo
acompanhar o
crescimento do setor
imobiliário por não terem
condições de expandir o
comércio principalmente
pela falta de funcionários.
Para tentar diminuir a
busca do empresário e
evitar uma migração de
mão de obra de outros
estados retirando a
oportunidade do mato-
grossense em se firmar no
comércio local, a
Secretaria Municipal de
Assistência Social e
Desenvolvimento Humano,
a Secretaria Extraordinária
da Copa do Mundo, o
Sistema S, o Sine e outras
entidades realizam uma
parceria pioneira para
capacitar e levar esta mão
de obra para os postos de
trabalho.
Estamos levando as
oportunidades até aos
bairros de Cuiabá, para
que todos possam se
incluir neste novo cenário
que a cidade vem
desenvolvendo. Este
Se comparado a
países europeus, o Brasil
confirma a triste realidade
das más condições de
educação do país.
Segundo informações do
Ministério do Trabalho,
um estudante brasileiro
tem em média 7,5 anos
de escolaridade,
enquanto os americanos
têm uma média de 12
anos. Apenas 11% da
população nacional têm
Falta de qualificação
impede desenvolvimento
Mato Grosso ocupa o 9º lugar no saldo acumulado do ano na
geração de empregos até o mês de setembro de 2012, ficando à
frente de capitais como Curitiba - PR (10º) e João Pessoa - PB (11º).
Os dados foram divulgados pelo CAGED – Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego.
Com todo o cenário promissor em todo o país em relação a vagas
de emprego, fica mais evidente a falta de capacitação do brasileiro.
E este problema só é destacado no mercado de trabalho, mas
acontece desde a base de formação da população.
MT é o 9º em geração de emprego
Apenas 11% têm nível
superior em todo país
diploma universitário,
quase a mesma
proporção de 30 anos
atrás, o que evidencia a
falta de investimento do
governo na formação da
população.
Outro dado
alarmante é que só 35%
dos estudantes do ensino
médio são
verdadeiramente
alfabetizados; os demais
são analfabetos
funcionais (pessoas que
sabem decifrar as letras,
mas não conseguem
compreender o sentido da
informação).
Nas grandes
empresas brasileiras só
13%
da força de trabalho
têm nível superior. Nas
pequenas empresas a
situação é ainda mais
grave: o número de
funcionários graduados
não chega a 7%.
Com este cenário de
desqualificação, o país
também não consegue
investir na inovação e no
desenvolvimento de
tecnologia própria,
ficando dependente das
grandes potências
tecnológicas. Toda esta
realidade do mercado de
trabalho leva o brasileiro
a uma baixa
produtividade. Hoje um
trabalhador brasileiro
gera perto de 22 mil
dólares de riqueza por
ano, já o americano gera
cerca de 100 mil dólares,
ou seja, são necessários
cinco brasileiros para
produzir a mesma riqueza
de um americano.
Levando em conta que no
Brasil o número de folgas
e feriados é muito maior
do que nos Estados
Unidos, a carga horária é
ainda maior, por conta de
o brasileiro trabalhar mais
horas por dia.
Neste cenário fica
evidente que a falta de
investimentos na educação
gera uma reação em
cadeia, onde não há mão
de obra qualificada para
ser contratada. O
brasileiro não consegue se
qualificar por estar
inserido em uma má
educação de base e más
condições de vida, tendo
que ingressar no mercado
momento histórico deve
ser ainda mais acentuado,
por isso a necessidade de
que a população
participe”, pontuou
Valdiney de Arruda.
Toda esta
movimentação em busca
de mão de obra deve ser
ainda mais acentuada nos
de trabalho antes de ser
preparado para um cargo
maior, gerando um círculo
vicioso no mercado
nacional. Estados fora do
eixo Rio - São Paulo
sofrem ainda mais com a
falta de investimentos e de
parcerias com a iniciativa
privada, o que evidencia e
potencializa a atual
situação de Mato Grosso.
próximos meses,
principalmente com a
chegada do Natal,
quando o comércio
precisa ainda de mais
trabalhadores.
Somente neste ano
cerca de 3.400
trabalhadores foram
inseridos nas 13.293
vagas oferecidas no Sine,
em Cuiabá, o que
representou uma sobra de
cerca de 10 mil postos e
82,4%
de desempregados
de um total de 19.258
inscritos. A situação é
ainda mais grave em
Várzea Grande que
também recebe obras de
preparação para a Copa
e, por estar tão próxima
da capital, acompanha o
aquecimento do comércio.
Dos 8.083 inscritos no
Sine de Várzea Grande,
94,5%
ainda aguardam
uma oportunidade,
alcançada por apenas
441
trabalhadores dentro
das 2.813 vagas
ofertadas pelas empresas,
que permanecem vazias
ou foram ocupadas por
profissionais de outras
regiões.
Como Francoas
França Sampaio, que veio
de Corumbá MS em busca
de uma colocação na
capital. Há mais de seis
meses desempregado, o
torneiro mecânico por
formação prática é
candidato a uma vaga de
auxiliar de pedreiro nas
obras da Copa. “Estava
muito difícil de trabalhar
na minha área, então,
quando eu fiquei sabendo
que estavam contratando
aqui e ainda ensinando
uma nova profissão,
decidi tentar. Agora já
consegui várias entrevistas
e ainda esta semana
começo a trabalhar”.
Com as qualificações,
o trabalhador do estado
garante uma melhor
colocação nos grandes
números de vagas
disponíveis. Dona Elaine
Crestani Botoni é um
grande exemplo disso. Ela
conta que entrou no ramo
da construção após ficar
sozinha com um filho
pequeno para criar.
Depois de seis cursos
realizados no Sesi, entre
eles um de revestimento
cerâmico, ela conseguiu
uma vaga bem
remunerada.
Hoje eu pude
escolher onde eu quero
trabalhar e também pude
cobrar um pouco mais
pelo trabalho, já que sei
atuar em diversas
modalidades da área”,
diz, muito feliz. Ela ainda
garante que não vai parar
de estudar para continuar
crescendo na profissão.
Profissionais que
atuam no ramo de
maneira informal também
aproveitam a
oportunidade de atuar
com garantias de
segurança no trabalho,
carteira assinada, 13º
salário e todos os
benefícios de um
profissional regularizado.
Como Edivilson de Souza
Benevites, que trabalha no
ramo da construção há
mais de 10 anos e agora
já está com a carteira
assinada.
Trabalhar sem
carteira assinada é difícil,
muitas vezes você acaba
nem recebendo pelo
trabalho já realizado.
Agora eu estou muito feliz
regularizado, sem falar
que posso comprar as
coisas sem susto de não
ter dinheiro para pagar”.
Animado, ele ainda
garante que a
remuneração no trabalho
é bem melhor do que
quando atuava por conta
própria.
Nos locais de captação de mão de obra, o
trabalhador já realiza entrevistas e exames admissionais
para agilizar o processo de contratação
Agora de carteira assinada,
Edivilson de Souza Benevites
já pensa no próximo passo:
subir de cargo na empresa
em que trabalha
Para Elaine Crestani Botoni, a
Copa trousse grandes
melhorias na sua vida
profissional; hoje ela pode até
escolher a área em que vai atuar
Dentre os profissionais mais procurados no mercado hoje em Cuiabá, estão os pedreiros
e seus auxiliares; a remuneração desses profissionais praticamente dobrou